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Índia x Paquistão: como começou o conflito entre os dois países, que têm armas nucleares

Choques entre países que eram de domínio britânico agravam tensão na região da Caxemira, predominantemente muçulmana

Fumaça sobe após um projétil de artilharia atingir a principal cidade do distrito de Poonch, na região de Jammu, na Índia (Punit PARANJPE / AFP)

Fumaça sobe após um projétil de artilharia atingir a principal cidade do distrito de Poonch, na região de Jammu, na Índia (Punit PARANJPE / AFP)

Publicado em 7 de maio de 2025 às 17h22.

Última atualização em 7 de maio de 2025 às 17h53.

Recentemente, conflitos entre as potências nucleares Índia e Paquistão têm gerado preocupação para a comunidade internacional, com possibilidade de culminar em uma guerra. Mas, os choques entre os países começaram em 1947 e continuam até hoje, com a região da Caxemira como centro da disputa. O conflito tem raízes que remontam à criação de dois países separados, com base em diferenças religiosas.

A origem da rivalidade remonta à independência do Império Britânico, em 15 de agosto de 1947, quando o território da Índia foi dividido para criar dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

Esta partição resultou em uma migração forçada de milhões de pessoas e desencadeou uma série de massacres, com um saldo de cerca de 1 milhão de mortos.

O território da Caxemira, de maioria muçulmana, foi anexado à Índia, o que gerou um conflito imediato entre os dois países e levou à primeira guerra indo-paquistanesa, em 1947-48.

Luta pela Caxemira

Caxemira: uma província disputada há décadas (Reprodução / redes sociais)

A divisão do território não foi feita de forma cuidadosa, e as consequências dessa divisão abrupta ainda são sentidas até hoje. O Paquistão e a Índia disputam a soberania da Caxemira desde a independência. Após a primeira guerra, em 1947-48, foi estabelecida uma linha de controle que divide a região: 37% sob controle paquistanês e 63% sob controle indiano.

A ONU solicitou um referendo sobre a autodeterminação da região, mas a Índia se recusou a segui-lo.

Em 1965, outra guerra eclodiu entre os dois países pela Caxemira. Embora o conflito tenha sido encerrado por um cessar-fogo mediado pela União Soviética, a disputa continuou ao longo das décadas seguintes.

Em 1971, o Paquistão enfrentou um conflito interno em Bengala Oriental, que levou à criação de Bangladesh. No entanto, a questão da Caxemira permaneceu no centro das relações tensas entre Índia e Paquistão.

Nos anos seguintes, o Paquistão foi acusado de apoiar insurgentes que lutavam pela independência ou pela anexação da Caxemira à sua nação. Isso levou a um aumento das hostilidades na década de 1980, com mais de 500 mil soldados indianos sendo posicionados na região e milhares de mortes decorrentes dos conflitos.

Caxemira como foco de tensões nucleares

Em 1998, ambos os países realizaram testes nucleares, elevando ainda mais a tensão na região. O conflito de Cargil, em 1999, entre Índia e Paquistão, foi um dos episódios mais graves, com mais de mil mortos. Em 2001, ataques terroristas em território indiano, atribuídos a grupos com base no Paquistão, colocaram os dois países à beira de uma nova guerra, mas, novamente, a diplomacia conseguiu evitar um conflito mais violento.

Em 2008, ataques jihadistas em Mumbai, com 166 mortos, reabalaram as relações, e a Índia culpou diretamente o Paquistão pelo incidente. Embora houvesse tentativas de diálogo, como as visitas do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a 2015, as tensões continuaram a aumentar. Em 2019, ataques a paramilitares indianos na Caxemira elevaram a violência, com ambos os lados respondendo com bombardeios e derrubando aviões.

Panorama atual e a busca pela paz

Membros da União de Riquixás Awami queimam uma faixa com imagens da bandeira nacional indiana e do primeiro-ministro Narendra Modi durante um protesto anti-Índia em Lahore, em abril. (AFP)

Em 2019, o governo indiano revogou o status semiautônomo da região, exacerbando ainda mais as tensões. O Paquistão, que também possui armas nucleares, continua a reivindicar o controle da região.

Recentemente, no final de abril deste ano, o Paquistão adotou uma série de medidas em resposta a um ataque na região da Caxemira, que resultou na morte de 26 pessoas, a maioria turistas.

Entre as ações, o governo paquistanês anunciou o cancelamento de vistos para cidadãos indianos, a suspensão de todo comércio bilateral e o fechamento do espaço aéreo para aeronaves operadas pela Índia.

O ataque foi até então o mais mortal em anos contra civis na Caxemira. Embora o governo indiano tenha responsabilizado grupos militantes com base no Paquistão, não apresentou evidências conclusivas ligando diretamente o país ao ataque. O Paquistão, por sua vez, negou envolvimento, afirmando que o ataque foi reivindicado por um grupo até então desconhecido, a Resistência da Caxemira.

Suspensão de tratado de água

Além das medidas retaliatórias, o Paquistão também emitiu um alerta à Índia sobre o possível desvio das águas do rio Indo, após a Índia suspender o Tratado das Águas do Indo. O Paquistão classificou qualquer tentativa de cortar o fluxo das águas do rio como um "ato de guerra".

O Tratado das Águas do Indo, firmado em 1960, regula o uso compartilhado das águas dos rios Indo, Jhelum e Chenab entre os dois países. Sua suspensão unilateral pela Índia gerou um clima de incerteza, especialmente entre estados ribeirinhos do Paquistão, que dependem dos recursos hídricos.

*Com AFP e O Globo.

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