Veículo incendiado por protestos em Leh, em 25 de setembro (Tauseef Mustafa/AFP)
Repórter
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 14h39.
Última atualização em 25 de setembro de 2025 às 15h14.
A região de Ladakh, na Índia, perto da fronteira com a China, foi palco de violentas manifestações na última quarta-feira 24, protagonizadas por jovens frustrados da geração Z.
A escalada vem após uma greve de fome de 15 dias, na qual ativistas protestavam contra o governo do premiê Narendra Modi.
Entre as demandas está a exigência de um estado de soberania e autogovernança em Ladakh. Também protestam por melhores oportunidades de trabalho. Devido a diferenças de casta e etnia, esses grupos se encontram entre os mais desfavorecidos da Índia.
Após a deterioração no estado de saúde de dois manifestantes em greve de fome, de 62 e 71 anos, os protestos se tornaram violentos.
Ativista climático considerado o rosto do protesto, Sonam Wangchuk – em greve de fome há 15 dias – disse em entrevista à mídia indiana que as escalações se deveram à “raiva da juventude” e são uma “revolução da Gen Z”:
“Me entristece informar que houve vandalismo em Leh [capital da região de Ladakh] durante os protestos. Muitos escritórios do governo e veículos da polícia foram vandalizados e incendiados. Um bandh [tipo de protesto] foi anunciado em Leh, mas a juventude veio em força. Essa foi a raiva da juventude, uma revolução da Gen Z”, disse Wangchuk, à mídia local.
O ativista disse ainda que os atrasos de Modi para iniciar negociações com a região fizeram com que a juventude acreditasse que “a paz não está funcionando”.
Após idosos em greve de fome terem sido levados às pressas para hospitais, jovens avançaram além da área onde ocorriam os protestos, no Parque Memorial dos Mártires em Leh.
Indo em direção a prédios governamentais e à sede local do BJP, maior partido político da Índia, ao qual o premiê Modi pertence, entraram em confronto com a polícia.
Como resultado, quatro manifestantes foram mortos, e um está em estado crítico. Dúzias foram feridos.
Em entrevista ao Al-Jazeera, Jigmat Paljor, coordenador do órgão que originalmente organizou os protestos, disse que este foi o dia mais sangrento na história de Ladakh.
"Martirizaram nossos jovens – o público geral que estava nas ruas para apoiar as demandas da greve [...] O povo estava cansado após cinco anos de promessas falsas pelo governo, e as pessoas foram tomadas pela raiva.”
Em comunicado oficial, o governo indiano disse que os conflitos com uma “multidão indisciplinada” deixaram mais de 30 oficiais de defesa feridos e que a polícia “teve de recorrer ao uso de armas em legítima defesa”, causando “algumas baixas”.
Além disso, o governo diz que manifestantes foram incitados por Wangchuk, argumentando que o ativista estaria fazendo menções provocativas a protestos semelhantes àqueles da Primavera Árabe e referências aos protestos da Gen Z no Nepal.
Em 2019, o governo Modi revogou o estado de semiautonomia que a região da Caxemira tinha sob a constituição do país.
Separada em três regiões – o Vale da Caxemira, Jammu e Ladakh –, apenas as duas primeiras receberam nova legislação e a autorização para eleger seus próprios líderes para representar seus interesses em Nova Délhi.
Ladakh não possui nenhum desses benefícios.
Sob administração de burocratas, mais de 90% dos habitantes da região são considerados “Scheduled Tribes”. As demandas dos manifestantes giram em torno da autogovernança e soberania prometidas aos “Scheduled Tribes” pela constituição.
Devido a separação da região da Caxemira em 2019, a maioria dos empregos acabou nos outros territórios.“[Os jovens manifestantes] estiveram desempregados por cinco anos, e Ladakh não está sendo providenciada com suas proteções constitucionais. Essa é a receita para a agitação social: mantenha os jovens desempregados e os prive de seus direitos democráticos”, diz Wingchuk.