Mulher indiana: feticídio feminino permanece uma prática comum em partes da Índia (Mansi Thapliyal/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2014 às 12h59.
Nova Délhi - O declínio no número de garotas indianas, causado pelo aborto ilegal de milhões de bebês, alcançou “proporções de emergência”, motivando um aumento de crimes como sequestros e tráfico de pessoas, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira.
Apesar de leis que proíbem pais de realizar testes para determinar o gênero de seus filhos ainda em gestação, o feticídio feminino permanece uma prática comum em partes da Índia, onde a preferência por filhos homens é muito maior.
“É tragicamente irônico que o mesmo gênero que cria a vida tenha negado o direito de nascer”, disse Lakshmi Puri, vice-diretora-executiva da ONU Mulheres, durante lançamento de um novo estudo sobre proporções de sexos e seleção orientada por gênero.
A cultura da Índia, tradicionalmente dominada por homens, vê garotos como ativos - provedores que irão sustentar a família, carregar o nome da família, e realizar os últimos rituais para seus pais, algo importante em muitas religiões.
As garotas, no entanto, são frequentemente vistas como um passivo, e suas famílias precisam buscar consideráveis recursos para pagar o dote para que tenham um casamento desejável.
Em uma cultura que enxerga o sexo antes do casamento, por parte de uma mulher, como uma vergonha para a família, os pais também se preocupam com a segurança delas.
O censo de 2011 da Índia mostrou que, embora a proporção geral entre mulheres e homens tenha melhorado marginalmente desde o último censo, realizado há uma década, nasceram menos meninas do que meninos, e o número de garotas com menos de 6 anos caiu pela quinta década seguida.
“A aguda queda da proporção dos sexos na Índia alcançou proporções de emergência, e ação urgente deve ser tomada para aliviar essa crise”, disse Puri.
Um estudo de maio de 2011 publicado no periódico de medicina britânico Lancet descobriu que houve aborto de cerca de 12 milhões de fetos do sexo feminino nas últimas três décadas, resultando em uma proporção de 918 garotas para cada 1.000 garotos em 2011, ante 962 em 1981.
Ativistas culpam a ultrassonografia pelo aumento nos abortos, dizendo que a tecnologia é utilizada para descobrir o sexo dos filhos, o que é proibido. Mas é um crime difícil de fiscalizar, dizem eles, resultando em poucas condenações. Houve 221 casos de feticídio registrados em 2013, enquanto em 2012 eram 210, segundo a Agência Nacional de Registro de Crimes.