Pessoas em um dia quente de verão em Nova Délhi, na Índia (Sanchit Khanna/Hindustan Times/Getty Images)
AFP
Publicado em 30 de abril de 2022 às 14h59.
Uma onda de calor sem precedentes afeta a Índia e o Paquistão com temperaturas de quase 50°C, causando cortes de eletricidade e escassez de água para milhões de pessoas que sofrerão essa situação com cada vez mais frequência no futuro, de acordo com especialistas em mudanças climáticas.
A temperatura em Nova Délhi se aproximou de 46 graus Celsius na quinta-feira. A onda de calor extremo afetará o noroeste e o centro da Índia por cinco dias e o leste até o fim de semana, de acordo com o departamento meteorológico indiano.
"É a primeira vez que vejo tanto calor em abril", disse Dara Singh, 65, que administra uma pequena loja em Nova Délhi. No Rajastão, no noroeste da Índia, no oeste de Gujarat e no sul de Andhra Pradesh, cortes de energia foram impostos nas fábricas para reduzir o consumo.
De acordo com a imprensa, as principais usinas estão enfrentando escassez de carvão. Várias regiões deste país de 1,4 bilhão de pessoas têm uma diminuição no abastecimento de água, que se agravará até as chuvas de monção caírem em junho e julho. Em março, Nova Délhi registrou 40,1 graus, a temperatura mais alta para aquele mês desde 1946.
Ondas de calor mataram mais de 6.500 pessoas na Índia desde 2010. Os cientistas dizem que devido às mudanças climáticas elas estão se tornando mais frequentes, mas também mais severas.
"As mudanças climáticas estão tornando as altas temperaturas mais prováveis na Índia", disse Mariam Zachariah, do Instituto Grantham do Imperial College de Londres. "Antes das atividades humanas aumentarem as temperaturas globais, calor como o que atingiu a Índia no início deste mês só era observado uma vez a cada 50 anos", acrescentou.
"Agora podemos esperar temperaturas tão altas cerca de uma vez a cada quatro anos", alertou.
Nesta quinta-feira, os bombeiros indianos combatiam um incêndio que começou há três dias em um dos enormes aterros sanitários de Nova Délhi.
Quatro brigadas lutavam contra o fogo no local, de difícil acesso, informou à AFP uma autoridade dos bombeiros da capital, que acrescentou que o fogo poderá estar controlado até sexta-feira.
A megacidade de mais de 20 milhões de habitantes carece de infraestrutura moderna para tratar as 12 mil toneladas de resíduos que produz diariamente.
Três outros incêndios ocorreram em menos de um mês no maior lixão da capital, Ghazipur, uma montanha de lixo de 65 metros.
O Paquistão também sofre uma onda de calor extremo que durará até a próxima semana. As temperaturas devem ficar 8 graus acima do normal em algumas partes do país, chegando a 48 graus em certas áreas, de acordo com a Sociedade Meteorológica do Paquistão.
Os agricultores terão de gerir o abastecimento de água neste país onde a agricultura, a base da economia, emprega cerca de 40% da força de trabalho total.
"A saúde pública e a agricultura do país enfrentarão sérias ameaças pelas temperaturas extremas deste ano", disse Sherry Rehman, ministra de Mudanças Climáticas.
O mês de março foi o mais quente já registrado desde 1961, de acordo com o Escritório Meteorológico do Paquistão.
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