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Independência da NHK é colocada em xeque no Japão

O prestígio da NHK não passa por seu melhor momento, após polêmicas declarações de seu novo presidente e a recente renúncia de um veterano apresentador

Novo presidente da NHK, Katsuto Momii: declarações sobre a necessidade de que a emissora siga os princípios do governo desencadearam uma tempestade (Kyodo/Reuters)

Novo presidente da NHK, Katsuto Momii: declarações sobre a necessidade de que a emissora siga os princípios do governo desencadearam uma tempestade (Kyodo/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2014 às 10h20.

Tóquio - O prestígio da "NHK", a rede pública japonesa de rádio e televisão, não passa por seu melhor momento.

Polêmicas declarações de seu novo presidente e a recente renúncia de um veterano apresentador fizeram com que sua independência ficasse gravemente abalada.

No dia 25 de dezembro, o novo presidente da "NHK", Katsuto Momii, falou pela primeira vez com a imprensa do país desde sua nomeação, ocorrida no mesmo mês, e não poderia ter começado pior.

Suas declarações sobre a necessidade de que a emissora pública siga os princípios do governo conservador sobre a história do Japão desencadearam uma verdadeira tempestade, inclusive em nível internacional.

Poucos dias depois, o veterano radialista e economista Toru Nakakita pediu demissão após 20 anos na casa depois que a direção da "NHK" lhe pediu para não fazer nenhum comentário sobre energia nuclear enquanto a campanha eleitoral para governador de Tóquio estivesse acontecendo.

A advertência chegou depois de Nakakita ter incluído no roteiro de seu programa em 30 de janeiro a seguinte frase: "os danos que deverão ser pagos após um acidente nuclear são extremamente altos".

Esta não é a primeira vez que as relações entre a "NHK" e o governo são motivo de polêmica. O novo presidente foi eleito depois que seu antecessor renunciou por aparentes desavenças com o Executivo.

Os meios de comunicação japoneses afirmaram que a causa da renúncia foi a nomeação, por parte do parlamento japonês, de quatro novos diretores propostos pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe, e ideologicamente muito próximos a ele.

Já era conhecido o desconforto entre membros do partido governante com a cobertura da televisão pública de alguns assuntos como a energia nuclear, o envio de aviões militares Osprey pelo exército dos Estados Unidos em território japonês, e as disputas territoriais com a China e Coreia do Sul.

Em sua primeira aparição, o novo presidente deixou claro que a linha da emissora pública não continuaria seguindo esse rumo.


"Quando o governo diz direita, nós não podemos dizer esquerda", explicou Momii sobre os conteúdos do canal internacional.

O novo responsável se referiu diretamente à postura de Tóquio nas disputas territoriais que o Japão tem com países vizinhos: com a China por causa das ilhas Senkaku e com a Coreia do Sul pelo arquipélago de Dokdo.

Embora depois tenha pedido desculpas, Momii mergulhou também em um dos assuntos mais conflituosos nas relações do Japão com os países da região e chegou a justificar o uso das chamadas "mulheres de conforto" para os soldados japoneses durante a época colonial na China e na Coreia.

As críticas da oposição e outros meios de comunicação não pararam desde então. Em um recente editorial, o jornal "Japan Times" disse que o novo presidente não parece entender o sistema de financeiro da "NHK", que da mesma forma que outras redes estatais, como a "BBC", recebe a maior parte de sua renda através de uma cota paga pelos cidadãos, não o governo.

A publicação lembra que esse sistema "garante sua independência, neutralidade e objetividade".

Já o jornal "Asahi" pediu também em um editorial que a "NHK" sirva aos interesses dos cidadãos que a financiam, e não os do governo.

"Se seus programas forem vistos como propaganda governamental, a "NHK" perderá sua credibilidade com a audiência no exterior", diz o texto.

O debate sobre a independência da emissora pública no Japão coincide com a recente aprovação de uma polêmica lei de segredos oficiais que duplica as penas para quem vazar informações consideradas confidenciais.

A nova legislação, que eleva as penas até 10 anos de prisão, despertou uma enorme rejeição no Japão, já que é considera como uma tentativa de minimizar a liberdade de expressão e o direito à informação.

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