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Imprensa venezuelana luta para sobreviver, sufocada por medidas de Maduro

Sufocados pela crise e por reformas econômicas, dezenas de veículos de comunicação venezuelanos demitiram pessoal, reduziram sua oferta ou acabaram fechando

Fundado há 75 anos, El Nacional chegou a ter cinco cadernos com 72 páginas no total. Hoje, tem 16 páginas (Justin Sullivan/Getty Images/Getty Images)

Fundado há 75 anos, El Nacional chegou a ter cinco cadernos com 72 páginas no total. Hoje, tem 16 páginas (Justin Sullivan/Getty Images/Getty Images)

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AFP

Publicado em 30 de outubro de 2018 às 16h23.

Rodeados de cadeiras vazias, um punhado de jornalistas tenta a duras penas manter viva a redação do emblemático jornal El Nacional. Sufocados pela crise e por reformas econômicas, dezenas de veículos de comunicação venezuelanos demitiram pessoal, reduziram sua oferta ou acabaram fechando.

Fundado há 75 anos, El Nacional chegou a ter cinco cadernos com 72 páginas no total e vários suplementos. Hoje, tem apenas 16 páginas e limitou sua circulação a cinco dias por semana devido à falta de papel.

"Até agosto deste ano, mais de 20 jornais fecharam", 11 deles após um pacote de medidas econômicas lançado pelo governo este mês, disse à AFP Carlos Correa, diretor da ONG Espacio Público, que promove a liberdade de expressão.

Várias emissoras de rádio, afirmou Correa, reduziram pessoal e programas informativos, recorrendo aos musicais. "Diminuiu a oferta do debate público", acrescentou.

Tendo como pano de fundo uma hiperinflação voraz, o presidente Nicolás Maduro incluiu em seu plano econômico um aumento de 3.400% do salário mínimo a partir de 1º de setembro, encurralando empresas e meios de comunicação, sem condições de assumi-lo.

Embora o governo tenha se oferecido para custear a diferença do aumento por três meses, vários meios de comunicação descartaram o subsídio para evitar pressões sobre linhas editoriais. Outros, como El Universal e Últimas Noticias, aceitaram, apesar dos protestos ou de queixas de jornalistas.

Correa advertiu que depois dos três meses de subsídio, terão dificuldades em sobreviver.

"Muito 'comunistamente'"

El Nacional pagou com dificuldade o aumento de salário de seus cada vez mais escassos funcionários, sufocados pela crise, disse à AFP Argenis Martínez, seu vice-presidente editorial.

O jornal rejeitou o subsídio do governo para manter sua linha opositora, mas seus funcionários ganham o salário mínimo, 1.800 bolívares (10 dólares no mercado negro), que cobre apenas 8% da cesta básica de alimentos calculada pelo Centro de Documentação e Análise da Federação Venezuelana de Professores.

Os operários da rotativa fecharam o jornal à força durante uma semana em setembro, exigindo a fixação de salários em função dos anos de experiência, disse à AFP o sindicalista Johny Paulo.

O aumento decretado pelo governo destruiu as escalas salariais e há empresas em que todos os funcionários, do pessoal da limpeza aos chefes, ficaram com o salário mínimo, comentou à AFP Asdrúbal Oliveros, diretor da empresa Ecoanalítica.

"Aqui (no El Nacional) todos, executivos e todo o mundo, ganham o salário mínimo. Muito 'comunistamente'", ironizou Martínez, assegurando que nem os funcionários públicos têm pagamentos diferenciados.

Vários funcionários de empresas estatais protestaram exigindo aumentos, mas o incremento decretado não estabelece diferenças por escalões.

Desigualdade informativa

Os veículos não lidam apenas com uma recessão econômica que dura cinco anos e uma hiperinflação que, segundo o FMI, fechará 2018 em 1.350.000%. Também precisam enfrentar um governo hostil à imprensa crítica.

Correa denuncia que o governo socialista encurrala os meios ao lhes negar permissões para operar ou o papel jornal - monopolizado pelo Estado -, proibindo a menção a temas como a corrupção, bloqueando 2.500 portais ou, inclusive, comprando-os através de terceiros para mudar sua linha editorial.

"Em 2017 fecharam 52 emissoras de rádio e foram tirados do ar oito canais e serviços de televisão internacional, como a CNN em espanhol. Desde 2013, foram fechados mais de 50% dos jornais", acrescentou.

Correspondentes estrangeiros foram expulsos do país por não terem tramitado as permissões ante as autoridades e jornalistas críticos tiveram seus passaportes suspensos.

Além disso, acrescentou Correa, o governo pressiona anunciantes privados para não pagar publicidade em veículos críticos, que tampouco recebem anúncios oficiais.

El Nacional, assim como o jornal Tal Cual e o portal La Patilla, enfrentam ações do número dois do chavismo, Diosdado Cabello, que os acusa de "difamação" por replicar informações de veículos espanhóis que o vinculam ao narcotráfico.

"Se quiserem tomar o jornal, o fazem passando por cima da lei. A demanda não tem base jurídica. Estou há quatro anos proibido de deixar o país, separado da minha esposa. Não houve audiência", declarou Martínez.

Ações similares de Cabello contra ABC, na Espanha, e The Wall Street Journal, nos Estados Unidos, foram desestimadas naqueles países.

Com reservas de papel até dezembro, segundo seus funcionários, El Nacional teve que parar de circular aos sábados e segundas para estender sua existência. Não descarta reduzir ainda mais suas edições.

Há dez anos, as bancas de Caracas viviam repletas de publicações nacionais e estrangeiras. Hoje, só se conseguem poucas revistas e jornais, cada vez mais finos.

Diante dessa situação, Correa destaca que os venezuelanos têm recorrido às redes sociais ou serviços de mensagens digitais para procurar informação.

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