Trump: os negócios de Trump incluem acordos de licenciamento, hotéis e campos de golfe ao redor do mundo (John Moore/Getty Images)
Reuters
Publicado em 10 de novembro de 2016 às 21h49.
Nova York - Donald Trump fez a sua campanha para presidente como um bilionário sagaz que iria usar o seu tino como homem de negócios para melhorar a economia dos Estados Unidos, cortando impostos para os norte-americanos e negociando melhores acordos comerciais.
Contudo, a sua rede vasta e complicada de negócios sob a Organização Trump, incluindo vários investimentos no exterior e dívidas, pode criar conflitos de interesses sem precedentes quando ele assumir como presidente dos EUA em janeiro, disseram especialistas em ética de governo.
A lei federal não proíbe o presidente de envolvimento em negócios privados quando no cargo, apesar de congressistas e funcionários do Executivo estarem sujeitos a regras estritas de conflito de interesses.
Lyndon Johnson, por exemplo, gerenciou quietamente os seus negócios em comunicação, apesar de insistir que havia deixado tal atuação, segundo o seu biógrafo, Robert Caro.
"Não há restrições legais e nem requisitos legais", afirmou Noah Bookbinder, o diretor-executivo da organização Citizens for Responsibility and Ethics, em Washington.
Contudo, a maior parte dos presidentes nas últimas décadas colocaram de forma voluntária os seus bens nos chamados "blind trusts", supervisionados por consultores independentes para evitar qualquer suspeita de irregularidade, afirmaram especialistas.
Nesses fundos, o dono não tem poder nem conhecimento sobre o gerenciamento dos bens.
O presidente Barack Obama foi uma exceção, mas os seus investimentos eram na sua maior parte fundos e papéis do Tesouro com pouca chance de levar a conflitos.
Os negócios de Trump incluem acordos de licenciamento, hotéis e campos de golfe ao redor do mundo.
Durante a campanha, ele preencheu uma declaração financeira de 104 páginas, como exigido pela lei, que mostrou que ele tinha interesses financeiros em mais de 500 entidades com nomes como China Trademarks e DT Marks Qatar, mas dando poucos detalhes.
Se muitos homens ricos se tornaram presidente, ninguém chegou à Casa Branca com variedade tão complexa de bens.
Uma porta-voz de Trump não respondeu ao pedido de comentários sobre como ele planejava gerenciar os seus negócios quando na Casa Branca.
Durante a campanha, ele disse que provavelmente transferiria as operações diárias para os filhos, mas para especialistas em ética de governo isso não faria muito para isolar Trump.
"Isso libera algum tempo para ele ser presidente, mas não faz nada para eliminar os conflitos de interesses", disse Kenneth Gross, advogado de Washington especialista no tema.
A natureza dos negócios de Trump, segundo Gross, torna um "blind trust" sem significado, mesmo se ele estivesse inclinado a tirar o controle do seu império da família, uma ideia que ele já rejeitou.
"Você não pode colocar um campo de golfe num 'blind trust'. Seria inútil", afirmou Robert Kelner, também advogado de Washington e especialista em ética de governo.
"A ideia por trás do fundo é que ele é cego. Você não sabe que bens são mantidos."
A única solução que não deixaria margens para discussão, de acordo com os especialistas, seria Trump vender os seus negócios e colocar os recursos em tal fundo.
O potencial para conflitos aumenta pela falta de informações sobre as posses de Trump. Ele fala em mais de 10 bilhões de dólares de fortuna, mas revistas financeiras estimam que ela seja menos do que a metade disso.
Os seus negócios com governos estrangeiros são na sua maior parte desconhecidos. Ele provavelmente enfrentará escrutínio por causa de decisões que afetam países, disse Bookbinder.