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Imigrante que trabalhou para Trump: "Não viemos invadir este país"

"Somos 12 milhões e viemos trabalhar", afirmou Victorina Morales, que trabalhou no clube de golfe Trump e assistiu seu discurso no Congresso

EUA:"Se eu pudesse falar com ele, eu lhe diria que nós queremos uma reforma da imigração para nós, os imigrados que estamos aqui" (AFP/AFP)

EUA:"Se eu pudesse falar com ele, eu lhe diria que nós queremos uma reforma da imigração para nós, os imigrados que estamos aqui" (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 14h13.

Depois de passar cinco anos em situação irregular limpando apartamentos de Donald Trump, Victorina Morales foi convidada por uma congressista democrata para assistir, ontem, no Congresso, ao discurso do presidente sobre o Estado da União.

Bastante emocionada, Victorina disse que gostaria de poder dar voz a todos os imigrantes em condição clandestina que não têm coragem de se pronunciar sobre sua dura realidade.

"Se eu pudesse falar com ele, eu lhe diria que nós queremos uma reforma da imigração para nós, os imigrados que estamos aqui. Somos 12 milhões e viemos trabalhar, lutar. Não viemos invadir este país", disse ela à AFP.

"Não falo apenas por mim, falo por todos os outros. E tenho fé. Vão nos ouvir", acrescenta ela, com a voz embargada pela emoção.

"Eu também tenho medo de que os serviços de imigração possam chegar, medo de que me expulsem, mas agora não. Agora, tenho esta confiança, porque estão me ouvindo", afirmou.

Depois de chegar aos Estados Unidos de forma clandestina em 1999, esta guatemalteca deu um grande salto em dezembro passado. Ela trabalhava há cinco anos no clube de golfe Trump em Bedminster, em Nova Jersey, quando decidiu contar sua história ao jornal "The New York Times". Ela deixou o emprego, e vários funcionários na mesma condição foram demitidos.

Por que essa mulher de 46 anos decidiu falar, apesar dos riscos?

"Porque eu cansei dos insultos, das agressões, das inúmeras humilhações. Porque é doloroso que digam pra você que você é um imigrado que não sabe nada, que aqui você não pode reclamar, ou vão chamar os serviços de imigração", contou ela sobre seus empregadores.

Victorina não sabe se Trump, de quem ela fazia as camas, limpava os apartamentos e às vezes ganhava generosas gorjetas, estava a par desses fatos.

"Mas um dia eu me disse 'chega, não aguento mais'", acrescentou, enquanto a representante Bonnie Watson Coleman a segurava pela mão, em seu gabinete no Congresso americano.

"Hipocrisia"

O golfe de Donald Trump se encontra na circunscrição de Nova Jersey, representada por Bonnie. A democrata convidou Victorina Morales para assistir, com ela, ao discurso de Trump sobre o Estado da União.

"Para mim, Morales é o rosto da imigração e dos indivíduos em situação irregular neste país, que trabalham duro, que querem uma vida melhor para sua família, que fugiram da violência", explica a congressista à AFP.

"É com isso que a imigração se parece, não com o que o presidente dos Estados Unidos tenta pintar, diabolizando-os, desumanizando-os", acrescentou.

"Eu queria aproveitar essa oportunidade para demonstrar a hipocrisia desse presidente", que quer construir um muro na fronteira com o México para conter a imigração clandestina, enquanto o empresário Donald Trump não tinha problemas com empregar pessoas que não tinham todos seus documentos", apontou.

O clube de golfe era ligado à Trump Organization, que disse desconhecer a situação irregular desses funcionários.

A representante democrata considerou que Victorina Morales não corre o risco de ser expulsa dos EUA, porque apresentou um pedido de asilo. E, neste caso específico, todos os funcionários na mesma condição são "testemunhas materiais" contra a Trump Organization, enquanto os democratas exigem uma investigação dos fatos.

Para a congressista, se os serviços de imigração tentarem expulsar a guatemalteca, será uma medida configurada como "represália".

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