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Imigração irregular se expande para Argélia e Tunísia

Estudo da Organização Internacional de Migração (OIM) mostrou que o sul do Mar Mediterrâneo foi a fronteira "mais mortífera do mundo" entre 2000 e 2017

Imigrantes: Tunísia e à Argélia se tornaram novamente pontos de imigração irregular no Mediterrâneo (Giorgos Moutafis/Reuters)

Imigrantes: Tunísia e à Argélia se tornaram novamente pontos de imigração irregular no Mediterrâneo (Giorgos Moutafis/Reuters)

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EFE

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 15h52.

Argel / Túnis - A imigração irregular se ampliou neste ano para Argélia e Tunísia, fruto dos acordos secretos assinados pela Itália com as milícias líbias, do deslocamento das máfias e da deterioração das condições econômicas e sociais nesses dois países.

Um estudo da Organização Internacional de Migração (OIM), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), mostrou que o sul do Mar Mediterrâneo é fronteira "mais mortífera do mundo" com mais de 34 mil mortes entre 2000 e 2017.

Uma divisão composta por dezenas de praias e enseadas utilizadas por redes de tráfico de seres humanos bem organizadas dos dois lados da costa para lucrar com a esperança desesperada de milhares de pessoas que fogem da fome e das guerras na África, no Oriente Médio e até mesmo na Ásia Central.

Até bem pouco tempo atrás, a maioria agia no Marrocos e na Líbia, mas ao longo de 2017 foi constatado um aumento e um deslocamento dessas máfias e dos fluxos rumo à Tunísia e à Argélia, que se tornaram novamente pontos de imigração irregular no Mediterrâneo.

As razões são variadas: uma delas é o acordo secreto que as autoridades italianas fizeram com as milícias no norte da Líbia - que vive uma guerra civil desde 2011 - para conter a saída de embarcações rumo à Lampedusa e outras ilhas do sul da Itália.

De acordo com dados do Frontex, o órgão de segurança de fronteira da União Europeia (UE), aproximadamente, 105 mil pessoas chegaram ao litoral da Itália através do Mar Mediterrâneo de janeiro a setembro deste ano, 21% menos gente do que em 2016.

A queda foi menor do que a detectada pela Frontex em toda a União Europeia, aonde chegaram no mesmo período 156 mil pessoas, 64% a menos.

Os dados contrastam com o aumento do número de imigrantes na Argélia e na Tunísia, que disparou em agosto - logo depois do suposto acordo da Itália - após um ano de crescimento da imigração irregular mantido.

De acordo com um relatório do Fórum Tunisiano para Direitos Econômicos e Sociais (FTDES), entre janeiro e setembro as forças locais impediram que 1.652 pessoas embarcassem (1.384 delas tunisianas), sendo que 1.040 foram detidas nos dois últimos meses.

Dados da OIM confirmam esta tendência, uma vez que o número de tunisianos que chegou pelo mar de maneira irregular à Itália foi de 1.300 entre janeiro e agosto, e 1.400 só em setembro deste ano.

Além do deslocamento das máfias, a crise econômica que a Tunísia vive parece ser a principal razão para este aumento. A maioria dos que decide arriscar a vida no mar é jovem.

Embora a transição política tunisiana tenha sido a única bem-sucedida das que ocorreram na Primavera árabe - com a comunidade internacional contribuindo para a derrubada do ex-ditador líbio Muamar Kadafi -, os problemas econômicos da ditadura, em particular a corrupção, foram substituídos por desemprego e falta de oportunidades.

A isso se somou o impacto negativo dos atentados jihadistas de 2015 - quando 72 pessoas morreram, 60 delas turistas estrangeiros -, que afundaram uma das principais indústrias do país - a do turismo - e espantaram os possíveis investidores.

Impulsionado pelas condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial para conceder crédito de 2,5 bilhões de euros, o governo introduziu políticas de austeridade e fez cortes que geraram mais desconforto.

Esta semana, o Parlamento aprovou um novo orçamento repleto de novos recursos e medidas dolorosas para a população que provavelmente farão ainda mais jovens tunisianos apostarem na imigração.

Situação parecida vive a Argélia, país onde a Primavera árabe não floresceu e onde a enorme queda dos preços do petróleo e do gás em 2014 colocou a nação numa crise econômica e social colossal.

A isso se uniu a incerteza sobre a saúde do presidente, Abdelaziz Bouteflika, muito doente e quase totalmente afastado das atividades públicas desde 2013, e as dúvidas sobre quem dirige o país.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), em 2017, com a política de cortes já em vigor, o número de argelinos que se aventuraram pelo mar atingiu 6% do total, só atrás de sírios (15%), marroquinos (9%), nigerianos e iraquianos (ambos com 7%).

As estatísticas apontam que a chegada de argelinos à ilha da Sardenha aumentou 25% este ano, enquanto que a chegada à Espanha disparou de 18% dos imigrantes irregulares em julho a 25% em setembro, quando a Argélia assumiu o segundo lugar, só atrás do Marrocos (27%). Especialistas acreditam que essas tendências serão mantidas em 2018.

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