Imagens de satélite de três dias antes do acidente mostraram o navio de 142 metros de comprimento (Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 27 de maio de 2025 às 11h23.
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, presenciou o naufrágio do mais novo destróier de 5.000 toneladas do país durante seu lançamento na semana passada, em um vexame militar. Especialistas apontam que a técnica utilizada para colocar o navio na água lateralmente foi uma das causas do acidente.
Foi a primeira vez que analistas observaram a Coreia do Norte usando o lançamento lateral para navios de guerra, o que evidenciou a falta de experiência e a pressão política de Kim por resultados rápidos. Três funcionários do estaleiro, incluindo o engenheiro-chefe, além de um alto funcionário da área de armamentos, foram presos, segundo informou a agência oficial de notícias KCNA, após Kim classificar o naufrágio como um ato criminoso.
Imagens de satélite captadas três dias antes do acidente mostravam a embarcação de 143 metros de comprimento — a maior classe de navio de guerra já construída por Pyongyang — posicionada sobre uma rampa de lançamento. A cerca de 40 metros do navio, uma estrutura que parecia ser uma área de observação, e onde Kim provavelmente estava durante o incidente, ainda estava em construção.
O destróier foi montado em Chongjin, cidade portuária na costa nordeste da Coreia do Norte, conhecida por fabricar embarcações menores, como cargueiros e barcos de pesca. Em relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), instituto de pesquisa em Washington, analistas afirmaram que o estaleiro “inegavelmente” não possuía experiência na construção e lançamento de navios de guerra de grande porte.
Os analistas avaliaram que o navio sinistrado tinha tamanho e configuração semelhantes ao destróier guiado Choe Hyon, o primeiro da Coreia do Norte e o navio de superfície mais poderoso já construído pelo país. A embarcação é motivo de orgulho no ambicioso plano de Kim para modernizar e expandir sua frota naval herdada da era soviética, sendo o destaque de uma cerimônia de batismo realizada no mês passado em Nampo, porto na costa oeste, próximo a Pyongyang.
Imagens da mídia estatal mostraram um evento grandioso, com confetes e fogos de artifício, com a presença de Kim e de sua filha, Kim Ju-ae. Uma ampla plataforma de observação foi montada próximo ao Choe Hyon, que já estava flutuando na água.
Esse lançamento ocorreu sem incidentes, segundo a mídia estatal. Os engenheiros usaram uma técnica comum para embarcações grandes e pesadas: construíram o Choe Hyon dentro de um galpão coberto em Nampo, o transferiram para um dique seco flutuante e o colocaram na água enchendo o dique, explicou Choi Il, capitão reformado da Marinha sul-coreana.
Mas o estaleiro em Chongjin não possuía um dique seco grande o suficiente para construir um destróier da classe Choe Hyon, nem uma rampa inclinada para deslizar a embarcação pela popa até a água. Os engenheiros construíram o navio no cais, sob uma cobertura de rede, e, ao final, tiveram de lançá-lo lateralmente.
Quando feito corretamente, o navio desliza ao longo da rampa e mergulha brevemente na água — como ocorreu com o destróier americano USS Cleveland, de 3.500 toneladas, lançado em Wisconsin em 2023. Normalmente, um rebocador é posicionado nas proximidades para auxiliar após o lançamento.
Mas, segundo a mídia estatal, ao tentarem empurrar o destróier norte-coreano para a água, ele perdeu o equilíbrio. Imagens de satélite feitas dois dias após o acidente mostraram o navio coberto com uma lona azul e tombado sobre o lado direito. A proa estava presa à rampa, enquanto a popa se projetava sobre o porto. A plataforma de observação havia sido retirada.
Lançar navios grandes lateralmente exige equilíbrio delicado, disse Choi, o capitão sul-coreano reformado. As armas pesadas montadas no destróier podem ter tornado a tarefa ainda mais difícil, acrescentou.
Dias após o lançamento do primeiro destróier da classe Choe Hyon, Kim assistiu com orgulho ao teste de vários mísseis da embarcação. Ele tem visitado estaleiros para pressionar engenheiros a cumprir seu cronograma de expansão naval e parece ter planejado lançar o segundo destróier com a mesma pompa e testes de armamentos.
Analistas sul-coreanos afirmam que os engenheiros em Chongjin, que operavam com instalações menos avançadas do que os colegas de Nampo, devem ter sentido enorme pressão após o lançamento bem-sucedido em Nampo — o que pode ter levado a atalhos e falhas no processo.
A Coreia do Norte declarou que poderá restabelecer o equilíbrio do navio bombeando a água do mar e, em cerca de dez dias, reparar o lado danificado. Mas, segundo Yang Uk, especialista em assuntos militares norte-coreanos no Instituto Asan de Estudos Políticos, em Seul, os danos parecem mais graves do que o país admitiu.
“O navio parece um pouco torcido após o acidente”, disse ele. “Não aparenta ter sido construído com a resistência estrutural exigida para uma embarcação de guerra.”