Papa Francisco (Tony Gentile/Reuters)
Reuters
Publicado em 4 de março de 2019 às 15h08.
Última atualização em 6 de março de 2019 às 07h13.
Cidade do Vaticano - Dizendo que "a Igreja não tem medo da história", o papa Francisco anunciou nesta segunda-feira que planeja abrir inteiramente os arquivos secretos do Vaticano relativos ao papado de Pio XII durante a guerra, um gesto de importância histórica que os judeus pleiteiam há décadas.
Muitos deles dizem que Pio XII, que reinou de 1939 a 1958, não fez o suficiente para ajudar aqueles que enfrentavam a perseguição da Alemanha nazista. A decisão de Francisco foi saudada por grupos judeus e por Israel.
O Vaticano sustenta que Pio XII decidiu trabalhar nos bastidores, receoso de que uma intervenção pública piorasse a situação de judeus e católicos em uma Europa em guerra dominada por Hitler.
Em um discurso a membro dos Arquivos Secretos do Vaticano, Francisco anunciou que os registros serão abertos em 2 de março de 2020, acrescentando que o legado de Pio XII vem sendo tratado com "algum preconceito e exagero".
A medida poderia eventualmente acelerar a canonização de Pio XII.
O Comitê Judeu Americano (AJC), que vem pedindo a abertura dos arquivos há mais de 30 anos, disse que a decisão de Francisco é bastante significativa.
Estudiosos agora podem avaliar objetivamente "o registro histórico da mais terrível das épocas para reconhecer tanto as falhas quanto os esforços valorosos feitos durante o período da Shoah", disse o rabino David Rosen, diretor internacional de Assuntos Interreligiosos do AJC, à Reuters por email.
Shoah é a palavra hebraica para o Holocausto, no qual cerca de seis milhões de judeus foram assassinados.
"Estamos satisfeitos com a decisão e esperamos que ela permita o livre acesso a todos os arquivos relevantes", disse o embaixador de Israel no Vaticano, Oren David, à Reuters.
O papa disse no discurso que Pio XII teve que conduzir a Igreja durante um dos "períodos mais tristes e sombrios do século 20".
Ele disse ter confiança de que "uma pesquisa histórica séria e objetiva permitirá a avaliação (de Pio XII) sob a luz correta", incluindo uma "crítica apropriada".
A polêmica a respeito das ações de Pio XII durante a guerra eclodiu em 1963, quando o dramaturgo alemão Rolf Hochhuth escreve o drama controverso "O Vice, Uma Tragédia Cristã", em que acusou o pontífice de silenciar diante do Holocausto.
(Reportagem adicional de Rami Ayyub e Dan Williams em Jerusalém)