O primeiro-ministro da Áustria, Sebastian Kürz: Parlamento votará uma moção de censura contra político após escândalo envolvendo membros do seu gabinete (Leonhard Foeger/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 21 de maio de 2019 às 11h30.
Última atualização em 21 de maio de 2019 às 11h32.
São Paulo – Há poucos dias das eleições para o Parlamento Europeu, o governo de extrema-direita da Áustria, liderado pelo primeiro-ministro conservador Sebastian Kürz (Partido Popular Austríaco - OVP), corre o risco de ir por água abaixo na próxima segunda-feira, 27 de maio. Na data, será votada pelo Parlamento austríaco uma moção de censura contra o chanceler, proposta por partidos opositores e aceita pelo presidente, Alexander Van der Bellen.
A crise política que se instaurou no governo austríaco começou no último final de semana, quando a imprensa alemã revelou um escândalo envolvendo o então vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, nacionalista e líder do Partido da Liberdade (FPÖ). A sigla era essencial para assegurar a maioria de Kürz no Parlamento, mas a coalizão ruiu no início desta semana em razão do episódio que ficou conhecido como “Ibizagate”.
O escândalo aconteceu em 2017. Na época, Strechen estava em Ibiza, cidade na Espanha que é uma meca das baladas na Europa, e foi gravado prometendo acesso aos contratos públicos na Áustria para uma mulher que dizia ser sobrinha de um oligarca russo, Igor Makarov.
Os eventos aconteceram poucos antes da vitória da extrema-direita nas eleições parlamentares do país e que levaram o FPO ao poder em coalizão com Kürz. A Rússia negou qualquer envolvimento no caso. Makarov, por sua vez, disse ser filho único e não conhecer a mulher que se identificou como sua sobrinha.
A revelação prontamente derrubou Strechen, que renunciou ao cargo logo no sábado, mas colocou o primeiro-ministro, que tomou posse como primeiro-ministro em dezembro daquele ano e aos 31 anos se tornou um dos líderes mais jovens do mundo, em uma saia justa que não deve sair barato.
Após a saída do vice-chanceler, Kürz ainda removeu um dos líderes mais importantes do FPO no governo, Herbert Kickl, ministro do interior, e desferiu duras palavras contra o então aliado. “Está claro que Kickl não pode investigar a si mesmo”, disse o primeiro-ministro ao anunciar a demissão. Em retaliação, todos os outros ministros do FPO abandonaram suas pastas, acabando com a coalizão que sustentava a extrema-direita nacionalista no poder.
“Ibizagate” também colocou em risco a composição parlamentar na Áustria. Além da moção de censura contra seu primeiro-ministro na próxima segunda, o país deve ir novamente às urnas em setembro, depois de o presidente Van der Bellen ter convocado novas eleições parlamentares para “restaurar a confiança do povo no governo”, num movimento que foi endossado por Kürz.
As eleições para o Parlamento Europeu se iniciam nesta semana e trouxeram à tona o temor em torno de um fortalecimento dos partidos nacionalistas, de extrema-direita e eurocéticos que pudesse colocar em risco a integração na União Europeia (UE).
Representantes de outros países, contudo, foram rápidos em suas tentativas de capitalizar em cima do “Ibizagate” para tentar frear a multiplicação de assentos controlados por siglas como essas na esfera parlamentar do bloco europeu.
Angela Merkel, chanceler da Alemanha, pediu que os eleitores “resistam aos políticos que se colocam à venda”, enquanto o chefe dos conservadores europeus, o alemão Manfred Weber, afirmou que a lição é a de que ”não devemos dar a estes radicais a menor influência na nossa Europa”. Van der Bellen também expressou preocupação nesse sentido, e lembrou que essa é uma semana crucial para a Áustria mostrar que é um “sócio confiável” na UE.