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Hungria torna crime atravessar fronteira

A Hungria, país que deu início ao fim da Cortina de Ferro, aprovou leis que consideram a travessia de sua fronteira como crime


	Refugiados em trem parado na Hungria
 (Reuters / Leonhard Foeger)

Refugiados em trem parado na Hungria (Reuters / Leonhard Foeger)

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Da Redação

Publicado em 4 de setembro de 2015 às 22h49.

Budapeste - A Hungria, país que deu início ao fim da Cortina de Ferro, aprovou nesta sexta-feira leis que consideram a travessia de sua fronteira como crime, de modo a evitar os milhares de refugiados que chegam todos os dias do Oriente Médio a caminho da Europa Ocidental.

Após lotarem ao longo da semana a estação ferroviária de Keleti, em Budapeste, centenas de refugiados seguiram caminho a pé hoje em direção à fronteira com a Áustria. A maior parte do grupo é composta por homens jovens, mas também há famílias, com mães e filhos, segundo imagens transmitidas pelas redes de televisão locais.

As novas medidas legais, aprovadas em urgência no parlamento, definirão como "crime" atravessar a fronteira a partir do dia 15 de setembro.

Os refugiados que pisarem em território húngaro sem permissão poderão ser condenados a três anos de prisão, pena que pode chegar a cinco anos se o acusado tiver danificado a polêmica cerca ou entrado armado na Hungria.

O governo do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, garante que com essas leis será possível "aliviar a pressão migratória" sofrida pelo país.

Neste ano, mais de 160 mil pessoas, a maioria refugiados de regiões de conflito como Síria e Afeganistão, entraram na Hungria através da fronteira sérvia com o objetivo de seguir rumo a Áustria e Alemanha.

"Se não defendermos nossas fronteiras, virão dezenas de milhões à Europa. Se permitirmos que todo mundo entre, será o fim da Europa. Podemos acordar amanhã e chegar à conclusão de que estamos em minoria em nosso próprio continente", declarou Orbán em entrevista por rádio.

O primeiro-ministro defendeu a necessidade de se "mostrar força" na defesa das fronteiras e lamentou que a Europa seja "rica, mas frágil".

Gyulai Gábor, da ONG pró-direitos humanos Comitê Húngaro de Helsinque, alertou que "milhares de refugiados correrão o risco de serem devolvidos à Sérvia, que segundo a ONU não oferece proteção a eles".

"O governo (de Orbán) empurra o país em direção a uma catástrofe humanitária", declarou o ativista à Agência Efe.

Enquanto eram feitas as mudanças na lei, cerca de mil refugiados iniciavam uma marcha rumo à fronteira com a Áustria, situada a aproximadamente 180 quilômetros. Por volta das 20h locais (15h em Brasília), o êxodo continuava ao longo da estrada, há mais de 20 quilômetros da capital húngara.

A dramática decisão de viajar a pé foi tomada depois que as autoridades húngaras impediram a saída de trens com refugiados para destinos no exterior.

Um mar de pessoas, com famílias inteiras, se aventurou na estrada, com muitos refugiados levando fotos da chanceler alemã, Angela Merkel, e fazendo o sinal da vitória.

A polícia acompanhou a passeata facilitando sua passagem com segurança por cruzamentos e semáforos, sem que que houvesse incidentes.

"Vamos andando, não fazemos mal a ninguém, não somos criminosos. Só quero chegar a algum país em que possa terminar meus estudos", explicou, ainda em Budapeste, Nasir al Omar, aluno de Arte e Literatura na universidade síria de Aleppo.

Na cidade de Bicske, a 37 quilômetros de Budapeste, cerca de 300 refugiados escaparam dos policiais que vigiavam um trem retido desde ontem com 500 pessoas que tinha saído da capital húngara em direção à fronteira austríaca.

As plataformas da estação local foram palco de enfrentamentos com a polícia na quinta-feira porque os refugiados recusaram ser levados a um centro de amparo.

Após passarem a noite no trem parado, cerca de 300 pessoas decidiram sair correndo do lugar, algumas no sentido oeste, outras para o leste, rumo a Budapeste.

Aparentemente, os 200 restantes aceitaram ser transferidos em ônibus para o abrigo, onde serão registrados, conforme noticiou a imprensa local. Pouco antes, os serviços de emergência informaram que um refugiado desmaiou e morreu em Bicske.

No mesmo momento, vários refugiados se envolveram em incidentes com as forças da ordem no sul do país, no centro de amparo de Röszke, perto da fronteira com a Sérvia. Cerca de 300 imigrantes conseguiram sair do cerco do abrigo, mas depois foram reconduzidos ao local pela polícia.

Ao intervir em um protesto pelas más condições de vida e a extrema lentidão dos procedimentos de registro, a polícia usou gás lacrimogêneo e várias resistências ocorreram, segundo mostram imagens gravadas por canais de televisão.

Nos arredores da estação de Keleti, em Budapeste, há acampamentos com mais de mil pessoas em condições miseraveis, com o único apoio de uma rede de ajuda húngara e contribuições dos cidadãos.

O clima era de tensão na esplanada que leva à entrada da estação, onde ocorreu uma briga nesta sexta-feira, após torcedores extremistas da seleção húngara de futebol lançarem bombas de efeito moral a um grupo de refugiados.

A polícia húngara interveio com rapidez e controlou o tumulto, mas não há informações oficiais sobre detenções ou possíveis feridos.

Hungria e Romênia se enfrentam em Budapeste nesta sexta-feira pelas Eliminatórias para a Eurocopa de 2016, partida considerada de alto risco devido à rivalidade das torcidas organizadas de ambos os países. 

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