Agência de notícias
Publicado em 10 de julho de 2025 às 14h14.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 14h35.
Após um hiato de sete meses e um acordo de cessar-fogo limitado com os Estados Unidos, os houthis voltaram a atacar navios comerciais no Mar Vermelho, restaurando as preocupações de que uma rota vital para o mercado global não é mais segura. Desde domingo, o grupo rebelde, que controla boa parte do território do Iêmen e é apoiado pelo Irã, disparou contra dois cargueiros que supostamente se dirigiam para um porto israelense. As embarcações afundaram e diversos tripulantes foram feitos reféns, segundo informações de uma missão marítima da União Europeia (UE) divulgadas nesta quinta-feira.
O graneleiro Eternity C, de bandeira liberiana, mas operado por uma empresa grega, afundou na manhã de quarta-feira, depois de ser atacado durante dias pelos houthis com várias granadas propulsadas por foguetes a partir de pequenas embarcações, de acordo com a Agência Britânica de Operações Comerciais Marítimas (UKMTO, na sigla em inglês).
O grupo iemenita assumiu a responsabilidade em um comunicado na quarta-feira, dizendo que atacaram o Eternity C com “um barco não tripulado e seis mísseis de cruzeiro e balísticos” enquanto ele supostamente se dirigia ao porto israelense de Eilat. Segundo os houthis, o navio foi “completamente afundado” e suas forças "resgataram" alguns membros da tripulação, prestando cuidados médicos antes de levá-los para um local não revelado.
Dez dos 25 membros da tripulação foram resgatados, segundo informações da Operação Aspides, destacada pela União Europeia (UE) no Mar Vermelho em resposta aos ataques dos houthis, publicadas nesta quinta-feira. Outros quatro não tiveram a mesma sorte e morreram a bordo da embarcação, enquanto estima-se que ao menos seis tenham sido sequestrados. Entre os mortos estão "o engenheiro-chefe, um lubrificador e um cadete de máquinas", disse a Aspides à AFP.
"Durante a noite de 9 para 10 de julho, mais três (3) tripulantes do MV Eternity C (de nacionalidade filipina) e um (1) da Equipe de Segurança Marítima (de nacionalidade grega) foram resgatados do mar, elevando o número total de resgatados para dez (10)", informou a Operação Aspides na rede social X.
Yahya al-Sarea, porta-voz militar dos houthis, não especificou o número de tripulantes "resgatados" nem o local para onde foram levados ou quando seriam libertados. Em 2023, os houthis apreenderam um navio chamado Galaxy Leader e mantiveram sua tripulação como refém por mais de um ano.
Na terça-feira, Mohammed al-Bukhaiti, um alto funcionário político houthi, recusou-se a comentar o ataque, mas disse ao New York Times que o grupo “se preocupa com a segurança dos marinheiros”.
Autoridades dos houthis compartilharam nas redes sociais um vídeo que, segundo eles, mostrava o Eternity C afundando no mar, acompanhado por uma música dramática e vozes entoando o slogan houthi: “Morte à América, morte a Israel, maldição aos judeus, vitória ao Islã”.
Foi o segundo naufrágio de uma embarcação comercial no Mar Vermelho provocada pelos houthis esta semana. No domingo, ataques ao cargueiro Magic Seas, também de bandeira liberiana e operado por uma empresa grega, fizeram com que sua tripulação de 22 pessoas abandonasse o navio.
Em resposta, Israel bombardeou vários alvos dos rebeldes no Iêmen, incluindo o porto de Hodeida e seus arredores, no domingo e na madrugada de segunda-feira. Na segunda-feira, os rebeldes afirmaram ter disparado mísseis contra Israel, cujo Exército indicou ter detectado dois projéteis.
— Não víamos nenhum ataque real à navegação mercante desde dezembro do ano passado — disse à AP Wolf-Christian Paes, pesquisador sênior do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres. — E eles voltaram com tudo.
Os houthis começaram a atacar navios no Mar Vermelho após o início da guerra entre o Hamas e Israel em 2023. Eles afirmam que sua campanha é uma tentativa de pressionar o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a interromper o bombardeio de Gaza e permitir o livre fluxo de ajuda humanitária para 2 milhões de palestinos que enfrentam uma fome catastrófica na região.
Como o território houthi fica próximo a uma importante via navegável no Mar Vermelho, pela qual passam 12% do comércio marítimo global, os ataques têm forçando centenas de navios porta-contêineres a fazerem uma rota mais longa ao redor do extremo sul da África semanalmente.
Estima-se que desde o início dos ataques, no final de 2023, o tráfego marítimo no Mar Vermelho caiu 50%, segundo dados da plataforma PortWatch, montada pelo Fundo Monetário Internacional e pela Universidade de Oxford para monitorar os fluxos diários nesta rota.
Os bloqueios houthis também fizeram o porto israelense de Eilat declarar falência. Segundo informações do CEO Gideon Golbert apresentada em julho do ano passado à Comissão de Assuntos Econômicos do Knesset, o Parlamento de Israel, há oito meses as atividades comerciais estavam totalmente paralisadas devido à interrupção do recebimento de navios e contêineres.
Eilat é consideravelmente menor do que os portos mediterrâneos de Ashdod e Haifa, mas é tido como um dos mais importantes de Israel por ser o único com vista para o Mar Vermelho. Além de ser vital ao comércio exterior com a Ásia, a África e alguns países do Golfo, que fornecem mercadorias críticas à economia e ao setor industrial israelense, como matérias-primas, bens intermediários, insumos de produção, máquinas e equipamentos, petróleo bruto e combustível, trigo, alimentos e automóveis.
Em 6 de maio, os houthis concordaram com uma trégua proposta por Washington, que durante mais de um mês realizou ataques aéreos a redutos e infraestrutura de mísseis dos rebeldes iemenitas, na tentativa de acabar com a ofensiva que mantinham contra navios civis e militares no Mar Vermelho. O acordo, porém, limitava-se a suspender os ataques a navios de guerra dos EUA, mas nas incluía outras embarcações supostamente ligadas a Israel.
Desde outubro de 2023, os houthis lançaram mais de 520 ataques — incluindo pelo menos 176 contra navios comerciais e 155 contra o território israelense, segundo levantamento da Acled, uma organização internacional independente especializada em coleta e análise de dados sobre localização e eventos de conflitos armados. Enquanto isso, as operações dos EUA na região resultaram em 774 ataques aéreos e pelo menos 550 vítimas registradas entre 12 de janeiro de 2024 e 6 de maio de 2025, de acordo com a mesma fonte.