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Hortas comunitárias se popularizam em Berlim

Cada vez mais, moradores trabalham a terra para cultivar tomates, batatas e... vínculos sociais, em uma cidade onde ainda parece haver espaço para tudo


	Horta: de dia, carrinhos de mão e mangueiras são usados a todo vapor nas matas de ervas aromáticas. Ao anoitecer, amigos brindam para celebrar a amizade
 (Tânia Rêgo/ABr)

Horta: de dia, carrinhos de mão e mangueiras são usados a todo vapor nas matas de ervas aromáticas. Ao anoitecer, amigos brindam para celebrar a amizade (Tânia Rêgo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2014 às 15h19.

Berlim - Seja no telhado de um shopping ou em um antigo aeroporto, as hortas estão se espalhando por Berlim.

Cada vez mais, moradores trabalham a terra para cultivar tomates, batatas e... vínculos sociais, em uma cidade onde ainda parece haver espaço para tudo.

Alguns agriões esmirrados resistem bravamente às chuvas e aos fortes ventos que varrem as pistas de aterrissagem de um aeroporto fechado em outubro de 2008 e transformado em um amplo parque para os berlinenses.

Quando chega o bom tempo, pepinos, aipos e manjericão crescem à sombra dos girassóis nesse jardim comunitário.

Recentemente, uma colmeia instalada no meio dos pequenos lotes começou a produzir o primeiro mel a levar o selo do antigo aeroporto de Tempelhof.

De dia, carrinhos de mão e mangueiras são usados a todo vapor nas matas de ervas aromáticas. Ao anoitecer, amigos brindam com cerveja para celebrar o espírito coletivo e a amizade.

“Allmende Kontor” e o vizinho “Rübezahl Garten” são duas das inúmeras hortas que cresceram como grama na capital alemã. No bairro popular de Wedding, uma associação planeja instalar cultivos de cenouras e morangos no telhado de um supermercado local.

"Trata-se de cultivar hortaliças e também de participar de um projeto coletivo, de fazer coisas juntos. É um lugar onde todo mundo participa", explica Burkhard Schaffitzel, um dos iniciadores do “Rübezahl Garten”.

"As pessoas vêm de todos os horizontes, de imigrantes turcos a estudantes, passando por aposentados", conta Gerda Münnich, uma entusiasta da “Allmende Kontor”.


Esse é exatamente o segredo do sucesso. Sua horta já conta com cerca de 300 "arrendatários" e tem uma lista de espera de mais de 200 pessoas. Os responsáveis pelo jardim pagam 5.000 euros por ano à Prefeitura para utilizar seu pedaço de terra e fazem apelos por doações para manterem a iniciativa.

Legumes e verduras crescem em baldes e caixas de madeira, porque a Prefeitura não permite as plantações diretamente no solo no antigo aeroporto. Alguns optaram pela originalidade. Sapatos usados, mochilas, ou até uma velha cadeira de escritório: vale tudo para garantir seu espaço na horta.

Horta, um lugar de socialização

A escolha pela jardinagem cria um estilo de vida e, ao redor dela, surgem "pequenos lugares". O mecânico de bicicletas "Ismael" oferece seus serviços em um reboque velho e amassado, instalado no terreno, enquanto uma "praça do povo", no centro do jardim, permite que a comunidade possa assar salsichas quando o grupo organiza festas.

"A horta não é apenas um lugar dedicado a uma atividade de auto-subsistência, mas um lugar de socialização", explica a socióloga alemã Christa Müller, que escreveu um livro sobre o "urban gardening".

O fenômeno é internacional. Desde seu início nos bairros pobres de Nova York, já foram criadas hortas comunitárias em Paris, Montreal e outras cidades. Na capital alemã, houve um empurrão muito particular: a reunificação da cidade, após a queda do Muro no final de 1989, que dividiu Berlim por 28 anos. A mudança deixou uma grande quantidade de espaços vazios e abandonados.

"Londres e Paris estão saturadas. Aqui ainda temos lugar para plantar verduras", comemora Schaffitzel.

Para muitos, criar uma horta coletiva também é uma iniciativa cidadã. "Fazemos política no meio das alfaces", brinca Gerda Münnich, que, depois de passar sua carreira diante das telas dos computadores, decidiu se dedicar às abóboras e aos repolhos.

"É se apropriar um pouco da cidade. É participar da decisão coletiva. Esse pequeno terreno que eu cultivo é um pedacinho da cidade que me pertence", diz ela, com orgulho.

Para a socióloga Christa Müller, esse movimento é uma espécie de contrapeso à sociedade neoliberal.

Esses novos urbanos "ficam felizes de produzir algo eles mesmos, no lugar de encher o carrinho no supermercado", considera Burkhard Schaffitzel, do "Rübezahl Garten".

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