Hong Kong: "Se a situação piorar, Pequim tem meios e poder suficientes para reprimir os distúrbios rapidamente", afirmou o embaixador (Thomas Peter/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de agosto de 2019 às 09h42.
Um jornal da China fez nesta sexta-feira, 16, uma rara referência à repressão na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), um tabu no país, para afirmar que uma intervenção armada em Hong Kong não repetirá o massacre de junho de 1989 contra manifestantes civis em Pequim.
"Pequim não decidiu intervir pela força para acabar com os distúrbios em Hong Kong, mas esta opção - evidentemente - está disponível", destaca o editorial do jornal em língua inglesa Global Times. Mas mesmo que o governo decida enviar tropas contra os manifestantes, "o incidente em Hong Kong não será uma repetição do incidente político de 4 de junho de 1989", afirma a publicação.
Não há um número oficial da sangrenta repressão na Praça Tiananmen, mas alguns especialistas falam em mais de mil mortos.
Na quinta-feira, a China concentrou tropas na fronteira com Hong Kong e advertiu que não ficará "de braços cruzados" se o protesto pró-democracia se degradar no território semiautônomo, causando "preocupação" do presidente americano, Donald Trump, pelo risco de uma repressão violenta.
Se a situação "piorar", Pequim tem "meios e poder suficientes para reprimir os distúrbios rapidamente", afirmou o embaixador chinês em Londres, Liu Xiaoming.
Após dois meses de manifestações em Hong Kong a favor da democracia, a China trouxe de volta nos últimos dias o fantasma de uma intervenção para restabelecer a ordem no território.
O assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, pediu à China para não produzir um novo massacre. "Os chineses têm de tomar muito cuidado com os passos que derem porque o povo dos Estados Unidos se lembra da Praça da Paz Celestial, lembram a imagem do homem de pé em frente à fileira de tanques", disse ele em entrevista à Voz da América.
Trump se declarou "preocupado" com o risco de uma repressão violenta dos protestos em Hong Kong e ressaltou que pretende conversar "em breve" com o presidente chinês, Xi Jinping. "Gostaria de verdade ver a China resolver de uma forma humana o problema em Hong Kong", acrescentou.
Na quinta-feira, centenas de agentes da Polícia Armada Popular da China realizaram exercícios em um estádio esportivo de Shenzhen. Diplomatas asiáticos e ocidentais em Hong Kong disseram que Pequim quer fazer uma demonstração de força e enviar um recado, mas dificilmente enviará o Exército Popular de Libertação às ruas da cidade, pois tem consciência das consequências.
Era possível ver homens uniformizados em um estádio do Centro Esportivo da Baía de Shenzhen durante a manhã, e um jornalista da agência de notícias Reuters ouviu gritos e assobios. Mais tarde, a polícia realizou exercícios nos quais se dividiu em dois grupos, um deles usando camisetas pretas semelhantes às usadas por alguns manifestantes de Hong Kong. O outro grupo continuou de uniforme, empunhou escudos de contenção de multidões e praticou arremetidas contra o primeiro.
"Esta é a primeira vez que vi uma reunião de larga escala como essa", disse Yang Ying, recepcionista de um centro de bem-estar instalado dentro do complexo de lojas do estádio. "Houve exercícios no passado, mas normalmente eles envolvem a polícia de trânsito", acrescentou. "Nossos amigos, redes sociais, todos dizem que é por causa de Hong Kong."
Dez semanas de protestos cada vez mais violentos entre a polícia e manifestantes mergulharam o território em sua pior crise desde que a China o recebeu de volta do Reino Unido em 1997. Os protestos representam um dos maiores desafios a Xi, desde que ele tomou posse, em 2012.
No estacionamento do estádio havia mais de 100 veículos paramilitares, incluindo caminhões de tropas, blindados de transporte de pessoal, ônibus e jipes. O Global Times, tabloide nacionalista ligado ao Partido Comunista, publicou um vídeo nesta semana que mostrou colunas de caminhões e blindados de transporte de pessoal percorrendo a cidade, e seu editor, Hu Xijin, descreveu a movimentação no Twitter como um "recado claro para os agitadores de Hong Kong". (Com agências internacionais)