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Hong Kong adia de vez eleições para daqui a um ano. Oposição questiona

Após barrar nesta semana 12 candidatos de oposição, a líder do governo subordinado à China, Carrie Lam, anunciou hoje o adiamento total

Carrie Lam, líder de Hong Kong e próxima a Pequim: motivo oficial para adiamento das eleições é a alta do coronavírus (Lam Yik/Reuters)

Carrie Lam, líder de Hong Kong e próxima a Pequim: motivo oficial para adiamento das eleições é a alta do coronavírus (Lam Yik/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 31 de julho de 2020 às 08h49.

Última atualização em 31 de julho de 2020 às 15h33.

Hong Kong decidiu cancelar de vez as eleições legislativas previstas para setembro deste ano. A decisão foi anunciada nesta sexta-feira, 31, pela líder do governo na ilha, Carrie Lam.

O motivo oficial para o adiamento é uma nova alta de casos de coronavírus em Hong Kong. A ilha, que é território da China e onde vivem cerca de 7,5 milhões de pessoas, vem registrando mais de 100 casos diários de coronavírus -- antes menos de 10 diários em meses como maio e junho.

Nesta semana, o governo já havia anunciado que as eleições poderiam ser adiadas. Dias depois, proibiu 12 candidatos de oposição de participar do pleito e disse que novas candidaturas poderiam ser ainda barradas nas próximas semanas.

As eleições foram adiadas para daqui a um ano, outro motivo questionado pela oposição, uma vez que vem sendo comum, durante a pandemia do coronavírus, que países adiem eleições por somente alguns meses ou semanas.

Lam é alinhada ao governo central chinês, que controla Hong Kong desde que a ilha deixou de ser uma colônia britânica em 1997. O adiamento das eleições vem um mês depois de a China aprovar uma nova lei de segurança para a ilha, que restringe as liberdades políticas no território.

As eleições legislativas, previstas para 6 de setembro, elegeriam metade do chamado "mini-Parlamento" de Hong Kong. A outra metade é preenchida por candidatos que não foram eleitos, a maioria indicada pelo governo chinês.

O objetivo da oposição era angariar votos suficientes para preencher boa parte das cadeiras disponíveis e tentar reverter algumas das decisões do governo central em Pequim.

Uma mostra do apoio da oposição no momento veio em 2019, quando houve em Hong Kong eleições distritais. As eleições foram consideradas uma espécie de “referendo” sobre os protestos de oposição contra o regime de Pequim que varreram Hong Kong. Apesar de, na prática, os cargos em disputa na ocasião não serem os mais importantes do país, mais de 70% dos eleitores compareceram às urnas, cerca de 3 milhões de pessoas, um dos maiores comparecimentos da história.

O grupo de candidatos pró-democracia, junto aos grupos que pediam auto-determinação, conseguiram uma vitória sem precedentes e conquistaram a maioria em 17 dos 18 distritos. O número de cadeiras pertencente a esses grupos de oposição triplicou, de 124 para 388.

Joshua Wong, ativista de oposição em Hong Kong

Joshua Wong, ativista de oposição em Hong Kong, ao se registrar para eleições legislativas: barrado pelo governo da ilha (Tyrone Siu/Reuters)

Desde que deixou de ser colônia britânica, Hong Kong tem mais autonomia do que o restante do território governado pelo Partido Comunista Chinês, em um modelo que ficou conhecido como “um país, dois sistemas”. Mas o regime vem sendo endurecido, sobretudo no mandato do atual presidente chinês, Xi Jinping.

A ilha se consolidou nas últimas décadas como uma cidade vibrante, com grande fluxo financeiro e presença internacional. A relativa liberdade democrática fez a cidade se tornar um dos polos financeiros globais faz parte do próprio sucesso da economia da China, a segunda maior do mundo.

O adiamento das eleições pode gerar retaliações de potências do Ocidente, que desaprovam o aumento das restrições políticas em Hong Kong. Ministros das Relações Exteriores de Reino Unido, Estados Unidos e Austrália haviam se pronunciado nos últimos dias afirmando que observariam as eleições de Hong Kong de perto.

Com a nova lei de segurança nacional, os EUA já haviam retirado de Hong Kong um status especial que permitia à ilha não sofrer algumas das restrições comerciais e econômicas impostas ao território continental da China -- com quem os EUA enfrentam uma guerra comercial há pelo menos dois anos.

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