Equador: criminosos mascarados invadiram TV do país (Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 17h29.
Última atualização em 9 de janeiro de 2024 às 17h57.
Em meio a um recrudescimento da violência no Equador ligada ao crime organizado, agressores armados invadiram o canal de televisão TC e obrigaram os funcionários a deitarem no chão ao vivo.
Por volta das 14h30 (16h30 em Brasília), na transmissão ao vivo do programa, foram ouvidos tiros e gritos desesperados de pessoas pedindo para não atirar.
NOW - Gunmen storm Ecuador television studio, take hostages.https://t.co/9WRpGXL08y
— Disclose.tv (@disclosetv) January 9, 2024
A polícia local disse, em uma rede social, que todos os funcionários foram libertados e ninguém ficou ferido. A sede da emissora fica perto do aeroporto de Guiaquil.
O líder da maior e mais temida facção criminosa do Equador, a Los Choneros, fugiu da prisão no último domingo, e o presidente equatoriano, Daniel Noboa, decretou estado de exceção em todo o país para facilitar o trabalho das Forças Armadas. A decisão, afirmou, ocorreu em resposta às “tentativas dos grupos ‘narcoterroristas’ de nos amedrontar”. Desde 2011, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, cumpria uma pena de 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio.
Fito cresceu em Manta, cidade costeira da província de Manabí, local estratégico para o tráfico de drogas. Aos 44 anos, o atual chefe da facção tem 14 processos judiciais por crimes como homicídio, roubo, crime organizado e posse de armas. Esta não é a primeira vez que ele escapa da cadeia. Em 2013, chegou a ficar dez meses foragido após fugir com outros 15 reclusos da prisão de segurança máxima La Roca. Nesse período, os criminosos foram os mais procurados do país.
Quando foram detidos novamente, os agentes apreenderam 3,4 kg de maconha, cerca de 1 kg de cocaína, 147 munições, 195 fogos de artifício e outros itens, como geladeiras, freezers, aparelhos de ar-condicionado, caixas de som e celulares, segundo boletim divulgado pela Presidência de Guillermo Lasso (2021-2023). O documento não detalhou as armas de alto calibre utilizadas pelos presos.
Em julho de 2023, logo após o massacre na Penitenciária do Litoral, onde foram assassinados 31 presos, Fito anunciou um acordo de paz com outras gangues para acabar com extorsões e sequestros. Em vídeo, o líder aparecia sentado e, atrás dele, havia cinco homens — quatro presos armados e um policial da inteligência penitenciária. Na época, o governo descreveu o caso como um “incidente” e “impertinência policial”, segundo o Comandante da Polícia Fausto Salinas.
A ascensão de Fito à liderança de Los Choneros ocorreu em 2020, após o assassinato de Rasquiña, que comandava toda a gangue. Os Choneros ganharam fama como assassinos de aluguel, embora com o tempo tenham ampliado sua lista de crimes para extorsão, roubo e tráfico de drogas. Primeiros a criar ligações com cartéis estrangeiros, são o braço operacional do cartel mexicano de Sinaloa, o primeiro a ser detectado no tráfico de drogas em grande escala no país.
Após a morte de Rasquiña, a luta para ocupar o cargo levou violência às prisões do país: em 2021, uma onda de massacres deixou quase 300 mortos. Foi decidido, com balas e sangue, que Fito seria o responsável pela facção. Sua nomeação, no entanto, dividiu o grupo criminoso em outras gangues, que agora se chocam. Segundo especialistas, o Los Choneros têm um contingente de ao menos 8 mil homens.
Fito foi visto em público pela última vez em setembro, quando foi enviado a outra prisão de segurança máxima após o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. O político de 59 anos havia relatado, uma semana antes, que o chefe da gangue o havia ameaçado de morte. Para a transferência de Fito, uma megaoperação militar e policial foi montada: ao todo, 4 mil policiais foram mobilizados.
A mudança, porém, durou pouco. Menos de um mês depois, ele retornou à sua “prisão favorita” e desafiou o sistema ao lançar um clipe musical de dentro da cadeia. O vídeo “El Corrido del León” é interpretado pela dupla Mariachi Bravo e Queen Michelle, filha de Fito, e foi gravado em três ambientes: num bar, um campo com cavalos e a prisão regional onde o detento cumpria a pena.
“Ele é o patrão, e o patrão, senhores, é Adolfo Macías Villamar”, diz um trecho do clipe. Após a divulgação do vídeo, o órgão responsável pelo sistema prisional do Equador afirmou que “não foi autorizada a entrada de equipamentos de gravação ou produtoras audiovisuais no estabelecimento prisional”, razão pela qual reconheceu que as imagens “poderiam ter sido obtidas a partir de alguns equipamentos introduzidos ilegalmente”.
O vídeo também mostrou o líder da facção Los Choneros com chapéu e lendo um livro em uma das alas da prisão. O criminoso chegou a estudar na cadeia para obter o diploma de advogado.