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Hollande deixará o governo francês em plena crise socialista

As divisões dentro do partido ganharam mais destaque quando o ex-premiê Manuel Valls anunciou que quer ser candidato do movimento de Macron

Macron e Hollande: Macron prometeu rejuvenescer a classe política, com candidatos que, como ele, jamais ocuparam cargos eleitos (Philippe Wojazer/Reuters)

Macron e Hollande: Macron prometeu rejuvenescer a classe política, com candidatos que, como ele, jamais ocuparam cargos eleitos (Philippe Wojazer/Reuters)

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AFP

Publicado em 10 de maio de 2017 às 17h03.

O presidente francês, François Hollande, participou nesta quarta-feira de seu último conselho de ministros antes de passar o poder ao centrista Emmanuel Macron, cuja eleição deixou o Partido Socialista à beira da ruptura.

O contundente triunfo do novato de 39 anos, que assumirá o poder no domingo, provocou um choque nos partidos tradicionais de esquerda e direita, o que ameaça redesenhar o mapa político francês.

As divisões dentro do Partido Socialista, de Hollande, ganharam mais destaque desde terça-feira, quando o ex-primeiro-ministro Manuel Valls anunciou que deseja ser candidato do movimento de Macron, A República em Marcha, nas eleições legislativas de 11 e 18 de junho.

A oferta, no entanto, foi rejeitada pela nova maioria presidencial, que indicou nesta quarta-feira que a candidatura de Valls, que não está filiado ao movimento de Macron, não cumpre "no momento" os critérios exigidos.

"Atualmente, consideramos que não é oportuno para o movimento Em Marcha! contar com esta candidatura", resumiu um porta-voz.

Além disso, o candidato socialista à presidência, Benoît Hamon, anunciou nesta quarta-feira a criação de um movimento "transpartidário" para tentar "reconstruir a esquerda" após a derrota na eleição presidencial.

Hamon, que ficou em quinto lugar no primeiro turno, com apenas 6,4% dos votos, explicou, no entanto, que não vai abandonar o Partido Socialista.

Ele disse que seu movimento será lançado no dia 1º de julho, depois das eleições legislativas.

As votações de junho são cruciais para Emmanuel Macron, que trabalha na formação de um governo para travar a batalha das legislativas em um país profundamente dividido.

O jovem presidente centrista e pró-europeu almeja unir personalidades da direita e da esquerda moderadas com o objetivo de tentar construir uma maioria parlamentar, o que possibilitaria aplicar seu programa sem obstáculos.

Macron prometeu rejuvenescer a classe política, com candidatos que, como ele, jamais ocuparam cargos eleitos.

O presidente eleito anunciou que metade dos candidatos para as 577 cadeiras que estão em disputa na Assembleia Nacional nas legislativas serão rostos novos.

Abandono de uma Le Pen

A onda de choque da vitória de Macron também atingiu a extrema-direita. O partido Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen foi surpreendido com o anúncio da deputada Marion Maréchal-Le Pen, muito influente e sobrinha da candidata derrotada no segundo turno, se retira da política temporariamente.

Marion Maréchal-Le Pen, de 27 anos, considerada a estrela em ascensão do partido, explica em uma carta publicada em um jornal regional que renuncia a sua cadeira de deputada e abre mão de disputar um novo mandato nas legislativas por motivos "pessoais".

Alguns integrantes da FN a consideram uma alternativa, no momento em que legitimidade de Marine Le Pen era questionada após a dura derrota para Macron, eleito com 66,1% dos votos.

Na noite da derrota eleitoral, Marion, que representa a ala mais dura e tradicional da FN, admitiu uma "decepção" e pediu uma "reflexão" sobre a estratégia de sua tia.

Enquanto isso, o presidente em fim de mandato, Hollande, presidiu nesta quarta-feira seu último conselho de ministros. Ao final do dia, o governo apresentou sua demissão, conforme o previsto.

Após a última reunião de seu gabinete, Hollande participou ao lado de seu jovem sucessor, que foi seu ministro da Economia durante dois anos (2014-2016), em uma cerimônia comemorativa pela abolição da escravatura.

Hollande deixará o Palácio do Eliseu como um dos chefes de Estado mais impopulares da França, deixando para trás um cenário político extremamente complexo.

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