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Hogan e Thiel contra a fofoca

“A fofoca de hoje é a notícia de amanhã”, ainda diz o slogan do Gawker, um site norte-americano especializado na vida tanto de estrelas de Hollywood como em subcelebridades do entretenimento. Mas foi justamente por causa da lama da invasão de privacidade que a empresa de mídia acaba de se afundar. O site decretou falência […]

HULK HOGAN: ajudado por Peter Thiel, lutador americano ganhou processo milionário contra o site Gawker / Paul Kane/Getty Images

HULK HOGAN: ajudado por Peter Thiel, lutador americano ganhou processo milionário contra o site Gawker / Paul Kane/Getty Images

DR

Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2016 às 19h46.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h33.

“A fofoca de hoje é a notícia de amanhã”, ainda diz o slogan do Gawker, um site norte-americano especializado na vida tanto de estrelas de Hollywood como em subcelebridades do entretenimento. Mas foi justamente por causa da lama da invasão de privacidade que a empresa de mídia acaba de se afundar. O site decretou falência nesta sexta-feira ao se tornar incapaz de pagar uma condenação de 140 milhões de dólares decretada em março — num caso que envolve o vazamento de vídeos de sexo, em 2012, do lutador Hulk Hogan. Uma peça-chave nessa história é o empresário Peter Thiel, cofundador do serviço de pagamentos PayPal e primeiro investidor profissional do Facebook.

O enredo todo é melhor que notícia de tabloide. Peter Thiel foi o responsável por financiar — por muito tempo clandestinamente — as causas judiciais de Hogan, campeão mundial de luta-livre conhecido por usar bandanas coloridas e
adotar um bigode encorpado como de um mexicano e longo como o de um lutador de kung fu. Thiel fez de Hogan seu testa de ferro por ser alvo frequente da acidez do Gawker. O empresário já estampou manchetes como “Gente, Peter Thiel é totalmente gay”, em 2007, e seu nome também apareceu em frases que o insinuavam como um “contraditório” personagem: o bilionário que “se divide entre o cristianismo e festas gay calientes”.

Até o presidente e fundador do Gawker, Nick Denton, admitiu que Thiel fez uma jogada de mestre. “Se você é um bilionário e não gosta da cobertura que fazem de você, mas também não quer se envolver em nenhum escândalo público, é uma atitude bem esperta e racional financiar casos legais de outras pessoas”, afirmou ao The New York Times na última terça-feira.

O caso foi tão bem-sucedido que o lutador Hulk Hogan levou para casa mais dinheiro do que havia pedido. Ele queria 100 milhões de dólares pela exposição indevida do seu vídeo íntimo — que o mostrava fazendo sexo com a esposa de um amigo — mas o juiz cravou a sentença em 115 milhões para cobrir os danos morais e, depois, ainda garantiu um adicional de 25 milhões dólares.

Hogan ganhou a causa, mas não deixa de provocar polêmicas. No ano passado, ele foi demitido do reality show Tough Enough, do qual era juiz das competições, por fazer comentários racistas. O caso foi amplamente coberto pelo Gawker. O site também descobriu que Peter Thiel, um declarado apoiador de Donald Trump, pagou, em 2008, 1 milhão de dólares para a NumbersUSA, uma organização anti-imigrantes frequentemente taxada de racista e autoritária. Ao vencer o processo, essa dupla polêmica conseguiu silenciar seu principal algoz.

Nick Denton colocou a empresa à venda após 13 anos de jornalismo focado em celebridades e com uma média de 23 milhões de visitas por mês em 2015. Fontes afirmaram ao The New York Times que, em breve, um leilão será anunciado e que a empresa de mídia ZiffDavis deve apresentar uma oferta de até 100 milhões de dólares — um valor ainda abaixo do tamanho da dívida na justiça.

Apesar do leilão ainda não passar de boato, os leitores já podem começar mesmo a se despedir das alfinetadas do Gawker. Se a ZiffDavis for confirmada como compradora, ela trará sua tradição de 89 anos para o comando do site. A ZiffDavis sempre se dedicou a um público de alta renda e caros anunciantes. Especializada em falar para homens sobre carros, estilo de vida e tecnologia em revistas impressas, só em 2010 a editora se consolidou como uma empresa de mídia digital. No final de 2015, se mostrou uma gigante de 117 milhões de leitores em mais de 100 países. Com décadas de presença no mercado editorial, deverá evitar a publicação de vídeos íntimos ou expressões pesadas. Em princípio, deverá se tornar inofensiva a Thiels e a Hogans. Mas só até a próxima fofoca surgir.

(Camila Almeida)

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