Casa hipotecada nos EUA: parcela hispânica que compra casas no mercado de hipotecas caiu para 22 por cento em 2013 (AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 23h35.
Los Angeles/Boston - José Ramos viveu o sonho americano como agente imobiliário e como dono de duas casas na cidade de Santa Ana, na Califórnia, EUA, de maioria hispânica.
Quase uma década depois, ter uma casa própria é algo que agora está fora do alcance do imigrante mexicano de 48 anos de idade.
Ramos contou que a crise imobiliária de 2007 reduziu sua renda drasticamente e ele perdeu as duas casas, cujas hipotecas foram executadas.
Desde então, os padrões hipotecários se tornaram mais restritos e ele já não consegue comprar um imóvel em seu bairro porque os investidores aumentaram os preços quase aos níveis pré-crise.
“As taxas de juros estão baixas, mas os preços estão muito altos”, disse Ramos, durante uma entrevista no apartamento de dois quartos que ele divide com sua mulher e três filhas. “Onde está a oportunidade?”.
Tomadores de empréstimos de origem hispânica como Ramos foram mais excluídos da recuperação imobiliária na Califórnia nos últimos dois anos do que outros grupos, tendo negada a chance de reconstruir sua riqueza por meio da casa própria.
A parcela hispânica que compra casas no mercado de hipotecas caiu para 22 por cento em 2013, contra 24 por cento no ano anterior e pouco mais da metade do pico de 2006, segundo uma análise de dados federais de empréstimos do Urban Institute, um grupo de pesquisas não partidário com sede em Washington.
No ano passado, a parcela relativa a negros caiu de 3,1 por cento para 2,8 por cento, enquanto a porção para brancos e asiáticos teve um aumento.
Mais hispânicos estão sendo mantidos fora do mercado apesar de essa população estar crescendo, tendo superado os brancos neste ano como o maior grupo étnico da Califórnia.
Os hispânicos agora representam 39 por cento da população, segundo o órgão estatal de dados demográficos.
Acumulando riqueza
“A comunidade hispânica responderá por uma fatia cada vez maior da população”, disse Taz George, pesquisador do Urban Institute.
“Se eles estão tendo dificuldade para serem aceitos para os empréstimos ou para bancar a aquisição de residências, há enormes implicações sobre sua capacidade de acumular riqueza ao longo do tempo”.
O encolhimento das oportunidades econômicas para hispânicos na Califórnia, que registrou uma taxa de desemprego de 9,2 por cento em agosto, pode se tornar um problema político.
A influência crescente do grupo e a inclinação para o Partido Democrata têm tornado difícil que os republicanos conquistem cargos públicos em todo o estado, disse Mark Baldassare, CEO do Instituto de Política Pública da Califórnia, um grupo não partidário.
A casa própria continua sendo uma fonte significativa de riqueza após a crise imobiliária, segundo um estudo de setembro de 2013 do Centro Conjunto de Estudos sobre Habitação da Universidade de Harvard.
A posse de residências está ligada de forma consistente a aumentos de até US$ 10.000 em patrimônio líquido por ano, disse o estudo. Como contraste, os locatários geralmente não conseguem nenhum aumento de patrimônio.
A taxa de casa própria para hispânicos da Califórnia era de 41,9 por cento no ano passado, contra 62,7 por cento para brancos não hispânicos, segundo o Censo dos EUA. A taxa entre os hispânicos era de 47,9 por cento em 2006.
O desafio para os hispânicos é maior no estado da Califórnia, que está entre os estados mais caros dos EUA no setor da habitação.
O preço médio de uma residência familiar era de US$ 480.280 em agosto, 8,9 por cento a mais que um ano antes, segundo a Associação de Corretores de Imóveis da Califórnia.
O preço médio da residência americana era de US$ 219.800 em agosto, reportou a Associação Nacional de Corretores na semana passada.
O deputado federal Mark Takano, um democrata que representa um distrito de maioria hispânica no Condado de Riverside, na Califórnia, região leste de Los Angeles, disse que está preocupado com o número de residências em seus bairros que pertencem a investidores e não a famílias com uma participação na comunidade.
“Os latinos representam a futura classe média da Califórnia e há um problema político aqui. É um tema para a comunidade latina apoiar: melhores políticas e oportunidade para incentivar a casa própria”, disse Takano.