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Hillary Clinton obtém indicação histórica

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Hillary Rodham Clinton, 68, fez história ontem ao se tornar a primeira mulher a ser indicada candidata à Presidência dos Estados Unidos por um dos dois grandes partidos do país. Como de praxe, as delegações anunciaram no fim da tarde os votos de seus respectivos estados. A votação foi […]

HILLARY CLINTON:  Os democratas terão de decifrar por que a classe branca trabalhadora votou esmagadoramente contra seus próprios interesses econômicos / Lucas Jackson/File Photo

HILLARY CLINTON: Os democratas terão de decifrar por que a classe branca trabalhadora votou esmagadoramente contra seus próprios interesses econômicos / Lucas Jackson/File Photo

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Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2016 às 07h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Hillary Rodham Clinton, 68, fez história ontem ao se tornar a primeira mulher a ser indicada candidata à Presidência dos Estados Unidos por um dos dois grandes partidos do país. Como de praxe, as delegações anunciaram no fim da tarde os votos de seus respectivos estados. A votação foi uma mera formalidade, afinal de contas Hillary Clinton já tinha garantidos os votos necessários para receber a indicação do Partido Democrata. Mas o momento ganhou simbolismo especial quando seu ex-adversário das primárias, Bernie Sanders, tomou a palavra no fim da votação para pedir a aclamação de Clinton por todo o plenário. Em 2008, depois de uma disputa interna duríssima contra Barack Obama, Hillary fez o mesmo pelo senador que viria a ser eleito presidente. As palavras de Sanders concluíram um segundo dia de negociações intensas entre as campanhas de ambos.

Pelo segundo dia consecutivo, havia o temor de que militantes pró-Bernie tentassem causar tumulto durante a convenção. Do lado de fora da Wells Fargo Arena, na Filadélfia, um grupo de apoiadores de Bernie invadiu a tenda da imprensa para protestar contra a indicação de Clinton, que, segundo eles, teria sido injustamente favorecida pela liderança do partido. A acusação ganhou peso depois do vazamento de milhares de emails internos dos democratas no final de semana, e muitos dos manifestantes estavam com a boca coberta por fita adesiva, dando a entender que foram silenciados à força. Depois da votação em plenário, alguns delegados abandonaram o plenário para protestar contra a vitória de Clinton e, à noite, houve relatos de enfrentamentos com a polícia.

Os protestos estão restritos a um grupo pequeno de militantes, mas a comoção tem levantado dúvidas em relação à união do partido nos três meses até a eleição geral.

No principal discurso da noite, entretanto, a adoração dos democratas pelo ex-presidente Bill Clinton calou eventuais discordâncias. Clinton, considerado um dos maiores oradores da história americana, falou sobre o dia em que conheceu Hillary Rodham, em 1971, mas não teve coragem de falar com ela. Foi só na terceira tentativa que ela aceitou seu pedido de casamento. As histórias não são novas, mas têm importância na campanha para tentar pintar uma imagem mais pessoal e humana de uma candidata considerada por muitos uma política profissional, fria e de pouco carisma.

Clinton narrou a história do relacionamento de ambos – sem mencionar o caso extraconjugal que ele teve com a estagiária Monica Lewinski, claro – e ao mesmo tempo foi contando o desenvolvimento político de sua mulher: defendendo os direitos de crianças portadoras de deficiências, de jovens negros e de eleitores latinos. “Em mais de 30 anos, ela provocou mais mudanças positivas que muitos políticos em uma vida inteira”, disse Clinton.

O discurso também foi uma tentativa da campanha de Clinton de retomar a narrativa sobre a passagem de Hillary pelo Departamento de Estado, durante o primeiro mandato de Obama. A campanha de Trump insiste em retratar uma gestão que fez dos Estados Unidos um país acuado internacionalmente e potencialmente criminosa. Hillary Clinton foi inocentada no escândalo do sistema privado de e-mail que usou quando era secretária de Estado, mas durante a convenção republicana ouviram-se diversas vezes gritos pedindo sua prisão. Bill Clinton ressaltou o papel da mulher em crises do Oriente Médio, na caça a Osama Bin Laden, na Conferência do Clima, em Copenhague, e na luta pela defesa dos direitos da população LGBT. “Você pode largá-la em um lugar problemático e um mês depois a situação terá melhorado”, disse o ex-presidente.

Como Trump na semana passada, Hillary Clinton também rompeu com a tradição e apareceu em vídeo na segunda noite da conferência, falando ao vivo de sua casa em Chappaqua, no estado Nova York. Ela agradeceu a votação da tarde e disse: “Não acredito que conseguimos a maior rachadura até hoje nesse teto de vidro. Se alguma menina ainda estiver acordada (Hillary falou às 23h13) assistindo, deixe-me dizer: posso me tornar a primeira mulher presidente, mas uma de vocês será a próxima”.

A classe artística também está demonstrando em peso sua preferência por Hillary – especialmente as mulheres. Enquanto a convenção republicana contou com a presença de artistas de segundo e terceiro escalão e participantes de reality shows, na Filadélfia estrelas sobem ao palco todos os dias. Na terça-feira, foi a vez de Meryl Streep, que disse que Hillary Clinton “será a primeira e não será a última presidente dos Estados Unidos”. As atrizes da TV Lena Dunham (criadora da série Girls) e America Ferrera (estrela de Ugly Betty) também falaram na Filadélfia. “Segundo Donald Trump, meu corpo é provavelmente nota 2”, disse Dunham. “E eu provavelmente sou estupradora”, emendou Ferrera, filha de imigrantes hondurenhos. As atrizes que subiram no palanque de Hillary reforçaram o apelo da candidata junto às mulheres – e, é claro, lembraram das declarações misóginas de Trump.

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