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Helicópteros de elite dos EUA sobrevoam o Caribe a menos de 150 km da Venezuela, diz jornal

Voos seriam parte de treinamentos, mas ocorrem em meio à ampliação das operações americanas contra supostos traficantes na região

Venezuela: Trump teria autorizado operação secreta da CIA (Pedro Mattey/AFP)

Venezuela: Trump teria autorizado operação secreta da CIA (Pedro Mattey/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 15h13.

Helicópteros de Operações Especiais do Exército dos Estados Unidos parecem ter voado em águas caribenhas a menos de 145 quilômetros da costa da Venezuela nos últimos dias, de acordo com uma análise visual do jornal americano Washington Post. A movimentação ocorre em meio à ampliação das ações militares americanas na região — que já incluem ataques a pelo menos cinco embarcações, com 27 mortos — e à autorização do presidente dos EUA, Donald Trump, para que a CIA conduzisse operações secretas dentro do país, mirando o governo de Nicolás Maduro.

Em entrevista ao Washington Post, uma autoridade americana, que falou sob condição de anonimato, afirmou que os helicópteros participavam de exercícios de treinamento, mas admitiu que as manobras poderiam servir como preparação para uma operação ampliada contra supostos traficantes de drogas — incluindo, potencialmente, missões dentro da Venezuela.

Washington já afirmou que está em “conflito armado” com traficantes de drogas. Desde o primeiro ataque americano próximo da costa venezuelana, no início de setembro, pelo menos cinco embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico foram abatidas pelo Exército dos EUA, deixando 27 mortos. O último incidente, registrado na terça-feira, matou seis pessoas. Legisladores e especialistas jurídicos classificam as ações como "assassinatos de pessoas suspeitas".

No início do mês, imagens que circularam nas redes sociais mostraram helicópteros MH-6 Little Bird e MH-60 Black Hawk sobrevoando o mar caribenho perto de plataformas de petróleo e gás. A análise visual do Post indica que as aeronaves estavam voando ao largo da costa nordeste de Trinidad e Tobago, a cerca de 145 quilômetros da costa venezuelana.

Segundo Mark Cancian, consultor sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, as aeronaves provavelmente são operadas pelo 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais — a mesma unidade responsável por missões de alto risco, como o ataque que matou Osama bin Laden no Paquistão, em 2011.

"A inclusão dos Little Birds, pequenas aeronaves de ataque projetadas para inserir operadores no solo e fornecer apoio aéreo aproximado, sugere preparativos para potenciais missões que podem incluir tropas americanas em solo", afirmou Cancian em entrevista ao Post, acrescentando que os Black Hawks "poderiam ser usados em apoio, transportando tropas adicionais, realizando busca e resgate em combate ou outras operações complementares".

Procurado pelo jornal americano, o Pentágono se recusou a responder a perguntas sobre as operações. “O Departamento não responderá a especulações sobre operações militares baseadas em análises de ‘especialistas’”, afirmou o comunicado.

Navios ligados aos helicópteros

Especialistas apontam que o MV Ocean Trader — um navio comercial convertido em base flutuante furtiva de Operações Especiais — parece ter atuado recentemente no Caribe e pode estar relacionado às aeronaves observadas.

Bradley Martin, pesquisador sênior de políticas da Rand Corporation e ex-capitão da Marinha dos EUA, afirmou que o navio tem capacidade para transportar cerca de 200 pessoas, das quais 150 são dedicadas a missões especiais.

"Ele pode transportar diversas aeronaves, incluindo potencialmente os helicópteros mostrados no vídeo, além de oferecer serviços de reabastecimento e manutenção", explicou Martin ao Post.

No dia 25 de setembro, imagens de satélite mostraram um navio com o mesmo comprimento e composição visual do MV Ocean Trader atracado em St. Croix, nas Ilhas Virgens Americanas. Em 6 de outubro, novas imagens pareciam indicar o mesmo navio operando no Caribe, a cerca de 64 quilômetros a leste de Trinidad — algumas dezenas de quilômetros do local onde os helicópteros foram filmados.

Analistas estimam que cerca de um décimo de todo o poder naval dos EUA está atualmente na região, representando uma reordenação “sísmica” de ativos, incluindo um submarino, contratorpedeiros e caças F-35 mobilizados em Porto Rico. A Venezuela, por sua vez, mantém sistemas robustos de defesa aérea, com equipamentos de fabricação russa como lançadores de mísseis S-300 e outras armas móveis de difícil rastreamento.

"Tais sistemas não representam grande ameaça aos helicópteros americanos quando operam no mar", acrescentou Cancian. "Mas armas portáteis de curto alcance, como o SA-24, que detectam o calor de motores de turbina, são particularmente preocupantes caso as aeronaves cruzem o território venezuelano."

Já outra autoridade americana, também em entrevista ao Post, afirmou que os voos seriam apenas treinamentos para manter a proficiência das tripulações e fornecer opções para Trump e o Pentágono em missões na região.

"Os voos não devem ser interpretados como evidência de exercícios para um ataque terrestre à Venezuela", assegurou a fonte.

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