Haiti: o país vive dias de caos após o assassinato do presidente haitiano. (Reprodução/AFP)
AFP
Publicado em 10 de julho de 2021 às 09h02.
O Haiti pediu aos Estados Unidos e à ONU que enviem tropas para proteger seus portos, aeroportos e outros locais estratégicos após o assassinato do presidente Jovenel Moise, declarou um ministro do governo haitiano nesta sexta-feira (9).
Dois dias depois de Moise ser brutalmente assassinado em um ataque armado à sua residência, “pensamos que os mercenários [acusados do crime] poderiam destruir alguma infraestrutura para criar o caos no país”, afirmou o ministro de eleições, Mathias Pierre.
“Durante uma conversa com o secretário de Estado dos Estados Unidos e a ONU, fizemos esse pedido”, acrescentou.
O Departamento de Estado e o Pentágono confirmaram ter recebido um pedido de "assistência de segurança e investigação" e disseram que estavam em contato com Porto Príncipe, mas não especificaram se tropas militares seriam enviadas.
Uma fonte diplomática da ONU disse ter recebido o pedido, mas que uma resolução do Conselho de Segurança é necessária para enviar um contingente.
Washington já disse que enviará o FBI (polícia federal) e outros agentes ao Haiti o mais rápido possível, onde o assassinato de Moise deixou um vácuo de poder na conturbada e empobrecida nação caribenha.
Enquanto isso, o Haiti tenta determinar quem ordenou o ataque supostamente executado por um esquadrão armado de 28 pessoas: 26 colombianos e dois americanos de origem haitiana.
Destes, 15 colombianos e dois americanos foram presos, enquanto três colombianos foram mortos pela polícia e outros oito permanecem foragidos, disse a polícia haitiana. Há alguma discrepância nos números com relatórios de outras fontes oficiais.
Altos funcionários do exército e da polícia colombianos relataram que pelo menos 17 ex-militares colombianos estariam supostamente envolvidos no assassinato.
Depois de se comunicar com o primeiro-ministro haitiano, Claude Joseph, o presidente colombiano, Iván Duque, disse que seu país oferecerá "toda a colaboração", inclusive enviando uma missão de inteligência ao Haiti para encontrar "os autores materiais e intelectuais do assassinato".
Por sua vez, Taipei disse que 11 dos suspeitos foram detidos no complexo da embaixada taiwanesa em Porto Príncipe.
A capital haitiana, paralisada há vários dias, retomou gradativamente suas atividades nesta sexta-feira, com um maior número de pessoas nas ruas e o transporte público reativando gradativamente seu serviço, ainda que sob o manto da apreensão.
As pessoas correram para abastecer os supermercados e fazer fila nos postos de gasolina para comprar o propano que usam para cozinhar, na expectativa de mais dias de instabilidade.
Não sei o que vai acontecer amanhã ou depois de amanhã no país, então estou me preparando para os dias ruins que virão", declarou Marjory, moradora de Porto Príncipe, à AFP.
O aeroporto da capital, fechado após o ataque, parecia ter reaberto nesta sexta-feira, segundo informações da Flightradar.
Neste país de 11 milhões de habitantes, onde mais da metade da população tem menos de 20 anos, todos se perguntam como pode ter acontecido um ataque fatal ao chefe de Estado.
“São estrangeiros que vieram ao país para perpetrar este crime. Nós, os haitianos, estamos consternados”, disse à AFP um morador da capital. "Precisamos saber quem está por trás disso, seus nomes, seus antecedentes para que a justiça possa fazer seu trabalho."
Vários oficiais da polícia, diretamente responsáveis pela segurança do presidente haitiano, estão na corda bamba e foram convocados ao tribunal, anunciou na quinta-feira o promotor-chefe de Porto Príncipe, Bed-Ford Claude.
"Se você é o responsável pela segurança do presidente, onde estava? O que você fez para evitar esse destino para o presidente?", perguntou Bed-Ford Claude.
Outros até sustentam a possível implicação desses policiais, o que aumentou a confusão.
"Moise foi assassinado por seus agentes de segurança. Não foram os colombianos que o assassinaram. Eles foram contratados pelo Estado haitiano", acusou o ex-senador Steven Benoit à rádio nesta sexta-feira.
O assassinato desestabiliza ainda mais o país mais pobre da América, devastado pela insegurança, que agora carece de um presidente e de um Parlamento ativo, já que dois homens afirmam estar no comando e disputam o cargo de primeiro-ministro.
Um dos últimos gestos políticos de Moise foi nomear Ariel Henry como o novo primeiro-ministro na segunda-feira, substituindo Claude Joseph.
Henry ainda não havia assumido o cargo no momento do assassinato.
Pouco depois do ataque, o primeiro-ministro interino Joseph declarou estado de sítio por quinze dias, concedendo ao Executivo maiores poderes.
Enquanto a oposição acusa Joseph de tomar o poder, a enviada da ONU ao Haiti, Helen La Lime, considerou que ele é a autoridade legítima, já que Henry não prestou juramento.