António Guterres: O secretário-geral da ONU condena a restrição de ajuda humanitária em Gaza e exige ações por parte de Israel (Amanuel Sileshi/AFP)
Agência de Notícias
Publicado em 8 de abril de 2025 às 15h31.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, avisou nesta terça-feira que não aceitará as novas condições impostas por Israel para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que o governo israelense chamou de "mecanismo de autorização".
"Não participaremos de nenhum acordo que não respeite os princípios humanitários: humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade", disse o político português aos repórteres, ao afirmar que as novas condições ameaçam "limitar cruelmente até a última caloria e até o último grão de farinha".
Guterres chamou os jornalistas para lembrá-los de que "nem uma migalha de ajuda" entra em Gaza há um mês: nem alimentos, nem combustível, nem remédios, nem suprimentos comerciais, e que "as comportas do horror foram reabertas", transformando Gaza em "um campo de extermínio".
O secretário-geral, em amarga discordância com o governo de Netanyahu - que não responde a seus apelos há um ano e meio - lembrou a Israel que, "como potência ocupante, tem obrigações inequívocas sob a lei internacional", tanto em termos de princípios humanitários quanto de respeito aos direitos humanos.
O chefe da ONU citou três artigos da Quarta Convenção de Genebra (sobre a proteção de civis em tempos de guerra) que especificam que a potência ocupante tem a obrigação de garantir suprimentos médicos para a população, bem como de manter hospitais e centros de saúde nos territórios que ocupa, e de garantir "mecanismos de socorro" em áreas com problemas de suprimento.
"Nada disso está acontecendo hoje" na Faixa de Gaza, enfatizou.
Guterres também mencionou último ataque a uma equipe do Crescente Vermelho Palestino, cujos 15 integrantes foram mortos em vários ataques aéreos por Israel e, em seguida, seus corpos e até mesmo seus veículos - que foram devidamente identificados - foram enterrados entre toneladas de terra.
O secretário-geral pediu "uma investigação independente" sobre as mortes desses trabalhadores e também de outros funcionários da ONU, referindo-se aos 408 trabalhadores humanitários mortos desde o início da guerra.
"Os Estados-membros da ONU devem respeitar suas obrigações de acordo com o direito humanitário. É preciso que haja justiça e responsabilidade quando eles não o fizerem", concluiu.