Parentes de vítimas da avalanche se emocionam em Katmandu, Nepal: esta foi a tragédia com o maior número de mortes na história do Everest (Prakash Mathema/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2014 às 12h37.
Katmandu - Os guias nepaleses anunciaram nesta terça-feira à AFP que não pretendem mais escalar o Monte Everest na atual temporada, em respeito aos colegas mortos na sexta-feira passada em uma avalanche, o que acabou com os planos de centenas de alpinistas estrangeiros.
Os sherpas constituem uma ajuda crucial para a escalada da maior montanha do planeta, com o transporte de barracas e mantimentos, mas também com o reparo de material de escalada ou fixando as cordas para ajudar os clientes a alcançar os 8.848 metros de altura.
O governo concedeu licença de escalada a 734 pessoas esta temporada, incluindo 400 guias, para um total de 32 expedições ao Everest. Os alpinistas pagam dezenas de milhares de dólares para uma expedição ao topo do mundo.
"Nós tivemos uma longa reunião esta tarde e decidimos não escalar mais este ano em homenagem aos nossos irmãos. A decisão dos sherpas é unânime", disse um deles, Tulsi Gurung, no acampamento base.
"Alguns guias já foram embora e outros ficarão aqui durante aproximadamente uma semana, o tempo de empacotar tudo e partir", disse Gurung, que perdeu um irmão na tragédia.
Treze sherpas morreram na sexta-feira em uma avalanche e os corpos de outros três permanecem sepultados sob a neve.
Esta foi a tragédia com o maior número de mortes na história da maior montanha do planeta.
"Dezesseis pessoas morreram nesta montanha no primeiro dia de subida. Como vamos escalar?", questionou o guia Pasang Sherpa.
A decisão parece antecipar o fim das negociações entre os sherpas e o governo do Nepal.
Os guias ameaçaram acabar com a temporada caso o governo não atendesse suas reivindicações até segunda-feira, em particular o aumento da ajuda financeira para as famílias das vítimas e o aumento da cobertura do seguro.
Vários alpinistas ocidentais abandonaram o acampamento base nesta terça-feira com destino a Katmandu, com o objetivo de tentar ajudar a resolver a crise.
"Decidiram que a indenização não é o único tema. Eles acreditam que o Everest deveria ser fechado este ano em memória dos mortos", disse à AFP Ed Marzec, um alpinista americano que está no acampamento base.
Marzec, advogado de 67 anos que pretendia virar o americano de mais idade a alcançar o topo do Everest, explicou que o ambiente estava muito tenso no acampamento base, já que alguns alpinistas tentavam convencer os sherpas a retornar ao trabalho.
"Os ânimos ficaram acirrados entre os guias sherpas, que demonstram suas emoções", contou em seu blog Tim Ripper, um alpinista acostumado a expedições no Everest.
Os sherpas - nome de um grupo étnico conhecido por suas aptidões para as escaladas - ganham entre 3.000 e 6.000 dólares por temporada, mas não têm uma boa cobertura de seguro. Eles também desejam que o governo pague 10.000 dólares às famílias dos guias mortos ou dos que ficaram feridos e não têm condições de voltar ao trabalho.
Mais de 300 pessoas, sobretudo sherpas, morreram na montanha desde a primeira escalada ao topo do mundo em 1953, pelo neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay.
*Atualizada às 12h37 do dia 22/04/2014