As Linhas de Nazca, com mais de 2.000 anos, continuam a intrigar o mundo com seus enigmáticos geoglifos visíveis apenas do alto. (funkz / Flickr)
Publicado em 17 de abril de 2025 às 17h32.
As Linhas de Nazca são um dos maiores mistérios arqueológicos da América do Sul e uma das expressões mais impressionantes da arte geoglífica do mundo antigo. Localizadas no deserto de Nazca, no sul do Peru, essas gigantescas figuras foram traçadas diretamente sobre o solo árido e seco da região, que ajudou a preservá-las por séculos.
Estima-se que as linhas tenham sido feitas entre 500 a.C. e 500 d.C., cobrindo uma área de mais de 500 km², com figuras que chegam a até 370 metros de extensão.
De cima, é possível reconhecer formas de animais como macacos, colibris, aranhas, além de figuras geométricas e humanoides. O acesso visual, no entanto, só foi plenamente compreendido após o surgimento da aviação, o que aumentou ainda mais seu fascínio. Entenda melhor sobre o assunto!
De modo geral, pode-se dizer que tais linhas são geoglifos, ou seja, figuras desenhadas no chão ao remover pedras superficiais mais escuras e revelar o solo mais claro abaixo.
Essas figuras formam desenhos altamente elaborados e precisos, cuja escala monumental só pode ser totalmente apreciada do alto. São mais de 800 linhas retas, 300 figuras geométricas e cerca de 70 desenhos biomorfos — representações de seres vivos.
O propósito exato das linhas ainda é alvo de debate, mas a maioria dos estudiosos acredita que elas tinham significados religiosos e astronômicos.
A criação das linhas foi feita de maneira engenhosa e manual, utilizando ferramentas simples de madeira para traçar linhas retas e formas sobre o solo.
O clima extremamente seco, sem chuvas e com pouca erosão, ajudou na conservação dos desenhos por milênios. Estudos mostram que os Nazcas removeram as pedras da superfície, de cor escura, revelando a areia clara por baixo, o que criou um contraste visível.
A precisão das formas sugere que os criadores usaram cordas e estacas como guias para manter os traços simétricos.
O povo Nazca habitou a região sul do atual Peru entre os séculos I e VIII da era cristã. Eles eram conhecidos por sua engenharia hidráulica, com sistemas de aquedutos subterrâneos, cerâmica decorativa e técnicas avançadas de agricultura adaptadas ao clima árido. Apesar de viverem em uma região desértica, conseguiram desenvolver uma cultura complexa e artisticamente rica.
As Linhas de Nazca são uma das manifestações mais marcantes dessa civilização, que desapareceu por volta do século VIII, provavelmente em consequência de mudanças climáticas e esgotamento ambiental.
Alguns dos símbolos mais conhecidos são:
Colibri: Com uma grande representação de um pássaro, que mede cerca de 100 metros de comprimento. A figura do colibri pode estar ligada à espiritualidade e à adoração de deuses da natureza;
Macaco: Este geoglifo retrata um macaco de cerca de 100 metros de comprimento, com uma forma detalhada e curvada que parece ter um “dedo” apontando para o céu, o que sugere um possível significado astronômico ou religioso;
Aranha: Outra figura bastante visível, com cerca de 46 metros de comprimento. Alguns estudiosos acreditam que a aranha possa estar associada à adoração de uma divindade da fertilidade ou até com alguma associação ao ciclo da vida e morte;
Condor: Este é um grande pássaro com asas abertas, com uma envergadura de cerca de 130 metros. Assim como outras figuras, o condor pode ter simbolizado uma conexão espiritual com o céu ou os deuses;
Cão: Um dos símbolos mais misteriosos, o cão tem 56 metros de comprimento. A interpretação desse desenho é mais difícil, mas acredita-se que poderia representar um animal de sacrifício ou um guia espiritual;
Astronauta: Uma das representações mais intrigantes, chamada de "astronauta", tem a forma de uma figura humana com uma espécie de capacete. Essa imagem gerou muitas teorias especulativas, principalmente sobre a relação com possíveis contatos extraterrestres, embora não haja evidências para isso;
Linhas e Formas Geométricas: Além das figuras de animais e humanos, há muitas linhas retas, triângulos, espirais e formas geométricas que cruzam a região. Elas podem ter servido para propósitos religiosos ou como caminhos cerimoniais, embora a função exata ainda seja debatida.
O estudo das Linhas de Nazca continua sendo uma das questões mais fascinantes da arqueologia, principalmente devido à impossibilidade de compreender completamente o propósito dessas representações, que só podem ser apreciadas em toda a sua magnitude a partir do alto.
Não há consenso definitivo sobre o significado das linhas. Algumas teorias apontam que elas eram parte de rituais religiosos ligados ao culto da água e da fertilidade, essenciais para a sobrevivência no deserto.
Outras hipóteses sugerem que as figuras funcionavam como um calendário astronômico ou caminhos cerimoniais. Há também interpretações mais especulativas, que envolvem contatos com civilizações extraterrestres — embora não haja evidências concretas que sustentem essas ideias.
O certo é que a função simbólica das Linhas de Nazca está profundamente ligada à cosmovisão do povo que as criou.
Mesmo após séculos de pesquisa, elas seguem desafiando explicações definitivas. Sua escala, precisão e durabilidade surpreendem arqueólogos, engenheiros e turistas do mundo todo.
Em 1994, a UNESCO reconheceu o conjunto como Patrimônio Mundial da Humanidade, reforçando sua importância histórica e cultural.
A cada nova descoberta, como figuras ainda não catalogadas encontradas com o auxílio de drones e imagens de satélite, surgem mais perguntas sobre como uma civilização pré-colombiana, sem acesso à tecnologia moderna, conseguiu criar um legado tão impactante.
Compreender a história desses geoglifos é mais do que conhecer uma atração turística: é mergulhar na complexidade de uma civilização que usou arte, ciência e religião para interagir com seu ambiente de forma única.
Em tempos de alta tecnologia e urbanização acelerada, essas marcas milenares nos lembram da engenhosidade humana e da conexão ancestral entre natureza, espiritualidade e conhecimento. Saber disso é valorizar o patrimônio cultural da humanidade e ampliar a perspectiva sobre a história da América do Sul.