Os sequestros se tornaram cada vez mais frequentes nos anos de violência após a invasão liderada pelos Estados Unidos que acabou com o regime de Saddam Hussein, em 2003 (Mohammed Ameen/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2013 às 21h24.
Qawthar Shihab Ahmed espera que seu irmão, sequestrado em 2007, em Bagdá, por homens vestindo uniformes da polícia, esteja detido em uma prisão secreta, provavelmente a única esperança de que ele esteja vivo.
Seu irmão Arkan é um dos milhares de iraquianos que desapareceram nos últimos dez anos de conflito. Alguns foram detidos diante da vista de seus familiares, outros desapareceram em circunstâncias desconhecidas.
"Esperamos, oh Deus, se é a vontade de Deus... Que esteja nas prisões secretas", disse Qawthar em alusão às instalações de detenção secretas do governo denunciadas pelos grupos defensores dos direitos humanos, apesar de as autoridades negarem sua existência.
Arkan está desaparecido desde o dia 26 de agosto de 2007, quando veículos que transportavam homens com uniformes da polícia federal chegaram à zona de Saba Abkar, no norte de Bagdá, onde vive sua família, explicaram Qawthar e seu irmão Ahmed.
O irmão relatou que os homens efetuaram disparos para o ar, prenderam pessoas em vários cafés e lojas e espancaram seu pai, Shihab. Arkan tentou defendê-lo, mas ambos foram levados presos.
Shihab foi libertado pouco depois, mas Arkan, pai de duas meninas, não regressou.
A família o buscou no necrotério e no Ministério do Interior, e visitou com frequência os escritórios da secretaria de Direitos Humanos. "Até hoje não tivemos notícias", comentou Qawthar.
Não está claro se os homens envolvidos eram da polícia, ou militantes vestidos com uniformes policiais, uma tática comum naquela época.
A polícia federal já foi acusada no passado de realizar ataques sectários.
Os sequestros se tornaram cada vez mais frequentes nos anos de violência após a invasão liderada pelos Estados Unidos que acabou com o regime de Saddam Hussein, em 2003. Especialmente após o ataque ao santuário xiita em Samarra, em 2006, quando detonou uma sangrenta guerra sectária.
No momento em que a violência está más ou menos sob controle, muitos iraquianos ainda buscam seus familiares desaparecidos, com a esperança de que estejam com vida.
Há cerca de 16.000 desaparecidos no Iraque, de acordo com Arkan Thamer Saleh, diretor do departamento de Assuntos Humanitários do ministério de Direitos Humanos, que ajuda nas buscas. Porém, a cifra real pode ser ainda maior, já que nem todos os casos de desaparecimentos foram reportados.
"Acreditamos que muitos destes desaparecidos estejam mortos", dado o tempo que já transcorreu, afirmou Saleh, acrescentando que os piores anos foram entre 2007 e 2008.
Sabiha Obeid Hamza e sua irmã Suad faziam parte de uma multidão de iraquianos - homens, mulheres e crianças - que chegou ao departamento em busca de ajuda.
O esposo de Sabiha, Kerayim Ahmed Abed Aoun, saiu em seu carro para pagar uma dívida na cidade de Mahmudiya no dia 13 de julho de 2006, mas nunca retornou.
Seu desaparecimento a deixou com sete filhos e nenhuma pista sobre o destino de seu marido. Ela hoje luta para sustentar sua família.
"Somente Deus sabe o que pode ter acontecido com ele. Não o encontrei vivo ou morto", disse.
A busca no necrotério, em fossas comuns e mesmo com a ajuda do Ministério de Direitos Humanos não teve sucesso.
Kerayim não é o único familiar que está desaparecido, seu irmão Alí foi sequestrado no dia 22 de fevereiro de 2005, quando cumpria um mês de casado, relatou Suad.
Alí saiu e nunca regressou. Todos os esforços para encontrá-lo também foram em vão.
"Ainda está em nossos corações, não podemos esquecê-lo", salientou Suad. "Esperamos que Deus o traga de volta".