Guerra em Gaza: Israel reagiu com irritação à abstenção americana na ONU (Jacquelyn Martin/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 2 de abril de 2024 às 11h45.
Um ataque israelense na segunda-feira, 1º, matou sete trabalhadores humanitários, incluindo estrangeiros, que entregavam ajuda alimentar na Faixa de Gaza, informou a organização do chef espanhol José Andrés, para a qual trabalhavam as vítimas.
"A World Central Kitchen está arrasada ao confirmar que sete membros da nossa equipe foram mortos em um ataque das IDF (Forças de Defesa de Israel) em Gaza", afirmou a ONG em um comunicado.
"Meu coração está partido e estou de luto pelas famílias e amigos e toda a família WCK", escreveu Andrés na rede social X (antigo Twitter).
A organização anunciou a interrupção das operações em Gaza após a morte dos trabalhadores, procedentes da Austrália, Polônia, Reino Unido, um com dupla nacionalidade dos Estados Unidos e Canadá, e Palestina".
O Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas informou em um primeiro momento que as forças israelenses bombardearam um veículo da ONG, ação que matou trabalhadores estrangeiros e o motorista palestino.
A World Central Kitchen é uma das duas ONGs responsáveis pelo envio de ajuda para Gaza com navios que zarpam do Chipre. A organização auxilia a construção de um cais temporário na Faixa de Gaza. O Exército de Israel prometeu que investigará o bombardeio.
"Vamos abrir uma investigação para examinar mais profundamente este grave incidente. Isto nos ajudará a limitar o risco de que um evento assim volte a ocorrer", declarou em um vídeo o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz do Exército, que disse ter conversado com o chef José Andrés.
O oficial afirmou ter expressado "as mais sinceras condolências do Exército israelense às famílias e à grande família da World Central Kitchen". Na mensagem, Hagari menciona "a nobre missão (da WCK) de levar alimentos e ajuda humanitária ao povo de Gaza".
"A WCK também ajudou os israelenses após o massacre de 7 de outubro; eles foram uma das primeiras ONGs a chegar aqui", acrescentou. "Vamos seguir até o fim (do caso) e compartilharemos as nossas conclusões com total transparência", completou.
A Austrália denunciou um ato "completamente inaceitável". Espanha, Reino Unido e Polônia exigiram explicações sobre o ocorrido.
A China se declarou "em choque" com o ataque e o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell pediu uma investigação "o mais rápido possível".
"Estamos com o coração partido e profundamente preocupados com o ataque", escreveu a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, na rede social X.
O território palestino enfrenta uma grave situação humanitária após seis meses de guerra, com os 2,4 milhões de habitantes sob risco de fome, segundo a ONU. Sem uma perspectiva concreta de trégua, os combates prosseguem em Gaza, que permanece sob bloqueio quase total, o que dificulta a distribuição de ajuda.
Dominic Allen, diretor do Fundo de População das Nações Unidas para Gaza, afirmou à AFP que a situação é "mais que catastrófica" e se declarou "aterrorizado" com o que pode acontecer em caso de prorrogação da guerra.
O conflito também aumentou as tensões em países como a Síria, onde 11 pessoas morreram na segunda-feira em um bombardeio contra um anexo da embaixada do Irã em Damasco, incluindo sete integrantes da Guarda Revolucionária.
Na Faixa de Gaza, Israel anunciou a retirada de suas tropas do hospital Al Shifa após duas semanas de operação, que terminou com quase 200 combatentes palestinos mortos.
Um porta-voz da Agência de Defesa Civil de Gaza, administrada pelo Hamas, reportou 300 mortos durante a operação israelense.
Imagens registradas por um jornalista da AFP após a retirada israelense mostra o hospital reduzido a um campo de escombros e ruínas.
Nas imediações do complexo, médicos e civis afirmaram que recuperaram mais de 20 corpos, alguns deles esmagados por veículos militares durante a retirada. "Os tanques passaram por cima dos corpos", disse uma testemunha que pediu anonimato.
As operações militares prosseguiram nas áreas dos hospitais Nasser e Al Amal, em Khan Yunis, no sul, segundo o Hamas.
A guerra em Gaza começou em 7 de outubro, após o ataque sem precedentes do Hamas em território israelense, quando 1.160 pessoas foram assassinadas, segundo um balanço baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.
Os comandos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas e 130 permanecem retidas em Gaza, incluindo 34 que teriam sido mortas, segundo Israel.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma campanha militar contra o território, que deixou até agora 32.916 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde do Hamas.
As negociações com mediação do Catar, Egito e Estados Unidos para um cessar-fogo não avançam, com uma troca de acusações entre as duas partes sobre a culpa pela estagnação das conversações.
Um dirigente do Hamas questionou a possibilidade de avanços nas negociações devido às grandes divergências entre os dois lados.
Na segunda-feira, o grupo islamista pediu "desculpas" pela primeira vez à população de Gaza pelas dificuldades provocadas pelo conflito, mas reiterou sua vontade de prosseguir com a luta para alcançar "a vitória e a liberdade" dos palestinos.
O objetivo de um cessar-fogo é permitir a libertação de reféns israelenses e a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza.
Também pretende evitar uma operação terrestre israelense na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde 1,5 milhão de pessoas vivem aglomeradas.