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Guerra, jihadismo e emigração marcam a Líbia 5 anos após Kadafi

Cinco anos depois que forças internacionais sob comando da ONU ajudaram os rebeldes a derrubar Kadafi, a Líbia é um estado falido

Líbia: "Sim, estávamos felizes em termos nos livrado de Kadafi" (Ismail Zitouny/Reuters)

Líbia: "Sim, estávamos felizes em termos nos livrado de Kadafi" (Ismail Zitouny/Reuters)

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EFE

Publicado em 19 de outubro de 2016 às 16h09.

Trípoli/Túnis - Cinco anos depois que uma multidão enfurecida linchou até a morte o ditador Muammar Kadafi, a guerra e a divisão política dominam a Líbia, que se transformou em bastião dos grupos jihadistas no norte da África e paraíso para as máfias que lucram com o tráfico de pessoas no Mar Mediterrâneo.

Um caos que aumentou ainda mais no último fim de semana depois que milícias leais ao antigo Executivo islamita de Trípoli, tachado de rebelde, atacaram um dos principais complexos da cidade e desafiaram o frágil governo de União Nacional, designado há seis meses pela ONU.

"Sempre sonhamos com a possibilidade de que houvesse uma revolução, pensávamos o tempo todo em como fazê-la, mas Kadafi era muito forte e o país estava muito cansado, portanto nos surpreendemos quando alguém o fez", explicou à Agência Efe o ex-deputado Nasser Seklani.

"Sim, estávamos felizes em termos nos livrado de Kadafi. Mas, cinco anos depois, começamos a nos perguntar quem fez de verdade a revolução e sentimos que não foi uma revolução líbia, mas uma decisão internacional, e isso nos dá um desgosto tremendo", acrescentou Seklani.

Antigo oficial do exército de Kadafi e um dos primeiros a aderir à revolta, Seklani é hoje um dos milhares de líbios ricos e formados que poderiam ajudar a reconstruir o país e que, no entanto, o abandonaram para se exilar na Tunísia.

Preso pelo ditador entre 1980 e 1988, este homem de 62 anos acreditou que a revolta abriria um novo caminho e, por isso, reuniu um grupo de amigos e familiares e colocou sua fortuna a serviço de um novo partido, com o qual conseguiu ser eleito deputado nas primeiras eleições livres.

"O que as Nações Unidas estão fazendo agora prova esta teoria. Pois nas reuniões destes dias, o que a ONU tenta é impor essa gente que esteva fora e que os líbios rejeitam porque elas vêm para trabalhar em favor de EUA, Europa, Catar e não do povo", opinou o antigo militar.

Cinco anos depois que forças internacionais sob comando da ONU ajudaram os rebeldes a derrubar Kadafi, a Líbia é um estado falido, vítima do caos e da guerra civil, no qual dezenas de milícias lutam pelo poder e pelo controle dos recursos naturais.

O país tem na atualidade três governos: dois na capital Trípoli, que competem pela liderança no oeste do país, e outro em Tobruk, que domina as regiões do leste e controla os principais poços de petróleo.

Dos dois em Trípoli, o primeiro foi formado após um acordo de paz fracassado auspiciado pela ONU e assinado em dezembro por integrantes do antigo governo da capital e por uma pequena fração do parlamento em Tobruk.

Apesar de contar com pleno apoio das Nações Unidas, EUA e UE, esse governo carece de apoio popular e da legitimidade que deveria ser proporcionada pela Câmara em Tobruk.

Desde que foi formado em abril, sua única conquista foi forjar uma aliança de milícias, lideradas pela poderosa cidade de Misrata, para tentar expulsar o braço líbio do grupo jihadista Estado Islâmico da cidade de Sirte, que os extremistas controlam desde fevereiro de 2015.

O segundo governo da capital é conhecido como Congresso Nacional Geral (CNG), uma entidade de ideologia islamita que governou o país durante os primeiros anos, mas que não reconheceu o resultado do pleito realizado em 2014.

Os integrantes do CNG atacaram edifícios oficiais no último fim de semana e ordenaram a saída do governo de unidade, ao qual acusaram de ser responsável por aumentar a crise política e de ser incapaz de melhorar as condições de vida da população, que sofre constantes e longas interrupções no fornecimento de energia elétrica.

Já no leste, o homem forte é o marechal Khalifa Hafter, um antigo integrante da cúpula da ditadura de Kadafi que foi recrutado na década de 1980 pela CIA, a agência de inteligência dos EUA, e se transformou no principal opositor no exílio, que agora se opõe aos dois governos em Trípoli.

Hafter, com quem a ONU agora tenta contato para incluí-lo nos planos de paz após evitá-lo por meses, participa dos combates em Benghazi e advertiu que não vai parar até chegar à capital.

Os grupos jihadistas também estão tirando proveito do conflito e se estenderam por todo o país, assim como as máfias de tráfico de pessoas, que fizeram da Líbia sua melhor plataforma de lançamento para a imigração ilegal no Mar Mediterrâneo.

De acordo com diversos órgãos internacionais, mais de 15 mil pessoas morreram em frente ao litoral da Líbia desde 2015 tentando emigrar para a Europa.

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