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Guerra Israel-Hamas: por que o conflito deve ter poucos efeitos diretos para o Brasil

País tem baixo volume de comércio com Israel e posição de neutralidade diplomática há decadas

Vista de um edifício na Cidade de Gaza alvo de um ataque aéreo israelense  (AFP/AFP)

Vista de um edifício na Cidade de Gaza alvo de um ataque aéreo israelense (AFP/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 10 de outubro de 2023 às 06h02.

Última atualização em 10 de outubro de 2023 às 13h39.

A nova fase do conflito entre Israel e Palestina não deve trazer consequências diretas ao Brasil neste primeiro momento. O país tem uma história de décadas de neutralidade no conflito e, ao mesmo tempo, tem volume relativamente baixo de comércio com Israel.

As importações e exportações para Israel representam 0,37% de toda a corrente comercial brasileira, segundo dados do portal Comex Stat, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil exportou 570 milhões de dólares em produtos para Israel, e importou 1,068 bilhão. Assim, a soma dos dois representou 1,638 bilhão de dólares. Como comparação, a China, maior comprador de produtos brasileiros, levou 77 bilhões de dólares em mercadorias no mesmo período.

O Brasil pode, no entanto, sofrer efeitos indiretos mais fortes se a guerra tiver uma escalada forte, como o envolvimento de outros países no conflito. Uma crise mais forte poderia gerar consequências como o aumento do preço do petróleo. “Na guerra, provavelmente vai ter aumento de volatilidade. [Haverá] variações muito especulativas em cima disso aí e [a situação] vai mostrar como é útil e como está dando certo a política de preços atual, pelo menos da Petrobras, como ela é capaz de mitigar um pouco esses efeitos”, disse nesta segunda, 9, Jean Paul Prates, presidente da Petrobras.

No entanto, na segunda, a alta foi moderada: o barril do tipo Brent teve alta de 4,22%, para 88,15 dólares.

Brasil defende dois estados há décadas

Na arena diplomática, o Brasil mantém uma posição de neutralidade no conflito há décadas. O país defende uma solução de dois Estados, que reiterou após a nova onda de ataques. Em nota no domingo, 8, o Itamaraty condenou os ataques a Israel e reiterou um "compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas".

O governo brasileiro também defendeu que "a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz".

A postura do Brasil vem desde a própria criação de Israel como um Estado, em 1948. Um diplomata brasileiro, Oswaldo Aranha, chefiou as negociações na ONU para o estabelecimento do país. A resolução da época previa também a criação de um Estado palestino, que nunca saiu do papel.

Atualmente, o Brasil comanda o Conselho de Segurança da ONU e, a partir de dezembro, assume o presidência rotativa do bloco Brics, que reúne também Rússia, Índia, China e África do Sul.

Lula em evento dos Brics

Lula em evento do Brics, grupo que reúne países emergentes (Anders Pettersson/Getty Images)

Na prática, no entanto, o país tem pouco poder para obter medidas concretas sem apoio de outros nações de peso. No Conselho de Segurança, Estados Unidos, Rússia, China, Rússia e França têm poder de veto e conseguem barrar decisões sobre temas que discordam, travando os debates. O Brasil, mesmo na presidência, não terá poder para derrubar esses vetos.

No Brics, a posição do Brasil é próxima a de Rússia e China, os países de mais peso, que defendem negociações e a criação de um Estado palestino. "O Brasil não deve ter constrangimentos, pois sua posição está em linha com a maior parte da comunidade internacional", avalia David Magalhães, professor de relações internacionais na Faap e PUC-SP.

Magalhães avalia que o Brasil também não deve ter constrangimentos com os Estados Unidos. Os EUA são um aliado histórico de Israel, mas o nível de envolvimento americano nas tentativas de resolver a questão varia de acordo com o presidente de turno. Donald Trump (2017-22) deu apoio para que Israel fechasse acordos com outros países árabes e propôs um plano de paz do qual os palestinos não participaram da negociação. O plano, que não avançou, previa que os palestinos tivessem trechos de territórios separados entre si, conectados por longas estradas e túneis.

O atual presidente, Joe Biden, deu apoio a Israel para aumentar suas defesas depois do ataque. O governo dos EUA enviou um porta-aviões e quatro destróieres para a região, e prometeu novas ajudas militares nos próximos dias. Biden, no entanto, envolveu o país para valer em outro conflito internacional, a Guerra da Ucrânia, e teria de gastar capital político para fazer ações mais fortes em relação ao conflito israelense. Há também um outro entrave: apoios mais robustos dependem de aval do Congresso americano, e a Câmara está sem presidente depois que Kevin McCarthy foi destituído.

Perguntas frequentes sobre o conflito Israel-Hamas

Por que o Hamas atacou Israel?

O grupo terrorista Hamas lançou a "Operação Al-Aqsa Flood" para defender a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, palco de tensões entre palestinos e israelenses.

Hamas é terrorista?

Países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália e nações da União Europeia, apontam que o Hamas é uma organização terrorista. 

Quem é o chefe do Hamas?

Ismail Haniyeh lidera o Hamas desde 2017 e reside em Doha, Catar, desde 2020 devido às restrições de saída e entrada em Gaza, que enfrenta bloqueios em suas fronteiras tanto com Israel quanto com o Egito.

O que o Hamas defende?

Na sua Carta de Princípios de 1988, o Hamas declarou que a Palestina é uma terra islâmica e não reconhece a existência do Estado de Israel.

Acompanhe tudo sobre:IsraelPalestinaConflito árabe-israelenseBrasil

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