Khan Yunis, em Gaza, durante ataque de forças israelenses (Etienne De Malglaive/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 14h39.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2024 às 15h08.
Os Estados Unidos vetaram o projeto apresentado pela Argélia no Conselho de Segurança da ONU que exigia um "um cessar-fogo humanitário imediato" na guerra entre Israel e Hamas, que tem deixado um rastro de destruição na Faixa de Gaza.
Segundo o jornal New York Times, apesar do veto, os EUA negociam uma resolução que propõe um cessar-fogo temporário “assim que possível” e alerta Israel contra a invasão da cidade de Rafah, no sul de Gaza, para onde milhões de pessoas fugiram.
O projeto vetado nessa terça-feira, 20, vinha sendo elaborado há semanas e continha no seu texto uma oposição ao "deslocamento forçado da população civil palestina". Também determinava a libertação de todos os reféns feitos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro, no qual mais de 1.000 israelenses foram assassinados, segundo o governo de Israel. Segundo o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, 134 ainda permanecem em cativeiro no enclave palestino.
"Não podemos apoiar uma resolução que colocaria em risco negociações sensíveis", afirmou Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos na ONU, segundo o New York Times. "Não se trata, como afirmaram alguns membros, de um esforço americano para encobrir uma iminente incursão terrestre, mas sim de uma declaração sincera de nossa preocupação com os 1,5 milhão de civis que buscaram refúgio em Rafah."
A diplomacia norte-americana já havia anunciado que vetaria o projeto da Argélia. Até hoje, os EUA rejeitaram publicamente as exigências de um cessar-fogo total nas resoluções da ONU sobre a guerra em Gaza, apoiando Israel na sua guerra contra o Hamas.
Segundo o New York Times, os americanos trabalham em um texto que apoia um “cessar-fogo temporário em Gaza o mais rapidamente possível, com base na fórmula da libertação de todos os reféns”. O jornal destaca que a palavra “cessar-fogo” na resolução americana reflete a mudança do presidente Joe Biden após críticas sobre a condução da guerra por Israel e à sua ofensiva planejada na cidade de Rafah, que o governo israelense alega ser um dos redutos restantes do braço militar do Hamas.
De acordo com agências de notícias internacionais, mais de metade da população civil de Gaza foi forçada a se deslocar para a cidade por causa da guerra e as sucessivas ordens do Exército de Israel para o deslocamento. A maioria está amontoada em abrigos temporários e acampamentos de tendas, além de enfrentarem um agravamento da crise humanitária.
As negociações para um novo acordo de cessar-fogo aconteceram no Cairo, na semana passada, entre autoridades de vários países, incluindo Israel e os Estados Unidos, e não conseguiram chegar a um avanço, de acordo com o New York Times. A nova proposta foi organizada em etapas e originalmente suspenderia os combates por três meses, permitindo a troca de reféns e prisioneiros palestinos, bem como a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descreveu a contraproposta do Hamas como "delirante", e no sábado o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, disse que as negociações foram "pouco promissoras" nos últimos dias.
Autoridades americanas ouvidas por agências de notícias internacionais classificaram que o rascunho que vem sendo negociado pelos EUA é a visão do país sobre o que o Conselho de Segurança poderia fazer para melhorar a situação em Gaza.
Os Estados Unidos são o único membro do Conselho de Segurança que votou duas vezes contra resoluções que pediam um cessar-fogo. Tais resoluções são juridicamente vinculativas para os membros da ONU, embora os países por vezes as ignorem. O conselho não tem mecanismo de aplicação, mas pode penalizar os infratores com sanções. Washington absteve-se numa resolução aprovada no fim de dezembro, que apelava a “pausas humanitárias prolongadas”, mas não a uma suspensão permanente das hostilidades.