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Guerra Israel e Hamas: o uso massivo de ao menos 150 reféns como arma de intimidação

Movimento raptou cerca de 150 pessoas durante a invasão do sul de Israel no fim de semana. A maioria são civis

Guerra em Israel: ataques do Hamas começaram neste sábado no sul do país ( Mahmud Hams/AFP)

Guerra em Israel: ataques do Hamas começaram neste sábado no sul do país ( Mahmud Hams/AFP)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter da Home

Publicado em 11 de outubro de 2023 às 12h06.

Última atualização em 11 de outubro de 2023 às 12h08.

A guerra entre Israel e Hamas alcançou uma magnitude brutal desde que o Hamas passou a sequestrar pessoas e usá-las como reféns durante o contra-ataque de Tel-Aviv na Faixa de Gaza.

Entre as principais vítimas, estão mulheres, crianças pequenas e idosos. O cenário representa um grande desafio para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, pois não há precedentes recentes para a escala de violência contra reféns em Gaza.

De acordo com o New York Times, o Hamas raptou cerca de 150 pessoas durante a invasão do sul de Israel no fim de semana, a maioria são civis. O grupo terrorista ameaçou executá-los um por um e gravar em vídeo os assassinatos cada vez que um ataque aéreo de Israel atingir Gaza, ou usá-las como escudos humanos em caso de ataque terrestre. 

As imagens horrorizaram a população israelense, principalmente as famílias dos sequestrados. Em um vídeo, uma jovem mãe, Shiri Bibas, aparece segurando os seus dois filhos – Ariel, de 4 anos, e Kfir, de 9 meses – enquanto militantes armados os cercam.

O jornal norte-americano também afirmou que o grupo terrorista divulgou outro vídeo, desta vez com um pai, chamado Noam Elyakim, que é baleado pelos militantes durante uma transmissão ao vivo. Em, seguida sua esposa e filhas, Dafna, de 15 anos, e Ella, 8, são raptadas.

Tática

O sequestro de civis tem moldado as fases iniciais desta nova guerra entre Israel e o Hamas, complicando também a retaliação planeada por Netanyahu.

Israel tem o histórico de priorizar as vidas dos seus cidadãos que foram feitos reféns durante os ataques inimigos. O país lançou operações militares de resgate, algumas bem sucedidas — como em Entebbe, Uganda, em 1976 — e outras fracassadas — como nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972.

O governo também chegou a trocar prisioneiros com o Hamas: em 2011, houve a troca de mais de 1.000 prisioneiros palestinos pelo soldado, Gilad Shalit. No entanto, um prisioneiro anteriormente libertado por Israel é agora um dos líderes do Hamas.

O público israelense espera que o governo possa negociar novamente, pelo menos, uma troca que priorize crianças e idosos. Mas, diversos analistas duvidam que o grupo terrorista esteja disposto a uma negociação. “A ideia de uma troca de prisioneiros parece agora muito distante”, disse Patrick Kingsley, correspondente do The Times em Jerusalém.

Por que? Por um lado, o número de reféns é maior. Mas o principal obstáculo pode ser o facto de o Hamas não estar disposto a chegar a um acordo nas atuais circunstâncias.

Escalada de violência

O governo de Israel está preparado para uma invasão em grande escala da Faixa de Gaza, com o propósito de destruir o Hamas e impedir futuros ataques. Embora a medida se mostre como uma solução definitiva para o confronto, a população teme pela segurança dos reféns e de outros territórios ainda não invadidos.

Desde o ataque de sábado, 7, os militantes do Hamas mataram pelo menos 1.200 israelenses, muitos deles civis indefesos.

O movimento extremista tem usado os vídeos de agressões e assassinatos para intimidar o governo de Netanyahu, a fim de evitar novos avanços sobre Gaza. Em um vídeo, um grupo de membros armados marcham com quatro israelenses, com as mãos amarradas nas costas, por uma rua. Outro vídeo mostra as quatro pessoas caídas na mesma rua, mortas a tiros, informou o jornal The Washington Post.

Analistas acreditam que o único incentivo para o Hamas libertar reféns pode ser a reação global às chacinas. Depois de vários anos em que alguns grupos políticos ocidentais se tornaram mais solidários com a causa palestina, a indignação com os ataques recentes fez com que muitos deles aumentassem a pressão por paz. “Acho que a brutalidade aqui não está ajudando a causa palestina”, disse Stephen Walt, cientista político de Harvard.

Na terça-feira, 10, o presidente Joe Biden referiu-se às ameaças de execuções como uma “violação de todos os códigos de moralidade humana”. A declaração do presidente foi interpretada pelos analistas como uma das condenações mais contundentes ao terrorismo em Israel por chefe de estado americano desde a década de 1990.

O que deve acontecer com os reféns do Hamas?

O governo de Israel encara alguns dilemas estratégicos, sobretudo com o destino dos reféns do grupo terrorista. É provável que o Hamas mantenha os reféns em pequenos grupos, espalhados pelos túneis abaixo de Gaza, para impossibilitar uma grande operação de resgate. Quaisquer ataques a Gaza representam também o risco de matar reféns, incluindo cidadãos dos EUA e de outras nações.

Por outro lado, muitos especialistas afirmam que muitos reféns devem morrer nos próximos dias.  “O fim desta crise é uma incógnita, mas o derramamento de mais sangue inocente – e israelenses, palestinos e, na verdade, cidadãos não combatentes de outros países – é certo”, disse Bruce Hoffman, especialista em terrorismo do Conselho de Relações Exteriores dos EUA.

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