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Guerra em Gaza afeta rumos da campanha eleitoral turca

Os turcos estão especialmente sensibilizados com a situação de Gaza após o ataque israelense ao navio Mavi Marmara, em 2010, com, a morte de dez turcos


	Recep Tayyip Erdogan: o chefe de governo turco não parou de fazer duros discursos contra Israel
 (AFP PHOTO / ADEM ALTAN)

Recep Tayyip Erdogan: o chefe de governo turco não parou de fazer duros discursos contra Israel (AFP PHOTO / ADEM ALTAN)

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Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2014 às 10h49.

Istambul - A guerra em Gaza começou a afetar a campanha para as eleições presidenciais de agosto na Turquia, com protestos quase que diários de grupos islamitas e ataques verbais contra Israel por parte do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

Desde o início do conflito na faixa palestina, há três semanas, o chefe de governo turco não parou de fazer duros discursos contra Israel, aliado próximo da Turquia até 2010. Entre as críticas, qualificou a política do país para os palestinos como 'pior que a de Hitler' e denunciou que Israel 'sabe muito bem como matar crianças'.

Ekmeleddin Ihsanoglu, adversário de Erdogan nas eleições de agosto, acredita que esta postura exacerbada é mais de 'consumo interno' do que para uma possível solução do conflito e a reconciliação entre ambos os países, mas a denúncia de Erdogan de Israel como 'perigo para a paz mundial' encontra amplo apoio na sociedade turca.

Os turcos estão especialmente sensibilizados com a situação de Gaza após o ataque israelense ao navio Mavi Marmara, em 2010, com, a morte de dez turcos.

A organização islamita IHH, que fretou o navio que rompeu o bloqueio à Faixa, lidera agora a maioria dos protestos perante as missões diplomáticas israelenses no país. Estes protestos, alguns violentos, inclusive, correm o risco de derivar em atitudes hostis rumo à comunidade judaica local.

Assim denuncia em declarações à Agência Efe o advogado Cem Sofuoglu, um conhecido ativista turco a favor da recuperação da história dos judeus na Turquia, com origens na expulsão dos hebreus da Espanha em 1492.

Sofuoglu lembra que porta-vozes da IHH exigiram nas últimas semanas à comunidade judaica local uma aposição a respeito do conflito de Gaza, criando uma distinção entre os cidadãos judeus e os demais turcos, não obrigados a opinar sobre o tema.

Na última terça-feira, uma manifestação perante o consulado israelense em Istambul acabou com um grupo lançando ovos contra a fachada de uma sinagoga próxima. Dias antes, uma série de mensagens no Twitter gerou rebuliço, quando a popular cantora pop turca Yildiz Tilbe disse que lamentava que 'Hitler não tenha feito o suficiente'.

'Se Deus quiser, muito em breve os muçulmanos porão fim aos judeus' e 'Inimigos de Deus e de todos os profetas, incluindo o seu próprio, Moisés', eram algumas de suas mensagens.

O próprio prefeito de Ancara, Melih Gökçek, um dos pesos pesados do partido islamita governante, o AKP, retuitou algumas dessas mensagens e pediu que seus seguidores aplaudissem a cantora.

O jornal de extrema direita 'Yeni Akit' publicou um jogo de palavras cruzadas com uma foto de Hitler e um de seus colunistas exigiu que o grande rabino da Turquia condenasse 'sem rodeios' a atitude de Israel para evitar a 'ira popular' no país.

Nesta terça-feira, o primeiro-ministro afirmou que 'infelizmente, alguns grupos fizeram declarações horríveis' e considerou que seria um 'grande erro' transformar os protestos contra Israel em 'racismo contra os judeus'.

'Não posso aceitar de forma alguma estas declarações contra nossos cidadãos judeus', declarou.

Uma advertência necessária para evitar que os próprios discursos eleitorais de Erdogan motivem 'ondas antissemitas incontroláveis', opina o advogado Sofuoglu.

Por sua vez, a comunidade judaica turca condenou as mensagens da cantora como 'racistas' e de 'incitação ao ódio', e pede que as autoridades judiciais iniciem uma investigação sob a lei turca que proíbe insultar uma comunidade religiosa.

Para além deste comunicado oficial, os membros da comunidade judaica na Turquia, aproximadamente, 18 mil pessoas, são reticentes a falar.

'Não é novo: a comunidade judaica aqui tem tempo tentando manter a tranquilidade. Não querem cutucar a fera', considerou Sofuoglu.

Até o momento, não há pedido de boicote de empresas turcas judias, embora tenham sido incluídas as obras do popular escritor turco-judeu Mario Levi na lista de 'produtos israelenses ou pró-israelenses' a boicotar.

De fato, nos fórum turcos na Internet circulam várias listas com produtos israelenses ou de grandes empresas, qualificadas como 'simpatizantes de Israel', com pedido de boicote na Turquia, como Coca-Cola, McDonald's, Danone, Nestlé, Armani, L'Oréal e Carrefour.

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