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Guerra do Iraque paralisou política exterior britânica

A participação do Reino Unido na guerra do Iraque instalou uma profunda desconfiança, que ainda pesa fortemente na política britânica, dizem especialistas


	O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair: morte de 179 soldados britânicos e de milhares de iraquianos também deixaram profundas cicatrizes em ambos os lados do Atlântico
 (Chris Jackson, Chris Jackson/AFP)

O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair: morte de 179 soldados britânicos e de milhares de iraquianos também deixaram profundas cicatrizes em ambos os lados do Atlântico (Chris Jackson, Chris Jackson/AFP)

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Da Redação

Publicado em 6 de julho de 2016 às 17h13.

A polêmica participação do Reino Unido na guerra do Iraque em 2003 instalou uma profunda desconfiança, que ainda pesa fortemente na política britânica, sobre as intervenções militares, concordam os especialistas.

A decisão de se juntar à invasão americana com base nas informações equivocadas dos serviços de inteligência, a sangrenta ocupação e o fato de o Iraque se afundar em uma terrível guerra sectária, foi examinada em uma investigação oficial cujas conclusões foram publicadas nesta quarta-feira (6).

A morte de 179 soldados britânicos e de milhares de iraquianos também deixaram profundas cicatrizes em ambos os lados do Atlântico.

A guerra do Iraque "definiu a política de segurança britânica", assegura Malcolm Chelmers, subdiretor-geral do instituto de análise RUSI. "Você pode acompanhar a experiência no Iraque e as reticências atuais do governo britânico em enviar tropas para a Líbia ou Síria", acrescentou.

Em 2011, o Reino Unido liderou junto com a França a iniciativa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para estabelecer uma zona de exclusão aérea durante a revolta contra o líder líbio Muammar Kadhafi, mas a missão era limitada.

O país também participa dos bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, mas só depois de a Câmara dos Comuns dar sua aprovação. "O debate que ocorreu no Parlamento esteve dominado pelo Iraque", recorda Jane Kinninmont, subdiretora do programa do Oriente Médio e do norte da África em outro instituto de análise, Chatham House.

"Em 2005,quando estava ocorrendo a limpeza étnica em Darfur, já era muito mais difícil (do que antes da guerra do Iraque) defender uma intervenção humanitária".

A justificativa inicial para ir à guerra era que o líder iraquiano, Saddam Hussein, tinha armas de destruição em massa. Mas quando elas não foram encontradas, recorreu-se ao argumento de que o mundo teria se livrado de um ditador sangrento.

"Houve um profundo impacto no ceticismo sobre a eficácia de uma intervenção militar e, em particular, das intervenções chamadas humanitárias", disse Kinninmont.

"Nos Estados Unidos pode-se ver alguns paralelos. Um ponto importante da campanha eleitoral do presidente Barack Obama foi a retirada dos EUA de seus compromissos militares no Oriente Médio", indica.

"Vazio" na política exterior

Kinninmont observa que o Reino Unido passou a colaborar com forças militares na região, como a da Jordânia ou dos Emirados, mas sem atuar diretamente.

"O problema dessas forças armadas é que ainda não são muito fortes", afirma.

Mas John Bew, professor de História e Política Exterior no King's College de Londres, acredita que o Iraque teve um efeito paralisante, e acusa o Reino Unido de não possuir estratégia suficiente a respeito da Síria nos últimos anos.

"Deixamos de pensar seriamente sobre como reduzir a violência, equilibrar a área, empreender ações como o estabelecimento de um corredor humanitário, e pressionar diplomaticamente o regime de Bashar al-Assad", lamenta.

"Há uma vazio na política exterior ocidental", assegura à AFP.

A associação neoconservadora, Henry Jackson Society, também alertou da possibilidade de o relatório Chilcot provocar um distanciamento ocidental ainda maior.

"Uma das lições que não temos que tirar é que a intervenção é um erro, ou que somos responsáveis por toda a turbulência atual no Oriente Médio", assegura essa associação.

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