Militares ucranianos empilham sacos de terra para construir uma fortificação não muito longe da cidade de Avdiivka, na região de Donetsk, em meio à invasão russa da Ucrânia nesse sábado, 17 (AFP/AFP)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 19h05.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 19h22.
Próxima a completar dois anos, a guerra entre Rússia e Ucrânia está longe de um final. Nas últimas semanas, as forças russas tem ganhado território e uma das vitórias mais significativas foi a retirada do exército ucraniano de Avdiivka, cidade do leste ucraniano.
É o primeiro grande avanço das forças russas desde maio do ano passado. No verão e outono de 2023, os russos repeliram uma — muito aguardada pelo Ocidente — contraofensiva da Ucrânia. E pressionam desde o final do ano.
Na madrugada desse sábado, 17, o general Oleksander Tarnavski, que comanda as tropas de Kiev na região, informou que o exército ucraniano se retirou de Avdiivka. A decisão da retirada foi para "evitar o cerco e preservar a vida e a saúde dos militares".
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), que monitora diariamente os desdobramentos do conflito, as forças ucranianas podem ter que conduzir contra-ataques para conseguirem se retirar de Avdiivka.
"Os esforços russos para complicar ou impedir uma retirada ucraniana podem se tornar cada vez mais desgastantes", diz relatório da organização. "As forças ucranianas podem ter que estabilizar a linha de frente ao contra-atacar na área onde as forças russas estão tentando fechar o cerco às forças ucranianas em Avdiivka para conduzir uma retirada ordenada."
Avdiivka estava cercada por tropas russas ao norte, leste e sul. Nos últimos meses, elas vinham avançando lentamente.
A perda de controle sobre região é um golpe estratégico e simbólico para o militar da Ucrânia, apontou o jornal New York Times. Avdiivka era um reduto das defesas ucranianas na região de Donetsk, protegendo várias posições militares chave mais a oeste e colocando a cidade controlada pela Rússia sob constante ameaça.
Com a vitória, fica claro que os russos ampliaram a iniciativa no campo de batalha. O exército de Putin já assumiu o controle de Marinka, uma pequena cidade ao sudoeste de Avdiivka, no início deste ano.
Avdiivka fica nos subúrbios de Donestk, cidade controlada pela Rússia e que está na linha de frente do conflito entre os países desde a invasão da Crimeia, em 2014.
A grande ofensiva russa contra Avdiivka começou em outubro, quando foram enviados batalhões aos limites da cidade e feitos bombardeios aéreos frequentes, segundo o New York Times. Os ucranianos conseguiram manter seus inimigos fora da cidade por meses até que, no final de janeiro, as tropas da Rússia invadiram áreas residenciais, contornando fortificações da Ucrânia ao rastejarem por túneis sob as ruas da parte sudeste de Avdiivka.
No início desta semana, os russos cortaram a principal estrada de abastecimento da Ucrânia para a cidade e avançaram perto de uma planta de coque que havia sido um bastião de resistência, registra o jornal americano.
Ainda de acordo com as informações do New York Times, as tropas russas fazem ataques simultâneos em cinco locais diferentes como parte de uma campanha militar na fronteira leste e sul da Ucrânia. Além de Avdiivka e Marinka, são alvo as cidades Robotyne, Kreminna e Bakhmut.
Nesse sábado, 17, Adrienne Watson, a porta-voz do governo de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, culpou membros do Congresso americano pela retirada ucraniana de Avdiivka. "Esse é o custo da inação do Congresso", afirmou. "Os ucranianos seguem lutando bravamente, mas estão ficando sem equipamentos."
A fala reverbera um impasse político doméstico dos EUA, na qual o Senado já aprovou 13,6 bilhões de dólares (298 bilhões de reais na cotação atual) em financiamento para a Ucrânia. A Câmara dos Representantes, por sua vez, ainda não votou o projeto, que corre o risco de não ser aprovado, segundo o presidente Mike Johnson.
O pacote total discutido — e que inclui temas como imigração, auxílio financeiro a Taiwan e Israel — é de 95 bilhões de dólares.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reuniu com membros da Câmara dos EUA nesse sábado.
"Esperamos que a Câmara dos Representantes tome decisões para garantir o suporte necessário dos EUA para a Ucrânia. Nós devemos vencer esta guerra. E devemos fazer isso em unidade, defendendo nossos valores compartilhados", disse no X.
I met with a delegation of Republican and Democratic members of the United States House of Representatives. We discussed the battlefield situation and the development of defense industries. I also elaborated on Ukraine's progress in drone production.
We hope that the House of… pic.twitter.com/KQTPkSDbcq
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) February 17, 2024
Na semana passada, Zelensky travou uma batalha diplomática ao viajar para Berlim e Paris para garantir que as potências ocidentais continuem ajudando Kiev.
Durante suas visitas aos países aliados, o líder ucraniano assinou acordos de segurança com o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron. Os acordos preveem um aumento na ajuda militar à ex-república soviética.
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), a negociação também declara que a Alemanha fornecerá mais de 7 bilhões de euros em ajuda militar à Ucrânia em 2024, incluindo um pacote de ajuda de 1,1 bilhão de euros ($1 bilhão) que está sendo preparado.
"E incluirá 36 canhões de artilharia de alcance médio, 120 mil projéteis de artilharia (incluindo 50.000 munições de artilharia de 155mm), dois sistemas de defesa aérea Skynex, mísseis para o sistema de mísseis ar-ar IRIS-T, 66 veículos blindados de transporte de pessoal (APCs), vários veículos de desminagem, e diversos modelos de drones de reconhecimento", diz relatório do ISW.
Desde o fracasso de sua contraofensiva no verão de 2023, a Ucrânia enfrenta tropas russas em avanço, escassez de homens, armas e munições, e a incerteza sobre a continuação da ajuda ocidental.