Repórter colaborador
Publicado em 28 de março de 2024 às 08h19.
Na medida em que a primavera vai chegando ao hemisfério norte, a Ucrânia tem um misto de sensações. O clima mais quente pode significar um alívio nos ataques da Rússia à infraestrutura de energia. Além disso, com o calor, a lama pode dificultar um pouco o movimento militar de tanques russos.
Mas, segundo reportagem da The Economist, o temor de Kiev é que Moscou prepare uma grande ofensiva no verão, como aconteceu no ano passado. Só que agora, a capacidade de defesa da Ucrânia é muito menor do que a neste mesmo período em 2023.
Os ucranianos criticam o Ocidente pelo aparente "cansaço" com a guerra na Europa, já que as atenções do mundo também estão divididas com a crise na Faixa de Gaza. O grande financiador das tropas ucranianas, os EUA, enfrentam intensos debates internos sobre se devem continuar dando dinheiro para Volodymyr Zelensky.
De acordo com a revista britânica, essa falta de dinheiro já reflete na guerra. Soldados ucranianos estão sendo forçados a racionar seus projéteis, enquanto a Rússia não tem problemas nesse sentido. Mais de 150 drones e mísseis foram lançados contra a Ucrânia em apenas uma noite na semana passada.
Apesar do discurso duro contra Vladimir Putin, em especial do presidente francês, Emmanuel Macron, que está no Brasil para uma série de visitas oficiais, a Europa não conseguiu cumprir sua meta de enviar 1 milhão de projéteis para a Ucrânia até este mês.
E nem tudo são armas. A União Europeia tampouco está ajudando a Ucrânia com dinheiro. Polônia e França, entre outros, estão tentando bloquear as exportações agrícolas vitais da Ucrânia para proteger seus próprios agricultores.
Kiev também tem sua parcela de culpa pelo momento delicado. Segundo a The Economist, mais de mil emendas foram apresentadas a um projeto de lei no Parlamento que daria ao governo mais espaço para formar o exército de que precisa. Com pouco dinheiro e temendo a impopularidade, o presidente Volodymyr Zelensky não se esforçou o suficiente para conseguir nessa matéria.
Além disso, o governo ainda sonha com uma nova contraofensiva e teme a ideia de que o atual desenho do conflito possa se tornar algo muito parecido com uma fronteira, que corte 20% do país e o prive da maior parte de seu acesso ao mar. A ideia de que essa linha possa se tornar a base para uma futura negociação de paz é exatamente o que Zelensky queria evitar.