Guatemala: favorita é a social-democrata Sandra Torres, ex-mulher do ex-presidente Álvaro Colom (Luis Echeverria/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de junho de 2019 às 09h54.
Mais de oito milhões de guatemaltecos votam neste domingo (16) em eleições gerais, com a esperança de se livrarem do jugo da corrupção, da violência e da pobreza galopante que incentivam a migração em massa para os Estados Unidos.
O combate à pobreza e à violência do crime dominam as promessas dos 19 candidatos a suceder o presidente Jimmy Morales, um ex-comediante de TV que venceu as eleições em 2015, após a renúncia do ex-presidente Otto Pérez quatro meses antes de concluir seu mandato, acusado de corrupção e em meio a protestos maciços.
Morales conclui seu mandato de quatro anos com a popularidade no chão e o pedido da Procuradoria de investigá-lo por corrupção.
Nenhum dos candidatos aparece nas pesquisas com chances de vencer no primeiro turno, razão pela qual se prevê um segundo turno em agosto.
A favorita é a social-democrata Sandra Torres, ex-mulher do ex-presidente Álvaro Colom (2008-2012), de quem se divorciou em 2011 para poder se candidatar à primeira magistratura.
A segue o direitista Alejandro Giammattei, que se candidata pela quarta vez, embora algumas projeções situem Roberto Arzú, filho do falecido ex-presidente Álvaro Arzú (1996-2000), como um possível segundo lugar em sua primeira incursão para chegar à Presidência.
Na Guatemala é proibida a reeleição presidencial.
O processo eleitoral esteve marcado pela exclusão da ex-procuradora-geral Thelma Aldana, uma das favoritas e defensora do combate à corrupção, que foi marginalizada do processo de decisões judiciais ante denúncias de irregularidades contra ela quando chefiava o Ministério Público (2014-2018).
A Justiça deixou de fora da disputa Zury Ríos, filha do falecido ex-ditador Efraín Ríos Montt, por um dispositivo constitucional que impede a candidatura de familiares diretos de pessoas que tenham participado de golpes de Estado.
Em um sinal do clima de violência e corrupção na Guatemala, o promotor de crimes eleitorais Óscar Schaad deixou o país após sofrer ameaças.
O mesmo aconteceu com Thelma Aldana, que enfrentou ameaças de morte, alisou-se primeiro em El Salvador e depois nos Estados Unidos, onde permanece.
Segundo a Aliança pelas Reformas, que reúne umas 40 organizações civis, a exclusão de Aldana é "uma clara represália pelas investigações que a ex-promotora realizou contra o presidente (Morales), sua família e membros de seu partido político por atos de corrupção".
Morales é investigado pela promotoria por financiamento ilegal na campanha eleitoral de 2015 que o levou ao poder, e um filho e irmão seu também são investigados.
Em 2015, os guatemaltecos viram uma esperança de atacar a corrupção após a detenção do presidente Otto Pérez por casos impulsionados pelo ex-promotor Aldana e a Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), uma entidade subordinada à ONU, que busca combater a corrupção e a impunidade desde 2007.
Mas estas esperanças se veem minguadas pois a Cicig terminará suas funções em setembro pois Morales descumpriu a promessa de estender sua missão até 2021 depois que a entidade internacional e a procuradoria pediram para investigá-lo por financiamento ilegal de campanha.
Embora alguns candidatos com poucas opções defendam a permanência da Cicig, os candidatos com possibilidades descartaram sua continuidade.
Neste contexto de corrupção endêmica, 59% de 17,7 milhões de guatemaltecos vivem na pobreza, apesar de a Guatemala fechou 2018 com um crescimento de 3,1% e espera crescer 3,4% este ano, segundo o Ministério das Finanças, que situa o PIB do país em mais de 75 bilhões de dólares.
Um motor fundamental da economia é o envio de remessas dos migrantes, que no ano passado atingiram quase 9,3 bilhões de dólares, o nível mais alto já registrado.
Cifras oficiais estimam que 1,5 milhão de guatemaltecos vivam nos Estados Unidos, dos quais apenas de 300.000 a 400.000 teriam residência legal.
Milhares de guatemaltecos se aventuram a cruzar o México para chegar aos Estados Unidos, alegando fugir da pobreza e da violência, problemas comuns no norte da América Central, onde operam temidas gangues e quadrilhas de narcotraficantes.
Segundo fontes migratórias guatemaltecas, 94.482 pessoas foram deportadas pelo México e pelos Estados Unidos em 2018, a maioria originárias de povoados indígenas no empobrecido oeste do país.
O Triângulo Norte da América Central - El Salvador, Guatemala e Honduras - é a região sem conflito armado mais violenta do mundo, segundo a ONU, e é a origem de caravanas migratórias multitudinárias aos Estados Unidos.