Guantánamo: confisco dos documentos foi recriminado pelo juiz do processo, coronel James Pohl, que disse já ter observado violações semelhantes (AFP / Michelle Shephard)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2013 às 21h22.
Fort Meade - O advogado de um acusado de tramar os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos acusou na quinta-feira guardas da prisão militar de Guantánamo de terem confiscado ilegalmente documentos judiciais do seu cliente.
A acusação do comandante naval Walter Ruiz questiona a possibilidade de um julgamento justo nessas circunstâncias para cinco presos processados por crimes de guerra da base naval norte-americana encravada em Cuba. Eles devem ser julgados por terrorismo, sequestro e pelo assassinato de quase 3.000 pessoas.
Ruiz representa o réu saudita Mustafa al Hawsawi, acusado de transferir dinheiro eletronicamente para os militantes que em 2001 atiraram aviões comerciais sequestrados contra o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington.
Segundo Ruiz, os documentos retirados da cela do seu cliente em Guantánamo estariam protegidos pelo sigilo entre advogado e cliente. "Temos uma questão de autoridade ilegal", disse Ruiz.
Interrogado por Ruiz, o comandante naval George Massucco admitiu que um guarda de Guantánamo retirou documentos da cela de Hawsawi e os colocou em um envelope.
Massucco, advogado do campo prisional e homem de ligação com detentos de "alto valor", como Hawsawi, disse que "alguns documentos tinham marcas de (serem exclusivos para) advogado/cliente, sim".
Ele afirmou não ter lido os documentos mostrados pelo guarda. "Não fui além", disse. "Fui até a cela do sr. Hawsawi e lhe dei." Os promotores militares não contestaram que os guardas tenham apreendido documentos das celas de Hawsawi e outros presos de Guantánamo.
O confisco dos documentos foi recriminado pelo juiz do processo, coronel James Pohl, que disse já ter observado violações semelhantes anteriormente. Em geral, disse o juiz, os comandantes da base se justificam dizendo que os agentes responsáveis pelas violações são novos na função.
O capitão aviador Michael Schwartz, advogado do réu iemenita Walid bin Attash, disse que a intrusão na correspondência entre clientes e advogados está levando os réus a desconfiarem dessa relação confidencial e "afetando negativamente nossa capacidade de fazer nosso trabalho".
A audiência judicial preliminar na base naval de Guantánamo foi acompanhada pela Reuters por meio de um circuito fechado de TV no quartel Fort Meade, Maryland.