Juan Guaidó: dois meses de crise e pouco avanço na solução da disputa com Nicolás Maduro (Antonio Cruz/Agência Brasil)
AFP
Publicado em 23 de março de 2019 às 16h13.
Com a popularidade em alta e amplo internacional, o líder da oposição Juan Guaidó completa neste sábado dois meses como autoproclamado presidente interino de Venezuela, mas isto não foi suficiente para quebrar a lealdade dos militares a Nicolás Maduro.
Guaidó, chefe do Parlamento de maioria opositora, completa essa marca empenhado numa mobilização nacional em direção ao palácio presidencial de Miraflores, numa data a definir, para assumir o governo.
Nesse novo capítulo da luta pelo poder no país, que o legislador batizou de "operação liberdade", ele percorre o país, e neste sábado lidera uma nova concentração em Barcelona (nordeste).
"Seguimos nas ruas com o povo, organizando a #OperaciónLibertad (#OperaçãoLiberdade). Vamos nos manter firmemente nesta luta", escreveu no Twitter Guaidó ao divulgar nesta sexta um vídeo em que aparece saudando os manifestantes.
Apoiadores de Maduro também realizam manifestações neste sábado em Caracas.
Os últimos 60 dias foram vertiginosos, período em que Guaidó conquistou o reconhecimento de mais de 50 países liderados pelos Estados Unidos, além de reativar os protestos e reunir em torno de si a dividida oposição.
No início de março tinha uma aprovação de 61%, contra 14% de Maduro, segundo a empresa de pesquisa Datanálisis.
Grandes mobilizações comprovam esse respaldo, em meio a um agravamento da crise econômica, com escassez de bens básicos e uma hiperinflação que o FMI projeta em 10.000.000% para 2019.
"Um cenário como o atual (...) era inimaginável em 2018", disse à AFP o analista internacional Mariano de Alba, sobre a possibilidade de mudanças no governo.
Guaidó, engenheiro industrial de 35 anos, se autoproclamou presidente interino após o Legislativo declarar Maduro "usurpador", alegando que seu segundo mandato -iniciado em 10 de janeiro- foi resultado de eleições fraudulentas.
Neste complexo ambiente, a Venezuela caminha para um agravamento da situação econômica. No dia 28 de abril entrará em vigor um embargo dos Estados Unidos ao petróleo do país, cuja a produção caiu 50% e que responde por 96% de seu comércio exterior e 75% das suas receitas. Além disso, o governo está sem acesso a financiamento internacional e é dependente das importações.
Ao embargo soma-se uma série de sanções de Washington para provocar o colapso do governo.
"A situação econômica vai se agravar muito e o povo vai experimentar uma queda substancial na qualidade de vida", adverte De Alba, que também prevê um aumento da "repressão".
Na quinta-feira, agentes da inteligência prenderam Roberto Marrero, chefe de gabinete de Guaidó, acusado de planejar atentados para gerar caos.
Para o presidente da Datanálisis, Luis Vicente León, o tempo joga contra Maduro com perigo de "explosão social" e intervenção a medida que se aproxima a campanha presidencial americana.
Mas para Guaidó a passagem do tempo também é arriscada, pois "enquanto piora cada vez mais a situação do país sem resolver a mudança de governo, as sanções serão relacionadas com a crise e a paciência acabará", adverte o analista.