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Grupo quer mudar rumo de pesquisas sobre clima

Belmont Forum, formado por algumas das principais agências de fomento à pesquisa no mundo, pretende alterar os rumos da colaboração internacional em pesquisas ambientais

Participantes concordaram em dois temas de pesquisa – água e vulnerabilidade costeira – que poderiam ser objeto de uma primeira chamada pública de propostas (Wikimedia Commons)

Participantes concordaram em dois temas de pesquisa – água e vulnerabilidade costeira – que poderiam ser objeto de uma primeira chamada pública de propostas (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 30 de março de 2012 às 15h03.

São Paulo - Foi assinado no dia 28 de março, em Londres, Inglaterra, durante o Planet under pressure, um memorando de entendimento para ações colaborativas em pesquisa sobre mudanças climáticas globais entre as agências de financiamento à pesquisa de países signatários do Belmont Forum.

Um dos objetivos do grupo, integrado pela FAPESP e por algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças climáticas no mundo, é tentar mudar os rumos da colaboração internacional em pesquisa sobre o tema por meio de chamadas conjuntas de pesquisas.

Coordenado pelo International Group of Funding Agencies for Global Change Research (IGFA), o grupo começou a ser criado em 2009 durante uma conferência realizada pela National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, e pelo Natural Environment Research Council (Nerc), do Reino Unido, na cidade norte-americana de Belmont.

Participaram do primeiro encontro representantes de agências de financiamento à pesquisa de países que compõem o G8 (grupo dos sete países mais desenvolvidos mais a Rússia), como a Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França, e instituições da Alemanha e do Canadá.

A partir do segundo encontro, em Londres, em 2010, o grupo começou a se expandir ao passar a contar com representantes de agências de outros países, como o Brasil, representado pela FAPESP, além da China, Índia e África do Sul.

Após os primeiros cinco encontros semestrais realizados pelo Fórum, os participantes concordaram em dois temas de pesquisa – água e vulnerabilidade costeira – que poderiam ser objeto de uma primeira chamada pública de propostas.


A chamada será lançada oficialmente em 15 de abril, no site oficial do Belmont Forum.

“Havia pressa de ter um acordo entre as agências de fomento à pesquisa que participam do Belmont Forum para lançar uma primeira chamada antes da RIO+20”, disse Reynaldo Victoria, coordenador do programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e representante da Fundação no Belmont Forum.

Segundo Victoria, a participação das agências nas chamadas lançadas no âmbito do Belmont Forum é livre. Entretanto, as chamadas precisam ter a participação de, no mínimo, três países integrantes do grupo e serão gerenciadas por uma das agências de fomento à pesquisa parceiras.

A chamada sobre água, por exemplo, está sob a coordenação da ANR. Por sua vez, a chamada sobre vulnerabilidade costeira está sendo liderada pela NSF.

“A agência de financiamento indicada como líder da chamada concentra o recebimento das propostas e é responsável por realizar os peers reviews (“revisão por pares”) delas com membros sugeridos por todas as outras agências participantes da chamada”, disse Victoria à Agência FAPESP.

“A agência escolhida também é encarregada de organizar um painel com especialistas, composto por representantes de cada agência participante da chamada, que analisa e classifica as propostas”, explicou Victoria.


A primeira chamada de propostas contará com recursos da ordem de € 20 milhões, dos quais € 2,5 milhões serão investidos pela FAPESP, sendo € 1,5 milhão para projetos de pesquisa sobre segurança hídrica e € 1 milhão para pesquisas sobre vulnerabilidade costeira, para financiar projetos realizados por pesquisadores do Estado de São Paulo nessas áreas em parceria com cientistas de, pelos menos, outros dois países participantes do Fórum.

As propostas de pesquisadores do Estado de São Paulo para a chamada deverão ser encaminhadas pelo site do Belmont Forum a partir da data de lançamento, em 15 de abril, com cópia para a FAPESP.

“Nós solicitamos que as propostas projeto de pesquisadores de São Paulo sejam enviadas tanto por meio do formulário padrão do Belmont Forum, como também pelo formulário de submissão de propostas da FAPESP, para que possamos fazer a autuação”, disse Patricia Brant Monteiro, diretora da área de Ciências Biológicas e Agrárias da FAPESP.

A análise das propostas será feita em duas etapas. Em uma primeira fase, os pesquisadores interessados deverão enviar as pré-propostas de seus projetos, que serão avaliadas por especialistas. Se a pré-proposta for selecionada, o Fórum convidará os autores a submeter uma proposta definitiva.

“Essa é uma ideia nova e muito interessante de cooperação internacional que as agências de fomento à pesquisa estão implementando”, disse Monteiro. Este ano, a FAPESP lançou em parceria com a NSF uma chamada de propostas no âmbito do programa BIOTA cujo modelo de cooperação é similar ao adotado pelo Belmont Forum.


Além da FAPESP, assinaram o memorando de entendimento para pesquisas colaborativas em pesquisa do Belmont Forum o The Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO), da Austrália, o Natural Sciences and Engineering Research Council of Canada (NSERC) e o Social Sciences and Humanities Research Council of Canada (SSHRC), a ANR, da França, o Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG), da Alemanha, o Ministry of Earth Sciences (MoES), da Índia, a Japan Science and Technology Agency, a National Research Foundation (NRF), da África do Sul, o Nerc e o Economic and Social Research Council (ESRC), do Reino Unido, e a NSF.

Também apoiam a iniciativa o International Council of Scientific Unions (ICSU), o International Social Science Council (ISSC), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Chamada liderada pela FAPESP

Após a assinatura do memorando de entendimento, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e vice-presidente do Belmont Forum, fez uma apresentação sobre as futuras ações de pesquisa colaborativa no âmbito do grupo internacional. Entre elas, está o lançamento de uma chamada de propostas de pesquisa sobre segurança alimentar e bioenergia, em 2013, que deverá ser liderada pela FAPESP.

A proposta surgiu na última reunião do Belmont Forum, quando representantes das agências de fomento da África do Sul e Índia, entre outros países, manifestaram o interesse em pesquisas sobre a relação entre bioenergia, produção de alimentos e água e convidaram a FAPESP para liderar uma chamada.

A FAPESP aceitou e se propôs a organizar um workshop entre outubro e novembro de 2012, no Brasil, para formatar uma proposta que irá apresentar na próxima reunião do Fórum, em janeiro de 2013, na Índia, para gerenciar a chamada de propostas envolvendo bioenergia, segurança alimentar e hídrica.


“Desenvolvimento sustentável é um desafio para o mundo e um tema cheio de oportunidades para o Brasil. A FAPESP, com seus três programas sobre biodiversidade, bioenergia e mudanças climáticas globais, está institucionalmente posicionada para participar ativamente, abrindo oportunidades para os pesquisadores no Estado de São Paulo”, disse Brito Cruz em sua apresentação em Londres.

De acordo com Brito Cruz, outros temas que deverão ser contemplados nas próximas chamadas de propostas de pesquisas lançadas no âmbito do Belmont Forum deverão ser sobre o Ártico, que não terá a participação do Brasil, Índia e África do Sul, e sobre integração de dados científicos para possibilitar seu uso em vários campos de pesquisa.

Na avaliação de Carlos Joly, coordenador do programa BIOTA-FAPESP e diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a FAPESP dará uma importante contribuição filosófica para o Belmont Forum, que pretende organizar a pesquisa ambiental no mundo.

“Os programas de pesquisa da FAPESP são exemplos de como organizar redes de pesquisa em uma determinada temática, congregando pesquisadores com objetivos e utilizando ferramentas eletrônicas comuns, como no caso do BIOTA, que podem ser uma contribuição filosófica interessante da FAPESP à proposta do Belmont Forum”, disse Joly. 

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