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Groenlândia confirma conexão entre queda de telecomunicações e apagão

Disputa política na Espanha atrasa investigação; premier espanhol, Pedro Sánchez, traçou linhas da batalha política do jogo de culpa que já está se formando

Agência o Globo
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Publicado em 30 de abril de 2025 às 12h32.

A operadora de telecomunicações da Groenlândia anunciou nesta quarta-feira, 30, que a queda de serviços de telefonia e internet registrada no território na segunda-feira aconteceu em decorrência do apagão massivo registrado na Península Ibérica, que também afetou partes de Andorra e França. Os esforços para descobrir e explicar as causas do incidente estão sendo atrapalhadas por disputas políticas entre o governo espanhol, liderado pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, e a oposição, em uma disputa de narrativas sobre a culpa pela grave falha no sistema elétrico.

"Dependemos das redes internacionais. Portanto, os cortes de energia na Espanha podem, em casos excepcionais, afetar as comunicações na Groenlândia", disse o diretor de operações da Tusass, Jonas Hasselriis, citado em um comunicado na noite de terça-feira, um dia após a notificação sobre a perda de conexão com a equipe que gerencia o link de satélite localizado em Maspalomas, Espanha.

As telecomunicações na Groenlândia foram interrompidas a partir das 16h30 (em Brasília) da segunda-feira até 22h26. Na Espanha e em Portugal, o apagão durou cerca de dez horas, com a normalização total acontecendo apenas na terça-feira. O motivo da queda de energia ainda não foi esclarecido, com uma disputa de narrativas políticas dificultando os trabalhos de apuração.

Enquanto a Red Eléctrica, operadora de energia espanhola, coletava milhões de pontos de dados em uma investigação altamente técnica para determinar o que causou o sumiço de cerca de 60% da energia do sistema, Sánchez traçou linhas da batalha política do jogo de culpa que já está se formando, rebatendo as alegações de que a expansão de fontes eólica e solar por seu governo tenha provocado o apagão.

— Não foi um problema de excesso de energias renováveis — disse Sánchez à imprensa na terça-feira, acrescentando que os rivais políticos que tem vinculado a vulnerabilidade da rede à retirada da energia nuclear estão "mentindo ou demonstrando sua ignorância".

Confusão generalizada e falta de uma liderança clara após um evento de impacto nacional não são novidade na Espanha. Em outubro passado, uma resposta confusa das autoridades locais, regionais e estaduais às chuvas sem precedentes que mataram mais de 200 pessoas em Valência gerou tamanha indignação que políticos de ambos os lados do espectro e até mesmo o rei Felipe II foram atingidos por lama ao visitarem vilarejos duramente atingidos.

Passadas mais de 24 horas da crise sem um posicionamento decisivo, a resposta mais clara veio da Red Eléctrica, que apontou uma rápida combinação de eventos em um intervalo de cinco segundos. Na segunda-feira, com os espanhóis atordoados, técnicos da operadora falaram ao público pouco mais de duas horas após o apagão, enquanto Sánchez só compareceu quase três horas depois.

— Mais de 20 horas se passaram e não temos nenhuma explicação para o que aconteceu — disse Alberto Núñez Feijóo, líder do conservador Partido Popular, à mídia local. — A impressão que estamos passando é vergonhosa.

As horas de silêncio alimentaram o temor de que o ataque cibernético de uma potência estrangeira tivesse causado o apagão. Só na manhã de terça-feira a Red Eléctrica descartou essa hipótese, com base em uma análise preliminar realizada com agências nacionais de segurança cibernética. Isso não aliviou a confusão, pois Sánchez afirmou que era muito cedo para dizer qual poderia ser a causa, e a Justiça espanhola abriu uma investigação, afirmando que "o terrorismo cibernético está entre as possibilidades".

O próprio Sánchez foi questionado sobre a probabilidade de o apagão ter sido causado por um ataque cibernético em uma coletiva de imprensa em Madri.

— Seria tolice descartar qualquer hipótese — disse o primeiro-ministro, apesar de insistir que as energias renováveis ​​não eram as culpadas. — Não estou descartando, [mas] não estou apontando para isso.

Na noite de terça-feira, Sánchez convocou as maiores concessionárias de serviços públicos da Espanha para uma reunião de emergência no palácio do governo. Iberdrola SA, Naturgy Energy Group SA, Endesa SA, EDP SA, Acciona Energias e Red Eléctrica SA enviaram representantes.

"Precisamos fazer as melhorias necessárias para garantir o fornecimento e a competitividade do nosso sistema", disse Sánchez após a reunião em uma publicação no X.

Sánchez é uma figura polarizadora na Espanha, após quase sete anos, durante os quais conseguiu sobreviver à frente de coalizões cada vez mais frágeis por meio de manobras habilidosas e, às vezes, buscando demonizar seus oponentes conservadores. No ano passado, ele ameaçou abandonar a política devido a uma investigação criminal sobre os negócios de sua esposa — ele denunciou o caso como uma armação da direita.

O apagão de segunda-feira lançou um holofote desconfortável sobre a posição controversa do governo Sánchez sobre a eliminação gradual da energia nuclear em um momento em que muitos países estão estendendo a vida útil dos reatores ou planejando construir novos. Núñez Feijóo disse que as usinas nucleares precisam ser mantidas como "energia de reserva" para a capacidade volátil de energia solar e eólica.

Enquanto isso, especialistas estão tentando reunir os fatos sobre o ocorrido. Portugal não está esperando pela Espanha, e planeja solicitar uma auditoria independente do incidente à União Europeia. Quanto mais tempo a incerteza persistir, maior será a pressão sobre Sanchez. (Com Bloomberg e AFP)

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