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Groenlândia chama de 'interferência estrangeira' a visita de uma delegação americana

Primeiro-ministro interino da Groenlândia critica a presença de membros do governo dos EUA em momento de transição política no território dinamarquês

Groenlândia: tensão aumenta após visita de delegação dos EUA, enquanto o país discute a formação de um novo governo (Emil Stach / Ritzau Scanpix / AFP/AFP)

Groenlândia: tensão aumenta após visita de delegação dos EUA, enquanto o país discute a formação de um novo governo (Emil Stach / Ritzau Scanpix / AFP/AFP)

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Publicado em 24 de março de 2025 às 13h47.

Última atualização em 24 de março de 2025 às 13h51.

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O primeiro-ministro interino da Groenlândia, Mute Egede, classificou a visita de uma delegação dos Estados Unidos ao território autônomo dinamarquês, cobiçado por Donald Trump, como “interferência estrangeira” e afirmou que não haverá "nenhuma reunião" com os enviados. A delegação, que chegará na ilha na próxima quinta-feira, é liderada por Usha Vance, esposa do vice-presidente dos EUA, e inclui o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o secretário de Energia, Chris Wright.

“É necessário ressaltar que nossa integridade e nossa democracia devem ser respeitadas sem qualquer interferência estrangeira”, escreveu Egede em uma publicação no Facebook.

A visita, segundo Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, tem como objetivo “construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica”.

"Os Estados Unidos têm um interesse de segurança investido na região do Ártico, e não deveria ser uma surpresa que o conselheiro de segurança nacional e o secretário de energia estejam visitando uma base espacial dos EUA para obter informações em primeira mão de nossos membros de serviço no solo. Também estamos confiantes de que esta visita apresenta uma oportunidade de construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica", declarou o porta-voz.

Usha Vance viajará para assistir à corrida nacional de trenós puxados por cães da ilha e “celebrar a cultura e a unidade da Groenlândia”, de acordo com uma declaração da Casa Branca.

No entanto, Egede declarou que “não haverá nenhuma reunião” com a delegação, pois "os americanos foram claramente informados que só poderá haver [encontros oficiais] após a posse do novo governo".

Desde a derrota de seu partido de esquerda ecologista, Egede governa a Groenlândia de forma interina, antes da formação de um novo governo. Seu provável sucessor, Jens-Frederik Nielsen, líder do partido de centro-direita que venceu as eleições, classificou recentemente como "inapropriados" os comentários de Trump sobre seu desejo de anexar a Groenlândia.

"O fato de os americanos estarem bem cientes de que estamos no meio de negociações mais uma vez mostra uma falta de respeito pelo povo da Groenlândia", afirmou Nielsen.

'A comunidade internacional deve reagir'

"Até recentemente, podíamos confiar nos americanos, que eram nossos aliados e amigos, e com quem gostávamos de trabalhar de perto. Mas esse tempo acabou", disse o primeiro-ministro interino ao jornal local Sermitsiaq, acrescentando que a iniciativa americana é uma "provocação" e "altamente agressiva".

Egede também reforçou sua indignação com a presença de Mike Waltz.

'Não queremos ser americanos': diz premier da Groenlândia após Trump reforçar interesse na ilha
"O que o conselheiro de segurança nacional está fazendo na Groenlândia? O único propósito é demonstrar poder sobre nós. Sua mera presença na Groenlândia sem dúvida alimentará a crença americana na missão de Trump - e a pressão aumentará", afirmou ao jornal local. — Estamos agora em um ponto em que isso não pode mais ser descrito como uma visita inocente da esposa de um político. A comunidade internacional deve reagir agora.

A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, deixou claro neste domingo que nem a Dinamarca nem a Groenlândia solicitaram as viagens.

"A visita dos Estados Unidos não pode ser vista isoladamente das declarações públicas que foram feitas. Isso é algo que levamos a sério", disse.

Os EUA têm militares na Groenlândia há 75 anos

Desde a década de 1950, os Estados Unidos mantêm presença militar na Groenlândia, especialmente na base de Pituffik, que será visitada pela delegação nesta semana. A administração Trump já manifestou interesse em explorar recursos minerais estratégicos da ilha, como terras raras, essenciais para a indústria tecnológica e transição energética.

A Groenlândia, com população de cerca de 57 mil habitantes — quase 90% de origem inuíte —, continua a reforçar sua autonomia. Desde 2009, o território administra seus próprios recursos naturais e sistema de Justiça, embora a Dinamarca, que governou o país como uma colônia até 1953, ainda detenha controle sobre defesa e política externa.

Em janeiro deste ano, uma pesquisa encomendada por jornais dinamarqueses e groenlandeses mostrou que 85% da população da Groelândia rejeitam a ideia de se tornarem parte dos Estados Unidos.

O primeiro-ministro Egede ainda disse neste domingo que o esforço dos groenlandeses para serem diplomáticos apenas "rebate Donald Trump e seu governo em sua missão de possuir e controlar a Groenlândia".

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