Mundo

Greves seguem no Egito apesar de advertências

Apesar dos pedidos do exército pelo fim dos protestos, trabalhadores aproveitam a queda de Mubarak para pedir aumento nos salários

Praça Tahrir, no Cairo: queda de Mubarak não acababou com os protestos (John Moore/Getty Images)

Praça Tahrir, no Cairo: queda de Mubarak não acababou com os protestos (John Moore/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 12h29.

Cairo - Os trabalhadores egípcios estão testando os limites da liberdade conquistada na revolta que derrubou o presidente Hosni Mubarak, na semana passada, ao retomar nesta quarta-feira as greves contra as quais foram advertidos na véspera pelo exército, que pediu aos manifestantes que retornem a seus postos de trabalho.

Os funcionários da maior fábrica têxtil do Egito amanheceram em greve nesta quarta-feira para reclamar um aumento salarial e melhores condições de trabalho, um dia depois da advertência do exército contra as consequências "desastrosas" dos novos movimentos sociais.

Faisal Nausha, um dos organizadores da greve, indicou à AFP que os funcionários da empresa pública têxtil Misr Spinning and Weaving (Fios e Tecidos), que emprega 24.000 pessoas em Mahallah, no Delta do Nilo, pede também a saída de dois diretores da fábrica.

Os operários haviam suspendido a paralisação há três dias, mas Nausha disse à imprensa que eles continuariam pressionando para obter maiores salários.

No ano passado, uma sentença judicial elevou o salário mínimo de 400 libras egípcias (68 dólares) para 1.200 (204 dólares), mas os trabalhadores não receberam o que era devido, afirmou.

Preocupado com a tormenta econômica que afeta o Egito, o exército - que herdou o poder depois da renúncia de Mubarak, na última sexta-feira - alertou que a realização de novas greves seria "desastroso" para o país.

O exército "é consciente das condições sociais e econômicas que atravessa a sociedade, mas estes problemas não podem ser resolvidos antes do fim das greves e das paralisações", declarou o Conselho Militar, citado pela agência oficial MENA.

"O resultado destas ações seria desastroso", acrescentou.

Na cidade de Ismailiya, funcionários dos ministérios da Irrigação, Educação e Saúde protestaram em frente às sedes provincianas, exigindo "salários mais justos", disseram testemunhas.

O protesto político que derrubou o presidente Mubarak, que passou 30 anos no poder, provocou um movimento em todo o país em busca de melhores salários.

Trabalhadores do setor bancário, dos transportes, petroleiro, têxtil, da televisão estatal e dos institutos governamentais estão em greve para pedir remunerações mais altas e melhores condições de trabalho, segundo Kamal Abas, do centro de serviços dos sindicatos.

"É difícil dizer exatamente quantas pessoas estão em greve e aonde. Quem não está em greve?", indagou Abas esta semana.

Vários sindicatos são dirigidos por pessoas ligadas ao antigo regime de Mubarak, motivo pelo qual os trabalhadores dispõem de poucos canais formais para expressar suas demandas.

"Em vários lugares, os trabalhadores querem que os altos funcionários acusados de corrupção sejam demitidos", disse Abas.

A diferença salarial entre a direção e os funcionários é outro tema chave para os grevistas. Além disso, os trabalhadores que há anos são mantidos com contratos temporários também pedem proteção trabalhista legal.

As greves e protestos se espalharam pelo Cairo, Alexandria, Qaliubiya, Suez, Ismailiya e Aswan.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoGreves

Mais de Mundo

Austrália proíbe acesso de menores de 16 anos às redes sociais

Putin ameaça usar míssil balístico de capacidade nuclear para bombardear Ucrânia

Governo espanhol avisa que aplicará mandado de prisão se Netanyahu visitar o país

Os países com as maiores reservas de urânio do mundo