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Greve de sindicatos argentinos pressiona Milei enquanto Congresso resiste a aprovar 'lei ônibus'

Sem o apoio necessário na Câmara, a Casa Rosada foi obrigada a adiar a votação do projeto para terça que vem

Argentina: Manifestantes seguram cartazes em frente ao Congresso Nacional durante uma greve nacional contra as políticas do presidente Javier Milei  (Luciano Gonzalez/Getty Images)

Argentina: Manifestantes seguram cartazes em frente ao Congresso Nacional durante uma greve nacional contra as políticas do presidente Javier Milei (Luciano Gonzalez/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 07h17.

O governo do presidente argentino, Javier Milei, enfrentou nesta quarta-feira a primeira greve geral convocada pela Central Geral de Trabalhadores (CGT), principal sindicato do país, juntamente com outras organizações, movimentos sociais, grande parte do peronismo e kirchnerismo, e partidos de esquerda.

Segundo os promotores da medida, a paralisação contou com a adesão de cerca de 1,5 milhão de pessoas em todo o país, e 350 mil na cidade de Buenos Aires (governo estimou em 40 mil), cenário de um gigantesco protesto contra o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) aprovado pelo presidente em dezembro passado, e o projeto de "lei ônibus", que deve ser votado semana que vem no Congresso.

A previsão original do governo era de que a Câmara votasse a lei ônibus nesta quinta, mas a falta de apoio por parte da chamada “oposição dialoguista” a vários dos pontos do projeto obrigou a Casa Rosada a adiar a sessão. Uma das medidas que enfrentam mais resistências é a manutenção e elevação, em alguns casos, dos tributos às exportações de grãos, as retenções.

Modificações na fórmula de cálculo das aposentadories também são questionadas por partidos que dizem estar dispostos a apoiar o governo, mas exigem alterações no projeto. Milei já aceitou mudanças, entre elas a redução do período em que o governo solicita poderes extraordinários ao Parlamento, que passou de dois anos — prorrogáveis por mais dois automaticamente — para um ano, podendo ser ampliado apenas com sinal verde do Congresso. Mas a oposição pede mais.

— A greve foi contundente, mas tudo indica que Milei conseguirá negociar os apoios que precisa. O presidente fez concessões e deverá fazer mais, o que deixa dúvidas sobre o que, finalmente, será conseguido pela Casa Rosada se compararmos o projeto original com o que eventualmente se tornará lei — explica Patricio Talavera, professor da Universidade Nacional de Buenos Aires (UBA).

A greve paralisou parcialmente o país. O setor de transportes funcionou normalmente até às 19h, os bancos até o meio-dia, e na capital vários comércios ficaram abertos. Mais importante do que a paralisação parcial durante grande parte do dia, foi a mobilização nas ruas do centro de Buenos Aires e de várias cidades do país.

Recado aos legisladores

Com discursos desafiadores, as lideranças sindicais enviaram recados diretos aos deputados e senadores. Na madrugada desta quarta, comissões da Câmara haviam alcançado um consenso sobre o texto que será votado e que prevê diversas reformas em matérias econômica, tributária, de segurança, em organismos estatais, empresas públicas e na cultura, entre muitos outros.

— Querem destruir o Estado, que é a única instituição que permite o equilíbrio social. Não somos idiotas — declarou o secretário geral da CGT, Hector Daer, que semana passada afirmou que congressistas que apoiarem o projeto de Milei “não poderão andar tranquilos nas ruas”.

A política argentina atual se parece um jogo de xadrez. A jogada dos sindicatos mostrou que os setores prejudicados pelos projetos de Milei estão começando a se organizar depois da surra eleitoral sofrida pelo peronismo nas eleições presidenciais de 2023.

— São mafiosos que defendem privilégios — declarou a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que, mais uma vez, implementou o protocolo antipiquetes.

O governo impediu o bloqueio de pontes de acesso à capital argentina, mas não conseguiu conter a maré humana que tomou conta da Praça do Congresso, onde discursaram os sindicalistas.

— Se o ministro da Economia levar adiante essas medidas, os trabalhadores vão jogá-lo no Riachuelo (rio que passa por bairros portenhos, como La Boca) — disse Pablo Moyano, líder do sindicato dos caminhoneiros.

Os sindicatos estão em pé de guerra com o governo de Milei por reformas que modificam o mercado de trabalho, eliminam benefícios tributários aprovados pelo ex-ministro da Economia Sergio Massa durante a campanha eleitoral (entre eles a elevação do teto para quem deve pagar Imposto de Renda) e tiram poder das organizações sindicais. A marcha foi uma demonstração de força expressiva, mas não está claro se terá impacto nas votações no Parlamento.

Em meio às ameaças dos sindicalistas, internautas publicaram nas redes sociais fotos e nomes dos deputados que, sob forte pressão dos governadores de suas províncias, apoiaram o texto da lei ônibus que será votado na Câmara. Os governadores, por sua vez, estão sob pressão do governo. Na terça-feira, em sua conta no Twitter, o ministro da Economia, Luis Caputo, foi direto ao ponto: “Mantive uma reunião com o secretário da Fazenda e a subsecretária de províncias para definir as remessas provinciais que serão cortadas imediatamente, caso algum dos artigos econômicos for rejeitado (no Congresso).”

— O projeto de lei ônibus ainda sofrerá mudanças, e a votação no Senado não será nada simples — aponta Diego Reynoso, professor da Universidade de San Andrés.

Milei e a Argentina vivem dias de tensão, e nada parece indicar que essa tensão vai diminuir nas próximas semanas.

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