Grace Mugabe e seu marido: Nos seus primeiros anos como esposa de Mugabe, se dedicou a percorrer grandes lojas de capitais ocidentais (Philimon Bulawayo/Reuters)
EFE
Publicado em 19 de novembro de 2017 às 15h28.
Harare - A sede de poder da primeira-dama do Zimbábue, Grace Mugabe, enfureceu o exército o suficiente para que atuasse contra seu marido, Robert Mugabe, o "eterno" presidente da nação sul-africana, que, a ponto de cair, vê afastar-se sua promessa de governar o país até os 100 anos.
Grace Mugabe, de 52 anos e nascida na África do Sul de pais zimbabuanos, é uma peça-chave na crise que mantém à beira do abismo as quase quatro décadas de comando do seu marido e que hoje parece ter recebido um golpe de misericórdia com sua expulsão do partido, a União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (ZANU-PF), da qual o presidente também não já é o líder.
Apelidada de "Gucci Grace" pela sua fama de comprar em lojas de luxo, hoje vive seus últimos dias como primeira-dama retida na sua residência pelos militares, quando há 30 anos não era mais que uma datilógrafa no escritório do presidente, 41 anos mais velho que ela.
Quando sua primeira esposa, Sally, ainda agonizava por uma longa doença renal, o presidente e a então conhecida como Grace Marufu começaram uma relação que foi consumada com um extravagante casamento em 1996, quatro anos depois de Mugabe ficar viúvo.
Nos seus primeiros anos como esposa de Mugabe, se dedicou a percorrer grandes lojas de capitais ocidentais enquanto ele participava de cúpulas e realizava visitas oficiais.
No entanto, quando Mugabe - cuja popularidade despencou por apoiar Laurent Kabila na guerra do Congo - deu um golpe de efeito e expropriou as terras dos fazendeiros brancos para redistribui-las entre a população negra, a primeira-dama recebeu vários hectares no fértil distrito de Mazowe, ao norte da capital Harare.
A fazenda leiteira que dirigia não era suficiente para satisfazer Grace e pouco a pouco ela começou a escalar postos na ZANU-PF, até conseguir ser eleita em 2014 como líder da sua poderosa seção feminina.
Sua primeira conquista foi a destituição da vice-presidente do governo, Joice Mujuru, uma destacada figura da guerra de libertação, a quem via como uma ameaça para seu marido - foi acusada de "conspirar" contra ele - e um obstáculo para suas próprias aspirações de sucedê-lo no poder.
Mas a vice-presidência, que Grace via como prelúdio de sua ascensão definitiva à chefia de Estado, foi parar com um experiente membro do governo, o veterano de guerra Emmerson Mnangagwa, figura-chave nos massacres de mais de 20.000 integrantes da etnia Ndebele nos anos 80.
Animados pelo sucesso que tiveram desfazendo-se de Mujuru, a primeira-dama e seus aliados no partido - conhecidos como a facção G40 - subestimaram a influência do novo vice-presidente e os fortes laços que tinha desenvolvido com o exército durante o seu período à frente do Ministério da Defesa.
Grace, desprovida do carisma e do apoio popular do seu marido, ignorou sua falta de influência sobre as forças armadas.
A campanha contra Mnangagwa marcou um ponto de inflexão quando o vice-presidente foi hospitalizado, com sintomas de ter sido envenenado - segundo seus seguidores, após tomar um sorvete proveniente da fazenda de Grace -, depois de um comício da primeira-dama.
As acusações a enfureceram e Grace usou sua influência sobre o envelhecido presidente para que destituísse seu vice.
Tudo parecia encaminhado para Grace já que nesse mesmo comício pediu a seu marido que "não tivesse medo" e a deixasse "substitui-lo em seu posto", e Mnangagwa foi cassado no dia seguinte.
Só se passou uma semana até que o exército se alçou contra o governo devido aos expurgos, colocando sob detenção domiciliar os Mugabe e prendendo os ministros vinculados à primeira dama.
Desde então, desde os veteranos de guerra até os próprios membros do seu partido reprovaram publicamente Grace Mugabe e pediram sua expulsão da ZANU-PF, que foi confirmada hoje, acabando com seu sonho de herdar a presidência com a morte de seu marido.
Os cidadãos também a rejeitaram e, nas gigantescas manifestações de ontem, era possível ver cartazes com seu rosto e a frase: "A liderança não é sexualmente transmissível".