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Governos minimizam risco de colapso bancário global após quebra do SVB

Dos EUA à Europa, governos afirmam que não parece haver risco de que quebra do Silicon Valley Bank repita crise de 2008; no Brasil, Haddad se pronunciou sobre o tema nesta segunda-feira

Biden: governos pelo mundo dizem monitorar riscos, mas apontam que situação do SVB é localizada (AFP/AFP Photo)

Biden: governos pelo mundo dizem monitorar riscos, mas apontam que situação do SVB é localizada (AFP/AFP Photo)

Carolina Riveira
Carolina Riveira

Repórter de Economia e Mundo

Publicado em 13 de março de 2023 às 12h52.

Última atualização em 13 de março de 2023 às 14h16.

Governos pelo mundo começaram a se pronunciar nos últimos dias após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), banco da Califórnia especializado no financiamento de startups, e do Signature Bank, fechado na esteira do caso SVB. Por ora, políticos têm afirmado que não há previsão de que o caso dos dois bancos se transforme em uma crise global generalizada no setor bancário – mas admitem, por outro lado, que há risco aumentado para o setor de tecnologia dos países em todo o mundo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se pronunciou nesta segunda-feira, 13, afirmando que o sistema bancário americano "é seguro" e que não há risco de colapso no setor bancário. Em 2008, a situação do Lehman Brothers em meio a uma bolha imobiliária gerou uma "corrida aos bancos", com clientes correndo para sacar depósitos em várias instituições. O caso terminou com a falência do Lehman Brothers e impacto em cadeia em todo o setor, além de posterior recessão global. Uma série de bancos e empresas precisaram ser socorridos pelo governo americano na ocasião.

Embora políticos e analistas do mercado afirmem que as situações não são comparáveis por enquanto, o SVB se tornou o maior banco americano a falir desde a crise de 2008, um rótulo que ajudou a acender o sinal de alerta.

Desta vez, o governo dos EUA tem batido o martelo dizendo que não socorrerá o SVB especificamente. Biden disse que somente está garantido o depósito aos clientes, "que terão acesso a seu dinheiro hoje", mas não a investidores do banco que tomaram risco.

Janet Yellen, secretária do Tesouro americano, disse no fim de semana que não há risco de contágio nas operações de outros bancos. A secretária enfatizou que a situação é diferente da crise financeira de 15 anos atrás. “O sistema bancário americano é realmente seguro e bem capitalizado. É resiliente”, disse.

Vítima de 2008, Europa diz que não há risco de contágio

Nesta segunda-feira, na Europa, governos também se pronunciaram em relação aos riscos no mercado local. Na quebra de 2008, embora o caso tenha se originado nos EUA, a Europa foi uma das regiões mais afetadas, em um período de crise que se arrastou até os anos 2010. As bolsas europeias abriram o dia em baixa nesta manhã.

O ministro de Finanças da França, Bruno Le Maire, assegurou nesta segunda-feira que as falências dos dois bancos estadunidenses não impõem riscos a instituições financeiras francesas. "Não vejo qualquer risco de contágio, então não há alerta específico [a fazer]", disse Le Maire, em entrevista à emissora FranceInfo.

Ainda segundo o ministro, os bancos e o sistema financeiro da França são "sólidos" e contam com "alto índice de liquidez" para resistir a choques.

No Reino Unido, o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, disse no fim de semana que o Banco da Inglaterra "deixou muito claro" que não há risco sistêmico ao setor financeiro do Reino Unido. Mas afirmou que há preocupação com o setor de tecnologia, o que o governo vem monitorando.

“Existe um sério risco para nossos setores de tecnologia e ciências biológicas, muitos dos quais são bancários deste banco”, disse Hunt em entrevista ao canal de televisão britânico Sky News.

"A maioria das pessoas nunca ouviu falar do Banco do Vale do Silício, mas acontece que ele cuida do dinheiro de alguns de nossos negócios mais promissores e empolgantes", disse Hunt.

O governo do Reino Unido planeja colocar em prática um plano para evitar que empresas afetadas deixem de pagar funcionários, o que poderia gerar uma escalada da crise.

O Tesouro britânico disse no fim de semana que os problemas do SVB são "específicos da empresa" e não tinham "implicações para outros bancos que operam no Reino Unido". O Banco Central Europeu foi na mesma linha e afirmou que o sistema monetário da região segue sólido e bem capitalizado.

Haddad diz que situação do SVB será acompanhada

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 13, que o colapso do SVB "aparentemente" não é suficiente para gerar uma crise sistêmica. Apesar disso, afirmou que o caso "é grave" e serão necessárias mais informações para entender a dimensão dos efeitos globais.

"Eu não sei se ele vai gerar uma crise sistêmica. Aparentemente, não. Não vi ninguém ainda tratar desse episódio como um Lehman Brothers, mas o fato é que é grave o que aconteceu", disse, em evento organizado pelos jornais Valor Econômico e O Globo no período da manhã desta segunda-feira.

Haddad relatou ter passado o fim de semana conversando com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e com bancos brasileiros para colher a percepção de risco. O ministro diz que discutirá novamente o tema após a volta do dirigente de viagem para reunião do BIS (Banco de Compensações Internacionais, o "banco central dos bancos centrais").

"Precisa ver se a autoridade monetária do Brasil vai ter de tomar alguma providência em virtude dos efeitos sobre as economias periféricas. Isso não está claro ainda, é o que vamos acompanhar ao longo do dia", afirmou Haddad.

O ministro acrescentou que a reação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) à quebra do SVB foi positiva para garantir os depositantes e evitar uma corrida bancária. Haddad lembrou ainda que o SVB é um banco regional, com carteira descasada, o que pode minimizar os impactos.

Como primeiras medidas para conter a crise, o Fed anunciou um pacote de socorro por parte do fundo garantidor de crédito americano, o FDIC, que irá cobrir até US$ 250 mil em depósitos (veja aqui). O Fed também implementará um programa de fundo bancário para proteger as instituições afetadas pela instabilidade no mercado.


O que aconteceu com o Silicon Valley Bank?

Na quarta-feira, 10, o SVB, banco financiador de startups no Vale do Silício, surpreendeu o mercado ao anunciar que pretendia levantar US$ 2,25 bilhões para equilibrar suas contas. O capital extra ajudaria a instituição a lidar com a queima de caixa acelerada de seus clientes em meio a um ambiente de juros altos.

O anúncio gerou pânico nos mercados e os clientes da instituição correram para sacar mais de U$ 40 bilhões de depósitos, gerando a maior crise no setor desde 2008.

A derrocada é outra consequência da campanha agressiva do Fed em subir juros para controlar a inflação. De um lado, os rápidos aumentos de juros forçam os bancos a pagar rendimentos maiores para reter depósitos. De outro, o aumento do rendimento dos títulos reduz o valor dos bonds mantidos nos balanços dos bancos, pressionando a sustentabilidade financeira das instituições.

Os bancos possuem muitos desses títulos, incluindo títulos do Tesouro, e agora estão sentados em gigantescas perdas não realizadas. Além disso, quando as taxas de juros sobem, as startups têm mais dificuldade em acessar financiamento com os empréstimos ficando mais caros. A combinação de fatores foi responsável pela corrida de resgates no SVB.

(Com informações da agência O Globo e Estadão Conteúdo e reportagem de Beatriz Quesada, da EXAME)

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