Repórter
Publicado em 18 de julho de 2025 às 20h42.
Última atualização em 18 de julho de 2025 às 21h10.
O governo de Donald Trump anunciou nesta sexta-feira, 18, a proibição de entrada nos Estados Unidos do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), seus familiares e "seus aliados" na corte.
A medida foi adotada após o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e outros aliados do ex-presidente terem se deslocado a Washington em busca de sanções contra o ministro.
O anúncio foi realizado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, em suas redes sociais. "Ordenei a revogação de visto para Moraes e seus aliados na corte, assim como para familiares diretos imediatamente", afirmou Rubio.
.@POTUS made clear that his administration will hold accountable foreign nationals who are responsible for censorship of protected expression in the United States. Brazilian Supreme Federal Court Justice Alexandre de Moraes's political witch hunt against Jair Bolsonaro created a…
— Secretary Marco Rubio (@SecRubio) July 18, 2025
Na postagem, o secretário argumentou que o STF realiza uma "caça às bruxas política" contra o ex-presidente Bolsonaro e alegou que o tribunal viola direitos fundamentais não apenas dos brasileiros, mas também dos cidadãos americanos. A declaração de Marco Rubio também foi publicada no site do Departamento de Estado dos EUA.
Desde o governo Bolsonaro (2019-2022), Moraes tornou-se um dos principais opositores do ex-presidente e seus aliados. Ele foi o responsável por relatar os principais inquéritos que investigaram bolsonaristas e presidiu o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nas eleições presidenciais de 2022, vencidas por Lula (PT).
A pressão sobre o governo dos Estados Unidos começou a ter efeitos em 9 de julho, quando Trump anunciou a imposição de tarifas adicionais ao Brasil, justificando que Jair Bolsonaro estaria sendo perseguido pelo STF com a colaboração do presidente Lula.
A família Bolsonaro condicionou o fim das sobretaxas à aprovação no Congresso de uma anistia ampla para livrar da prisão e das condenações os envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro e aqueles acusados de tentar impedir a posse de Lula em 2022.
Jair Bolsonaro, inelegível até 2030 devido a condenações na Justiça Eleitoral, é considerado o principal responsável pela trama, que deve ser julgada ainda neste ano.
Se condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e ameaça grave ao patrimônio público, além de deterioração do patrimônio tombado, Bolsonaro pode ser condenado a mais de 40 anos de prisão.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, 18, que cumpriu mandados de busca e apreensão em sua residência em Brasília, no bairro Jardim Botânico, e também em outros locais, como a sede do PL (Partido Liberal) na capital federal.
Entre as medidas determinadas contra Bolsonaro estão:
O processo que envolve Bolsonaro é derivado da Ação Penal 2668, em que ele é acusado de ser líder de uma organização criminosa com o objetivo de atentar contra o Estado Democrático de Direito.
A investigação da Polícia Federal aponta que tanto o ex-presidente quanto seu filho, Eduardo Bolsonaro, utilizaram recursos para interferir nas investigações e ameaçar o regular andamento dos processos judiciais.
As acusações incluem a prática de coação no curso do processo, que se refere a tentativas de influenciar o julgamento da Ação Penal 2668/DF, e obstrução de investigação, com o objetivo de prejudicar as investigações sobre os eventos pós-eleições de 2022.
Além disso, o ex-presidente é acusado de atentar contra a soberania nacional, ao tentar negociar com governos estrangeiros, principalmente o dos Estados Unidos, para a imposição de sanções contra autoridades brasileiras, como membros do STF e da Polícia Federal.
Esses atos configurariam uma tentativa de subordinar o funcionamento da Corte Suprema a interesses externos, o que é uma violação da Constituição.
Na coletiva de imprensa de Bolsonaro realizada na última terça-feira, 17, o ex-presidente fez declarações que foram interpretadas pela investigação como uma confissão explícita de sua tentativa de interferir no processo judicial que tramita no STF.
Segundo o documento, Bolsonaro, ao comentar o andamento da Ação Penal 2668, mencionou condições de impunidade relacionadas ao seu processo, o que gerou uma forte reação das autoridades.
Ele foi acusado de coagir o STF e ameaçar o Poder Judiciário, afirmando que a imposição de tarifas econômicas por parte dos Estados Unidos seria um fator importante para o fim das acusações contra ele e sua família.
"O comportamento de ruptura com regras elementares de atuação em sociedade, que está estampado publicamente, se torna ainda mais grave quando se leva em conta o anúncio de novas medidas empreendidas contra a soberania do país, o Estado Democrático de Direito e autoridades brasileiras", diz o documento.
As investigações apontam um alinhamento claro entre as ações de Bolsonaro e as de seu filho, Eduardo Bolsonaro. Segundo a Polícia Federal, ambos estariam atuando em conjunto para embaraçar o andamento das investigações e da Ação Penal 2668, além de promoverem ataques à independência do Poder Judiciário.
A colaboração entre os dois se manifestou de diversas formas, como nas postagens em redes sociais, nas quais incitaram ações hostis contra autoridades brasileiras e buscaram apoio externo, principalmente dos Estados Unidos, para ações que poderiam impactar as investigações e até as relações econômicas entre Brasil e EUA.
Além disso, Jair Bolsonaro admitiu ter repassado R$ 2 milhões para seu filho Eduardo, por meio de uma transferência via Pix, no dia 13 de maio de 2025, enquanto ele estava no exterior.
O valor, segundo a investigação, foi transferido diretamente da conta bancária de Jair Bolsonaro para a conta de seu filho, em um claro alinhamento das ações de ambos com o objetivo de interferir na justiça e nas investigações.
Um dos pontos mais graves levantados pelas investigações é a interferência externa promovida pela família Bolsonaro, com apoio de autoridades norte-americanas.
Em suas postagens, Eduardo Bolsonaro agradeceu ao governo dos Estados Unidos e pressionou pela imposição de sanções econômicas contra o Brasil, o que, segundo o documento, teria como objetivo pressionar o Poder Judiciário brasileiro.
Bolsonaro também se manifestou publicamente em apoio às ações externas, incluindo a repostagem de mensagens de apoio do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que atacava as instituições brasileiras e ameaçava com tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros.
As ações, que podem configurar tentativa de interferência nos assuntos internos do Brasil, são vistas pelo STF como uma forma de obstrução à justiça e tentativa de obter impunidade nas investigações, com o objetivo de enfraquecer a autoridade das instituições brasileiras e interromper a ação judicial contra o ex-presidente.
Diante das evidências levantadas pela Polícia Federal, o Supremo Tribunal Federal determinou a imposição de medidas cautelares para garantir a continuidade das investigações e a ordem pública. Bolsonaro foi proibido de sair da comarca sem autorização judicial, além de ter que cumprir recolhimento domiciliar noturno e monitoramento eletrônico.
Além disso, ele está proibido de se aproximar de sedes de embaixadas e de manter contato com embaixadores ou autoridades estrangeiras. A proibição de uso de redes sociais também foi imposta para evitar que o ex-presidente continue influenciando a opinião pública ou obstruindo o andamento das investigações.
A Polícia Federal também foi autorizada a realizar buscas e apreensões domiciliares para apreender aparelhos eletrônicos e documentos que possam reforçar as provas da prática de crimes relacionados à obstrução de justiça e interferência externa.