Donald Trump, presidente dos EUA, ao lado de Jensen Huang, CEO da Nvidia, em evento na Casa Branca, em abril (Andrew Harnik/Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 18h15.
Antes do encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping, na Coreia do Sul, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, fez um pedido importante ao governo dos EUA: liberar a venda de chips avançados de inteligência artificial para a China.
A autorização poderia impulsionar a tecnologia de IA chinesa, mas esbarrou em fortes objeções de assessores de Trump, que alertaram para riscos à segurança nacional. A decisão final da Casa Branca foi adiar a discussão sobre o assunto, destacando o impacto das relações comerciais e geopolíticas na corrida pela tecnologia.
A posição de Donald Trump sobre a questão foi detalhada por funcionários do governo, sob condição de anonimato, ao Wall Street Journal.
De acordo com as fontes ouvidas pelo jornal norte-americano, a liberação da exportação dos chips Blackwell da Nvidia representaria um grande problema político, pois a transação comercial poderia fornecer à China, principal rival geopolítico dos EUA, uma vantagem tecnológica. Huang, que mantém contato frequente com Trump, tem pressionado para garantir o acesso da Nvidia ao mercado chinês.
Enquanto a reunião com Xi se aproximava, altos assessores de Trump, incluindo o secretário de Estado, Marco Rubio, alertaram que a venda dos chips representaria uma ameaça à segurança do país, já que ela poderia fortalecer as capacidades de IA dos data centers chineses e contrariar os interesses estratégicos dos EUA, de acordo com fontes próximas à Casa Branca.
O governo dos Estados Unidos já estava se preparando para oferecer outras concessões à China durante o encontro - como parte de um acordo que incluiria a exportação de ímãs de terras raras. Outros opositores à liberação dos chips foram o Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, e o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, que participou das negociações comerciais, segundo o Wall Street Journal.
Diante da forte resistência de seus principais assessores, Trump optou por não discutir os chips da Nvidia durante a reunião com Xi Jinping em Busan, Coreia do Sul, em 30 de outubro, segundo autoridades.
Essa decisão representou uma vitória para Marco Rubio e outros conselheiros de Trump sobre Huang, CEO da Nvidia, que é a empresa de capital aberto mais valiosa do mundo. As exportações de chips Blackwell para a China poderiam render dezenas de bilhões de dólares e manter as empresas de IA chinesas dependentes da tecnologia da Nvidia.
A Nvidia aguarda a permissão da Casa Branca para lançar uma versão menos potente do chip Blackwell para o mercado chinês. O Blackwell é a linha mais recente de processadores de IA desenvolvida pela empresa.
"O presidente Trump ouve uma variedade de opiniões sobre questões políticas, inclusive de importantes líderes empresariais", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, ao WSJ. "O encontro histórico do presidente Trump com o presidente Xi prova, no entanto, que o único fator que guia suas decisões é o melhor interesse do povo americano."
Em um evento da Nvidia em Washington, antes da reunião entre Trump e Xi, Huang ressaltou a importância da China, a segunda maior economia do mundo, que, segundo ele, abriga cerca de metade dos pesquisadores de IA globais.
"Espero sinceramente que o presidente Trump nos ajude a encontrar uma solução", disse Huang. "No momento, estamos em uma situação delicada."
A viagem de Trump à Ásia foi um ponto crucial para o futuro da Nvidia na China, com a cúpula com Xi definindo o rumo das políticas comerciais e da corrida pela IA. Nos meses que antecederam o encontro com Xi, Trump sinalizou que poderia considerar autorizar a exportação de uma versão com desempenho reduzido do chip Blackwell.
Após a viagem à Ásia, Trump mudou de postura. Em uma entrevista ao programa “60 Minutes” no domingo, Trump afirmou que os EUA permitiriam negociações com a Nvidia, mas não com os chips mais avançados. “Não damos esse chip para outras pessoas”, disse Trump aos repórteres, sem especificar se se referia à versão de alto desempenho ou a uma versão mais modesta do Blackwell destinada à China.
O encontro entre Trump e Xi terminou sem grandes acordos, mas ajudou a reduzir as tensões, com os EUA diminuindo algumas tarifas sobre a China e Pequim concordando em retomar algumas compras de soja americana. Isso ofereceu a ambos os países tempo para desenvolver a autossuficiência em setores estratégicos, como semicondutores e minerais de terras raras, que são vulneráveis às sanções de ambos os lados.
Embora a estratégia de longo prazo da China seja alcançar a autossuficiência e liderar as inovações tecnológicas, obter acesso a processadores avançados neste momento seria crucial. Isso proporcionaria à China um tempo valioso para desenvolver suas próprias capacidades. A falta dessa concessão retardaria o progresso das ambições tecnológicas de Pequim.
Com isso, o CEO da Nvidia deve continuar seus esforços para vender os chips Blackwell na China, especialmente em razão da visita planejada de Trump ao país em abril. Na semana passada, Huang revelou em Washington que Trump frequentemente o contata tarde da noite. O executivo se tornou um dos executivos mais próximos do presidente.
A geração Blackwell de unidades de processamento gráfico (GPUs) representa os chips de IA mais poderosos já projetados pela Nvidia. A empresa afirma que os servidores com a GPU B200 são cerca de três vezes mais potentes do que aqueles equipados com o chip H100, seu antecessor, para o treinamento de modelos de IA, e cerca de 15 vezes mais potentes quando usados para processos de inferência.
As especificações do chip Blackwell que a Nvidia está desenvolvendo para a China ainda não foram divulgadas. Em agosto, Trump afirmou que estaria disposto a aprovar um chip Blackwell com uma redução de capacidade entre 30% e 50%. Caso o projeto seja autorizado, a Nvidia levaria de dois a três meses para desenvolver o chip, segundo o WSJ.
Mesmo com a possível aprovação do Blackwell para a China, existem dúvidas sobre sua viabilidade. Em agosto, a Casa Branca revogou uma proibição de exportação de um chip antigo da Nvidia, sob a condição de que a empresa compartilhasse 15% da receita obtida na China com o governo dos EUA, um acordo que alguns analistas consideram uma taxa de exportação inconstitucional.
Em seguida, autoridades chinesas instruíram as empresas a não comprar esse chip. A Nvidia afirmou que não vende mais o chip H2O na China desde abril, resultando em perdas de bilhões de dólares em vendas.
Vários críticos da Nvidia no Congresso americano têm reagido ao lobby da empresa. Antes do encontro entre Trump e Xi, alguns compartilharam com funcionários do governo um vídeo em que Huang dizia, em uma entrevista à emissora americana CNN em julho, que não acreditava que o vencedor da corrida pela IA fosse determinante, segundo o WSJ.
O Comitê Seleto da Câmara sobre a China criticou as palavras de Huang, classificando-as como "perigosamente ingênuas" e comparando a corrida pela inteligência artificial à Guerra Fria. "Isso é como argumentar que não teria feito diferença se os soviéticos tivessem chegado primeiro à corrida nuclear", escreveu o comitê, em um comunicado.