Food and Drug Administration: agência reguladora aprovou nova versão genérica da pílula abortiva mifepristona (JHVEPhoto/Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 14h14.
Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 14h25.
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou nesta semana uma nova versão genérica da pílula abortiva mifepristona, decisão que abriu uma crise política dentro da base conservadora do presidente Donald Trump.
A medida amplia a oferta do medicamento em um momento em que opositores pressionam a Casa Branca para restringir o acesso a métodos de interrupção da gravidez, segundo informações do jornal New York Times.
O novo genérico é produzido pela empresa Evita Solutions, que afirmou em comunicado que a disponibilidade do produto “expandirá as opções das pacientes com um medicamento acessível respaldado por décadas de uso seguro”.
A mifepristona é usada em combinação com o misoprostol para a realização de abortos precoces e hoje responde por quase dois terços dos procedimentos desse tipo nos Estados Unidos, de acordo com o Washington Post.
A decisão da FDA ocorre menos de duas semanas após o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., e o comissário da agência, Martin Makary, anunciarem que revisariam a segurança do medicamento. O anúncio de aprovação, porém, foi visto como um recuo e desencadeou críticas duras do movimento antiaborto.
O ex-vice-presidente Mike Pence chamou a decisão de “traição completa” ao movimento pró-vida que, segundo ele, ajudou a eleger Trump. O senador Josh Hawley, do Missouri, afirmou ter “perdido a confiança” na liderança da FDA.
Grupos religiosos e ativistas, como a Students for Life of America (organização estudantil antiaborto dos EUA) também acusaram o governo de “ceder” em um tema central para a base conservadora. “Estamos extremamente desapontados”, disse Kristi Hamrick, porta-voz da entidade, em entrevista ao Washington Post.
Autoridades do Departamento de Saúde responderam que a FDA tem pouca margem de manobra em casos de aprovação de genéricos. “Por lei, o secretário deve aprovar um pedido se o medicamento genérico se mostrar idêntico ao de referência”, afirmou Andrew Nixon, porta-voz da pasta, ao New York Times.
Ainda assim, críticos ressaltaram que a agência poderia ter retardado o processo, como ocorreu na primeira aprovação de um genérico de mifepristona, em 2019, durante o primeiro mandato de Trump — um procedimento que levou dez anos até ser concluído. No caso da Evita Solutions, o pedido foi protocolado em 2021 e recebeu aval na terça-feira, 30.
Segundo o New York Times, apoiadores do direito ao aborto comemoraram a decisão, alegando que ela fortalece o acesso a um procedimento seguro e respaldado por evidências científicas. Já os conservadores prometeram manter a pressão sobre o governo para reverter ou restringir a medida.